domingo, 31 de julho de 2011

Foto do Pé de Cajamanga derrubado, que ficava na confluência das ruas Jose Bonifácio com Rui Barbosa.

Adeus, meu pé de cajamanga!!!


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

“Quando a última árvore for derrubada, o último peixe for pescado e o último rio secar, o homem vai descobrir que dinheiro não se come.” Começo meu texto de hoje com esse ditado indígena. Dia desses, vendo noticiário na TV, observei um desolado casal de Jardinópolis, já aparentando estar na terceira idade, lamentando a derrubada de árvores frutíferas que plantaram ao longo da vida, como jabuticabeiras, acerolas e outras espécies. As imagens mostravam-nas caídas. O repórter perguntou à senhora o que ela iria fazer, e ela, com a calma que só a experiência de vida nos dá, respondeu que iria plantar tudo outra vez. E complementou: “Só que vai demorar trinta anos para chegar no ponto em que estavam”.
Noutro dia, vi também na TV, nossos homens do Corpo de Bombeiros capturando um cachorro do mato que, no desespero de não ter o que comer, deixou seu hábitat natural e invadiu uma casa em uma cidade próxima. Era uma casa simples e ele alojou-se num pequeno banheiro, estava muito magro, aparência de assustado e de quem estava sem comer sabe-se lá há quanto tempo. Disseram que ele seria devolvido ao local de onde veio, mas e daí????
O prédio da Secretaria Municipal da Cultura, onde trabalho, é um gigante de concreto, suas janelas enormes de vidro substituem paredes e, felizmente, nos proporcionam uma vista encantadora! Localizado no Morro do São Bento, bem próximo ao Bosque Municipal, temos a alegria de ver, diariamente, no entorno, adultos pés de sibipirunas, angicos, coqueiros e ipês, onde bandos e mais bandos de pequenos pássaros, principalmente piriquitinhos, fazem seus ninhos. De ninhada em ninhada, não deixam a espécie desaparecer. Mas onde tem filhotes tem também o famigerado gavião, predador nato tentando sobreviver aqui na cidade, e para tal vive rondando ninhos alheios. Estão sempre nas pontas das árvores, loucos para também matar sua fome, ficam só de butuca, esperando um descuido dos guardiões que fazem marcação serrada. E olha que ele tenta muito, mas recua, pois esse lindo exército verdinho se enche de valentia protegendo suas moradas.
Dia desses fomos agraciados pela visita de um maravilhoso tucano. Mas, achei estranho um tucano ali, seu comportamento um tanto que amistoso, foi até fotografado inúmeras vezes, voou de galho em galho, de janela em janela como se quisesse nos dizer: “Façam alguma coisa, estou aqui por não ter com o que me alimentar de onde venho, tiraram a minha mata, meus frutos e o pouco que restou está contaminado com o veneno que aviões jogam na cana e o vento se encarrega de espalhar”.
Escrevi um texto em 2010, e como acredito que nada acontece por acaso, nele conto o reencontro com meu pé de cajamanga 59 anos depois. Ele ficava no barranco do ribeirão Preto, que passava no fundo do quintal da minha casa, via seus frutos caírem, alguns na água, outros rolavam pelo barranco. Hoje o rio está sendo alargado numa tentativa de dar fim às enchentes.
 Neste local havia uma colônia de casas de ferroviários, meu pai era maquinista e eu fui criança ali. Em frente de casa passava a linha do trem, hoje é a avenida Caramuru. Em janeiro deste ano, estava viajando quando meu filho Paulo Bueno ligou, dizendo: “Pai!!! Derrubaram o seu pé de cajamanga, até fiz algumas fotos pra você guardar de lembrança”.
E eu que achava que ele seria preservado, não me perdoava por não estar ao seu lado na hora do adeus. Contava os minutos da minha volta na esperança de ainda vê-lo antes de ser removido, mesmo que abatido e na posição horizontal. Ele que por mais de cem anos, permanecera ali, quantos pássaros dele se alimentaram, sabe-se lá quantas crianças e adultos que protegidos pela sua grandiosa sombra saborearam seus frutos.
Precisava vê-lo... e fui. Estava deitado, assustei-me com o seu tamanho, estava sendo serrado em pedaços, nem sei para o quê seria aproveitado, mas, acariciei seu tronco num gesto de despedida e gratidão... Jamais imaginando que esse seria o seu fim... Nada justo. O progresso, com a sua velocidade cada dia maior, tinha que escolher um mártir e lá se foi o meu pé de cajamanga.

* Cantor e compositor

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Feijoada da Embaixadores


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

Um antigo desejo meu era de um dia poder participar da famosíssima feijoada feita pela Dona Zica, mulher do nosso querido compositor Cartola, lá no morro da Mangueira, escola de samba carioca. Sempre lia a respeito da deliciosa caipirinha e desse prato que fazia saciar o apetite de sambistas que por ali passavam, como Ciro Monteiro, Nelson Sargento e outros bambas. Até o professor Marabini, aqui de Ribeirão Preto, já batucou naquele quintal, com a certeza de que tudo isso era regado a uma roda de samba de causar inveja...até mesmo para os menos chegados em um bom samba!
Não tive esse privilégio, não deu tempo, pois Cartola se mandou, Dona Zica também, e hoje nem se fala mais da tal feijoada da verde-rosa...
Paulinho da Viola, no seu belo samba Pagode do Vavá, enaltece o famoso feijão da Vicentina, e diz que “só quem é da Portela e que sabe que a coisa é divina, tinha gente de todo lugar no pagode do Vavá...” Paulinho ainda me deixa com água na boca quando fala sobre uma batida gostosa servida ali, cujo nome era doce ilusão e, no fim o grande Portelense, diz que “apesar das mulatas deixarem os partideiros em alvoroço nenhuma mulher ficou sem o marido”.
Chico Buarque não deixou por menos e compôs Feijoada Completa, cuja letra não deixou de fora nenhum ingrediente.  A feijoada da Portela ainda resiste a tudo e é mensal, e nela eu quero matar meu desejo, tomara que ainda dê tempo de merecer saboreá-la!!
Tudo que escrevi acima eu pude viver no último domingo, 17 de julho de 2011, na quadra da Escola de Samba Embaixadores, aqui mesmo na nossa Ribeirão Preto! Todo ano acontece ali uma concorrida feijoada, e nunca pude participar por conta de compromissos. Mas, neste ano, comprei os convites vinte dias antes, convidei Tião do Violão, meu parceiro de samba e de copo, e lá fomos nós com nosso kit de sambista: violão, cavaquinho, pandeiro e tudo para se fazer um samba de respeito, amigo!!! E, modéstia à parte, fizemos.
Na entrada, recepcionando a todos, sentado em uma confortável cadeira, vestindo sapatos brancos, calça branca, camisa da escola de um azul lindo e chapéu panamá, estava nosso querido Nascimento, o fundador da escola. Como sempre, um gentleman, esbanjando simpatia, abraçando com muito carinho a todos que chegavam, e comigo não foi diferente: sabedor de que gosto de cerveja em garrafa, quando me abraçou disse bem baixinho: “Sua cerveja está separada ali no bar com minha filha Alessandra”.
A quadra da Embaixadores é linda, e nesse dia estava mais ainda, pois o carnavalesco Markinho, talentoso coreógrafo que todo ano ergue a taça de campeão com suas fantasias e adereços, deixou fluir toda sua criatividade e talento decorando aquele reduto do samba.
Eu e Tião do Violão acomodamos os instrumentos no palco e fomos molhar a palavra no bar, que fica à direita da entrada. Alessandra botou uma gelada na caçamba, dizendo: “Buenão, essa é da diretoria”, e logo fomos rodeados de amigos sambistas como Luizinho Castro, cantor afinadíssimo, o charme da rainha da escola, o veneno da rainha da bateria e demais passistas, todos vestidos a caráter, afinal o dia prometia.
A conversa tava boa, quando passou em nossa frente a equipe que estava fazendo a feijoada, carregando aqueles enormes e pesados panelões, tipo de cozinheiros do Exército, sinal de que ia começar a comilança. A fome tava batendo na trave e o aroma delicioso nos convidava a provar a famosa feijoada da Embaixadores.
Feijoada sem samba não é feijoada. Sem vacilar, chamei meu parceiro Tião, subimos no palco e mandamos ver uma seleção de sambas da antiga. E, de repente, vi surgindo do nada parte da bateria da escola, dando-me cobertura com surdo, pandeiro e tamborim... Até o Luizinho dividiu comigo alguns sambas.
O samba atravessou a tarde, invadiu a noite e nem me lembrei que o Brasil tinha um jogo decisivo para encarar. Já pedi ao Nascimento para fazer a minha reserva para o próximo ano, essa parada não dá pra perder. Vou encarar...

* Cantor e compositor

sábado, 16 de julho de 2011

Os olhos do meu filho Lucas Bueno

Era meados de outubro de 2005, plena primavera quando recebemos em casa, uma carta do Banco de Olhos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Era um convite para mim, minha esposa Sônia e familiares para participarmos de uma missa em ação de graças que seria realizada no Santuário Nossa Senhora de Aparecida, na Avenida Portugal com a Rua Rui Barbosa.
Lembro dela antes um tanto tímida. Hoje suntuosa, sem luxo, mas tem um “Q” de aconchego que só quem a conhece pode constatar. Ela acolhe grandes amigos. Marcelo Bim, Ricardo Gonçalves, Cleto, Hamilton do Pandeiro que dão suas contribuições musicais nas missas. Até meu ídolo, Tadeu Ricci que jogou no Comercial, Vasco e Grêmio Porto alegrense, hoje também jogam nesse time.
Liguei para o amigo Cleto, publicitário aqui na cidade e ele disse que todo ano, nessa época, a igreja realiza, em parceria com o Hospital das Clínicas essa missa em ação de graças para famílias de doadores.
Nesse momento me veio à mente o local do acidente de onde foram ceifadas as vidas de dois jovens. Juliano e Lucas Bueno, meu filho, que retornavam de São Carlos onde estavam fazendo o que mais gostavam tocar e cantar.
 Eram músicos vindo de um show. Ficamos no local eu e minha esposa Sônia, das 7:15 da manhã até 10:30 tentando liberar o corpo de nosso filho.
“Violência maior não existe.” A intenção era agilizar o processo para conseguir doar todos os órgãos de Lucas que fossem possíveis. Conseguimos doar as duas córneas para duas pessoas que precisavam. Não sabemos quem as receberam.
No dia da missa nos dirigimos à igreja e a surpresa foi enorme.  O templo estava cheio, mais de duas mil pessoas. Para nós todos desconhecidos, a não serem os grandes amigos músicos.
A primeira surpresa: na entrada um “Bunner” enorme com mais de 800 nomes. Depois fiquei sabendo que se tratava dos doadores daquele ano. Percebi que estavam todos em ordem alfabética. Corri os olhos até chegar à letra “L” e encontrei o nome do meu adorado filho Lucas Eduardo de Melo Bueno. Imaginem minha emoção!
A Segunda surpresa: a multidão que povoava a igreja era formada por pessoas de todo o Brasil. Manaus, Fortaleza, Goiânia, Natal, entre muitas outras cidades. E o mais confortante. Sabia que entre aquelas estavam as duas pessoas que receberam os olhos de meu filho.
Quando a missa acabou o Padre chamou ao microfone a equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, responsável pelo Banco de Olhos e fez uma linda palestra sobre a importância da doação de córneas.
A terceira surpresa foi quando uma linda jovem ocupou o microfone. No texto, falou sobre a importância da doação de olhos. Foi aplaudida durante minutos. Ao final, ela voltou ao microfone e contou sua recente história. A mais linda da sua vida. Disse que era cega até maio do ano passado e graças ao bom senso de uma família, havia recebido a córnea de um motociclista que faleceu em um acidente. Foi emocionante!
Nem é preciso dizer qual foi à reação das milhares de pessoas que lotavam aquela igreja. Foi um coral de choro.
Ao final uma rosa foi distribuída para cada família e aquele lugar foi invadido por uma paz imensa.
Fomos para casa com a sensação de que era isso que nosso amado Lucas desejava.
Duas pessoas que estão entre nós podem ver o mundo com os olhos de Lucas. Ler um livro, admirar a natureza e o principal, olhar nos olhos de quem ama.
Seja um doador

FELIZ ANIVERSÁRIO MEU FILHO!

Querido Lucas. Nos preparamos muito para conceber você. Aos 3 aninhos de idade, seu irmão Paulo já nos cobrava a ausência de companhia para dividir com ele a alegria que reinava em nosso lar. De repente chegou a notícia tão esperada. Você ia chegar.
Só que tínhamos que esperar nove meses. Ah! Nove meses, um tempão.... mas como foi gratificante essa longa espera. Pois se tratava da chegada de um ser tão especial como você! Esperaria por uma eternidade se fosse preciso!
Quando você começou a mexer na barriga da mamãe ela logo me chamava para sentir. Era um simples toque e já podia sentir sua vida pulsar. Me perguntava, olhando nos olhos dela. Que  mulher especial é essa que tem o privilégio de gerar uma vida dentro de outra vida e me dar tanta alegria. Aquilo tudo era mágico e fascinante. As roupinhas, o enxoval, as cantigas que, ainda na barriga a mamãe já cantava para você.
O universo da casa, a rotina, as conversas. Tudo era em função da sua chegada. E a cada dia que passava, você mexia cada vez mais na enorme barriga,  mostrando que já estava louco de vontade de participar do mundo aqui fora.
Às vezes sua mãe chorava temendo não conseguir cuidar de duas crianças. E eu , esse marmanjão , que  também adora ser bajulado por ela. A concorrência era grande...
Finalmente você chegou!! Cabelos avermelhados, olhos claros, forte como um touro!
Cresceu rápido. Com um ano já andava. Tentou andar de bicicleta. Não se deu muito bem! Futebol. Apesar de amar muito o seu timão, batia de canela. Judô, escotismo também não eram sua praia. Basquete, pelas mãos do professor Gabriel, até se aventurou.
Mas foi com 8, 9 anos que descobriu , para meu orgulho sua verdadeira vocação: a música, uma das maiores paixões da minha vida, agora da sua também. Ela invadiu sua vida.  Você teve um grande mestre, o músico Pedrazzi que  o ensinou e fez que você aprendesse a partir de uma técnica invejável.
Lembro com carinho e muita saudade quando  fizemos juntos o primeiro show. Uma homenagem a João Nogueira.
Me surpreendi com tanto talento! Você tocando canções  de harmonias  um tanto que complexas.
E juntos fizemos tantos outros shows, até o último, aquele na noite mais fria de 2005. Quarenta anos de jovem guarda no Bar do Val. Você deu um verdadeiro espetáculo!
Devo dizer à você meu filho que alguma coisa  mudou desde que você partiu. A casa ficou grande demais para mim e sua mãe. Você ocupava dois quartos. Um para você dormir e o outro para seu estúdio.
Nós mudamos, e o Paulo veio para nossa casa com a Carla e seu sobrinho adorado, Luiz Roberto, que hoje ocupa o seu quarto.
Seus teclados só recentemente , tomei a difícil decisão de vendê-los.
Sabendo que, quem os comprar, irá tocar nos instrumentos de um grande músico.
Mas estou aqui escrevendo que você se foi. Mas como você se foi? Se sinto a sua presença ao meu lado todos os momentos .. não posso tocá-lo, mas sinto que sempre está perto de mim.
Às vezes sua mãe me questiona se você sabe que ela o ama tanto. Eu digo é lógico que sabe. Bastava uma ligação quando você estava distante, viajando com a banda para ela demonstrar tanta preocupação e saudade.
Às vezes me dá a impressão que você vai entrar em casa, chegando de algum lugar. Sempre com aquele mesmo jeito. “Ô de casa”.
E vamos indo meu filho. Choramos eu e mamãe pelos cantos da casa, entre árvores do lugar onde trabalho... mas a gente sabe que é saudade, uma saudade que só vai passar no dia em que finalmente nos reencontrarmos.
Enfim a vida segue como nos foi traçada. Mas o motivo maior de escrever esta carta é que onde você está, deve estar acontecendo uma grande festa.  Imagino que você deve estar cercado de grandes músicos, amigos, parentes nossos. Pessoas que também o amam.
Festeje meu filho, hoje é seu aniversário!
Um beijo do papai e da mamãe.
26 de abril de 2006.

Bueno 

SÓCRATES..... PAGOU PRA JOGAR


Vou contar hoje duas histórias envolvendo nosso Dr. Sócrates o fato de estarmos sempre juntos sou constantemente procurado por pessoas que querem me contar um fato envolvendo o magrão, mas que por receio não se aproximam dele, mas sabe que por mim ele pode tomar conhecimento, breve conto outras e olha que são muitas.
 Oscarzinho que jogou no Botafogo foi ponta direita e contemporânea do Sócrates, é Oscarzinho era um ponta super rápido daqueles que iam à linha de fundo e cruzava na medida, hoje alto funcionário dos Correios onde meu amigo Julio que toca um violão como poucos é diretor, o ex boleiro hoje pode ser visto nos finais de semana na quadra dos Bambas tocando seu surdo dando vida ao samba que ali é levado por grandes músicos com maestria.
Ele me contou que certa vez foi ao Rio de Janeiro fazer um curso e resolveu fazer uma visita ao amigo Sócrates que tinha voltado da Itália onde jogava na Fiorentina e na época mostrava seu talento no Flamengo, chegando à Gávea o porteiro não deixou Oscarzinho entrar mesmo ele dizendo que era de Ribeirão Preto, segundo o funcionário todo mundo falava que era amigo do Zico, Sócrates, mas alguém que passava ouviu a conversa chegou no alambrado gritou para magrão que estava treinando contando o fato, Dr. deixou o campo correndo foi na portaria abraçou o velho amigo deu uma dura no porteiro dizendo que sempre que chegasse alguém falando ser de Ribeirão era pra deixar entrar e levou o parceiro pra dentro depois do bate bola foram colocar o papo em dia.

Contou-me Sócrates que não conhecia o Estádio do Pacaembu, nunca tinha ido lá e o Botafogo foi cumprir tabela naquele belo campo e como fazia medicina à delegação foi na terça ficando um diretor do fogão na quarta feira na porta da faculdade com o motor do carro ligado para conduzi-lo, terminando a aula voaram para a capital, la chegando magrão desceu o motorista foi estacioná-lo e nosso craque não sabia por onde entrar para o vestiário os porteiros não o deixavam entrar dizendo que o time já ia entrar em campo e não era possível que tivessem deixado um jogador para traz, magrão comprou ingresso isso mesmo comprou ingresso entrou no estádio, mas tinha que chegar ao vestiário ai foi outra batalha para convencer os porteiros das grades que dividem as torcidas e com muita conversa conseguiu chegar ao vestiário e o time já estava pronto para adentrar o gramado.
 Sócrates vestiu a camisa oito do tricolor que o consagrou entrou em campo, fez dois gols e naquela noite em que pagou pra jogar, o Pacaembu se curvou diante daquele craque que mais tarde vestiria a camisa do Timão e seleção brasileira. 

Alguns de meus quadros







sexta-feira, 15 de julho de 2011

Butecos: quem resiste a eles?



* Bueno
buenocantor@terra.com.br

 Acreditem, mas demorei um bocado para descobrir os prazeres de um buteco. Só quando começou a minha parceria com Sócrates é que, aos poucos, fui me rendendo a esse salutar hábito de “butecar”. Aliás, assumo que esse é um dos meus verbos preferidos! Até porque, ele, o Sócrates, gosta muito de escrever poesias, ou letrar minhas melodias em mesas de bar e para tal usa o que tem na mão, quase sempre são aqueles guardanapos de papel. Tenho dezenas de poesias guardadas, nascidas enquanto “butecávamos”...
Guardo também letras de nossas músicas escritas por ele naqueles papéis em que embalam maços de cigarros. Sou chegado numa mesa de buteco, tem muito a ver com o mundo em que transito, o mundo da música! Mas, atualmente, confesso que estou meio que fora de combate, tô meio “pianinho”, tô com a bola no chão, só tocando de prima, amigo. Mas, de vez em quando, felizmente, tenho umas recaídas...
E foi no Empório Brasília do Centro que eu e Sócrates compusemos belos sambas! Assim que o Márcio abre o bar, ele coloca na parede um quadro entalhado em madeira em que está escrito: “Mesa do Dr. Sócrates”. Mas o gozado é que sempre que lá chegávamos, aquela mesa “especial” estava ocupada, geralmente por fãs do Magrão que vinham de outra cidade, na esperança de ali encontrá-lo. Numa mesa de bar se joga muita conversa dentro, e se o tiragosto for caprichado, a cerveja no ponto e um banheiro limpo, aí sim é que me amarro. E discordo do antigo dito popular de que em mesa de buteco se joga conversa fora.
Já dizia o filósofo, cantor e compositor Reginaldo Rossi na sua música Garçom: “Garçom, no bar todo mundo é igual”. O poeta Gonzaguinha escreveu e cantou também no seu samba Mesa de Bar: “Na mesa de um bar todo mundo é sempre o maior, a dona birita levanta a moral de quem tá na pior...” Vi grandes negócios serem fechados em mesa de bar. Esse recanto de lazer tem várias denominações. No Rio de Janeiro é “butiquim” ou “pé sujos”, e, nos morros cariocas o chamam de “vendinha”. Martinho da Vila até usou esse termo no belo samba Na aba do meu chapéu.
Tom Jobim e Vinicius de Morais faziam do ambiente dos bares seus escritórios e local de profundas inspirações, imortalizadas em suas belas canções. Para isso, usaram até o famoso Plataforma. Conto uma história de que estavam em um bar Tom, Vinicius e Dolores Duran, quando Tom, acompanhando-se ao violão, mostrou para os dois uma linda melodia sem letra, e como todos gostaram, combinaram de que os três fariam uma letra cada e, no outro dia, no mesmo horário, estariam ali e cada um mostraria o escrito, daí escolheriam a melhor.
No dia seguinte os três lá estavam, cada qual com uma letra, foi quando Dolores Duran pediu para mostrar a dela primeiro. Tom e Vinicius entreolharam-se concordando e ela cantou sua letra. Quando terminou, os dois, como que paralisados diante da magistral letra escrita por ela, num gesto único, amassaram suas escritas e as jogaram no lixo. Assim, ninguém ficou sabendo o que escreveram. Naquele momento Dolores Duran acabava de ser parceira de Tom na belíssima música Por causa de você”.
Outro poeta e também compositor, Noel Rosa, que se mandou pra outro “plano” ainda jovem, aos 26 anos, também butequeiro de carteirinha, até compôs o belíssimo samba Conversa de Botequim, em que aluga o garçom o tempo todo e dele até parecia ser intimo. Lendo a letra e ouvindo o samba, tenho a impressão de vê-lo nitidamente com aquele terninho básico, chapéu na mão, arrastando uma cadeira, cotovelo na mesa e o papo fluindo de uma maneira que me sinto sentado na mesa ao lado, assistindo aos pedidos do ilustre freguês.
O compositor manda logo seu primeiro pedido, já querendo forrar no estômago. “Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga à beça, um guardanapo, e um copo d’ água bem gelada”. Pelo pedido percebe-se que Noel acabara de acordar, e pelo papo parece ser fim de tarde, que para ele é madrugada, pois até o jogo já acabou e ele pede ao fiel servidor para perguntar ao ocupante da mesa ao lado o resultado do futebol, assim iniciava seu dia etílico, ou melhor dizendo, sua noite etílica...
Fechando o samba, o brilhante Noel ainda pede ao garçom algum dinheiro porque deixou o dele com o bicheiro e arremata mandando o gerente pendurar a conta no cabide ali na frente. Coisas de Noel, coisas de buteco...

* Cantor e compositor

domingo, 10 de julho de 2011

FIZ SESSENTA E AGORA ?

Nossa ! Como o tempo passou, nasci outro dia e já estou fazendo sessenta, a partir de 18 de outubro de 2007 passo a ser sexagenário, parece brincadeira que já vivi meio século e dez anos, más fazendo uma retrospectiva de minha vida lembro de ter me apaixonado por uma menina de nove anos, eu tinha doze, coisa de criança, passou o tempo me apaixonei por uma de doze, eu tinha quinze, coisa de adolescente, depois me apaixonei por uma super gata de quinze anos eu tinha vinte e dois, promessa de um grande amor, hoje estou loucamente apaixonado por uma belíssima mulher de cinqüenta e três anos e eu com sessenta, coisa de amor maduro, mas essa linda mulher esta comigo desde os quinze anos, portanto há trinta e sete anos, coisa rara hoje em dia, ela me presenteou com dois filhos maravilhosos, com ela atravessei um oceano de calmaria, também mares revoltos, nos melhores momentos de minha vida ela estava ao meu lado me apoiando, me incentivando e no pior, lá estava  ela, me levantando e mostrando que a vida continuava, que apesar de tudo tínhamos que seguir em frente cumprindo a missão, para nós reservada por Deus.
Mas voltando ao motivo do texto não vou dizer que sou saudosista, acho que minha geração teve alguns privilégios, senão vejamos: Vi Garrincha jogar com suas pernas tortas que até confundia o adversário,vi Pelé jogar nos estádios, Luiz Pereira e no Costa Coelho onde Carlos César craque comercialino,nosso canhotinha de ouro bailava com maestria,  vi um gol seu contra o Bahia de escanteio, eu estava no canto da arquibancada de madeira, portanto nas suas costas, acompanhei toda a trajetória da bola que deixou o goleiro doidinho, no mesmo Costa Coelho vi um show de bola dos irmãos Ricci,Tadeu Ricci e Mario Augusto Ricci, tempos depois Tadeu levou o Grêmio Portoalegrense a vários títulos, vi a seleção de setenta ser Tri, vi o timaço do Comercial de1966 também o do Botafogo de 1977, vi o começo da carreira de Sócrates, meu amigo, parceiro musical e afilhado o qual agradeço sempre a Deus por tê-lo colocado em meu caminho, a gente lotava o estádio Santa Cruz num jogo insignificante, só pra não perder a magia de suas jogadas que só gênios como ele podem criar em milésimos de segundos, vi a seleção de 1982 que não esqueço a escalação, ao passo que depois dela tivemos duas seleções campeãs que preciso forçar a memória um bocado para lembrar o nome de dois ou três jogadores, não chegando aos pés daquela  que encantou o mundo.
Na área musical vi surgir um ritmo que balançou o mundo, esse tal de Rock and Rol com ele o imortal Elvis Presley, vi nascer a bossa nova, a jovem guarda que nas tardes de domingo segurava o Brasil em frente a tv, vi nascer e morrer os Beatles, vi Alvarenga e Ranchinho, Tião Carreiro e Pardinho, vi surgir o maior poeta musical Chico Buarque, vi, Vinicius de Moraes, enfim vi ídolos que até hoje são festejados pelo nosso país, os ídolos de hoje duram três meses e somem, a geração de meu neto hoje com 11 anos vai crescer sem referência musical,descartando seus ídolos, renovando-os com a mesma rápidês com que cheguei aos sessenta.
Fazer sessenta não é mole não amigo, veja bem e assistindo tv semana passada vi meu amigo promotor público Dr. Carlos César, acho até que seu nome foi em homenagem ao craque citado acima pois é comercialino de carteirinha, Dr. Carlos César faz parte de uma geração de jovens promotores que está mudando a cara do Brasil, vendo seu programa ele dizia que os sessentões tinham vários direitos mas poucos sabiam,como eu estava com a idade batendo na trave, me liguei nos esclarecimentos,direitos como, viajar de ônibus duas pessoas de graça, bastando provar o baixo salário,  ou pagar metade da passagem se os lugares reservados aos idosos estivessem ocupados,direito de não ficar em filas enormes, direito de meia entrada no cinema e existem outros direitos que não me lembro agora mas vou me informar e tentar fazer valer meus direitos de sessentão.
 Se hoje a neve tinge meus cabelos, meus movimentos não são tão rápidos como antigamente, a barriga insiste em não diminuir, tenho a compensação de muitas coisas novas aflorarem, me fazendo estar em processo de criatividade constante, compondo, escrevendo, cantando, amando a vida e a música mais do que nunca, continuo fazendo amigos novos enfim fazendo o que me da prazer.
Encerro o texto de hoje contando um fato que aconteceu no ultimo final de semana no Guarujá, estava com meu amigo também sessentão José Luiz Del Lama e seus dois netinhos, Vinicius e Vitória num super mercado famoso, o avô coruja procurou  o caixa dos idosos, não tinha, eram minutos antes das oito da manhã, a fila era única, pessoas com carrinhos cheios, as crianças estavam incomodadas, Zé Luiz procurou um funcionário e reclamou, em fração de segundos abriram um caixa e solucionou o problema, descobri ai mais uma vantagem do sessentão.
Aos amigos sessentões meu carinho.

Bueno cantor e compositor
buenocantor@terra.com.br 

AS MULHERES DA MINHA VIDA

Entre é pau é pedra é o fim do caminho como diria o poeta Tom Jobim, mês em que as águas de março fecham o verão, e dia oito comemoramos o dia internacional da mulher, fiz aqui uma retrospectiva de minha história e cheguei a conclusão que passaram pela minha vida algumas das mulheres mais lindas do mundo, mulheres valentes, mulheres guerreiras, mulheres adoradas. Ainda adolescente guardava minhas economias para ver no cinema uma delas......... SOFIA LOREN e quando ela aparecia na tela com seu decote exuberante, seu lábio carnudo, seu porte de rainha, era o maior auê amigo e eu na minha inocência achava que ela era minha, não me dava conta de que a rapaziada da minha idade pensava da mesma forma, não perdia um só filme seu e os sonhos povoavam meus pensamentos, recentemente a vi na tv, continua linda.               A brasileira Vera Fischer quando surgiu no meio artístico também balançou o coreto depois fez com que o encanto se perdesse. No campo da música me vem na lembrança as cantoras da jovem guarda onde destaco Vanderlea que era quase que uma irmã que a gente queria proteger, depois veio Elba Ramalho cheia de veneno cantando “Eu quero banho de cheiro......... ela é o agito em pessoa, na sua banda toca um grande amigo meu Jacaré aqui de Ribeirão Preto. Na tv e cinema nacional uma das minhas eleitas mais recentes é Débora Secco que acho a sensualidade em pessoa.
       Bem voltemos então ao mundo real e vamos falar desse ser que merece homenagens todos os dias, ela que tem o privilégio de gerar outra pessoa só pode ser escolhida por Deus!
       A Mulher!
O antigo dito popular “Por traz de um grande homem, há sempre uma grande mulher”, na minha opinião precisa ser revisto. “Na frente de um grande homem é que esta uma grande mulher”mas a coisa esta voando numa velocidade tal, com as mulheres conquistando espaços nunca antes imaginados que o tal dito popular, muito em breve pode acontecer de ser o avesso do avesso como diria Caetano Veloso “ Por traz de uma grande mulher esta um simples homem”. De repente até nossa cidade pode vir a ser governada por uma grande mulher.
     Ultimamente a vida tem me aproximado de mães maravilhosas, mães de seres humanos excepcionais, mães de filhos doentes, mães de filhos acidentados vivendo como se vegetasse, vendo quadros assim, só tenho que enaltecer a mulher.Fui fazer uma visita no cantinho do céu, com o que vi até comecei a compor uma canção, entre varias crianças uma se arrastava pelo chão olhando sua mãe a lhe cuidar, lhe dando amor, mas um amor incomum, olhei aquela cena e pensei, que mãe! Que mulher!
     Outra mulher de fibra e que tinha o nome da mais linda das flores era minha mãe ROSA, pequenos olhos verdes dividia seu amor com seis filhos e meu pai,minha mulher que agradeço ao pai maior pelo presente, também tem tudo que acima escrevi e muito mais me deixando dúvidas se a dor é mais forte que o amor.
     A música de Erasmo Carlos e Narinha, Sexo Frágil diz no fim. Mulher, mulher que barro de você foi gerada, respondo aos dois, de um barro criado e amassado por Deus.

Bueno cantor e compositor
buenocantor@terra.com.br

sábado, 9 de julho de 2011

Uma visita de meu filho Lucas


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

Na rua João Ribeiro, entre a avenida da Saudade e a Luiz Barreto, está localizado o Centro Espírita Pão dos Pobres. Tem este nome porque, todas as tardes, distribui centenas de pães para os menos favorecidos. Tenho muita amizade com Arlinda, uma das responsáveis pelo centro. Ela é uma médium vidente fantástica,  sua vidência é tamanha que às vezes ela mesmo se confunde de que lado está, em qual plano...
Estive lá certa vez em um evento, foi quando soube que em suas dependências existia também uma radio FM comunitária, a Educativa, a única autorizada legalmente pelo Ministério das Comunicações. É uma rádio que toca repertório seleto, nada de pagode, axé ou música de duplo sentido, que é o que mais se toca por aí. Prioriza valores familiares. Seus locutores me pediram que levasse CDs de músicos de nossa cidade e passaram a tocar nossos cantores.
Meus amigos João e Sueli tem um programa musical todo sábado, das 8 às12 horas, e sempre me convidavam para uma participação ao vivo, mas compromissos impediam-me de ir. Entretanto, numa sexta-feira, João me deu uma intimada, tipo: “Buenão, não quero nem saber, amanhã de manhã espero por você na rádio”. Então, intimado, eu dei uma geral nos compromissos e bati o martelo confirmando presença. Ele alertou-me de que a entrada da emissora mudou para a rua lateral.
Na manhã seguinte lá estava eu, tive dificuldades para achar uma vaga para estacionar, havia muita gente, algo acontecia no centro espírita e eu nada sabia. João e Sueli receberam-me dizendo que já haviam tocado varias músicas minhas e, assim que me acomodei, os ouvintes começaram a ligar, falando de meu filho Lucas que havia partido, mas ninguém o esquecia, e assim, a emoção foi me invadindo. A cada canção pedida, e que meu filho havia tocado comigo, não conseguia conter as lágrimas... Até que, por volta de 11 horas, uma senhora bateu insistentemente naquele vidro enorme do estúdio dando sinal para que eu a acompanhasse.
Ela disse: “Rápido, venha comigo”. E eu, sem nada entender, a segui por alguns corredores e quando vi estava entrando em uma sala enorme do centro espírita, com vários médiuns concentrados, entre eles o snhor Paulo, médium de Campinas que estava ali realizando cirurgias espirituais. Mandaram-me sentar e ele perguntou-me se eu estava em sua palestra, falei que estava na rádio, ele nem sabia da existência de uma radio ali, foi quando Arlinda disse: “Paulo, pode consultá-lo, pois mandaram buscá-lo”. Vejam bem: “Mandaram buscá-lo”.
O senhor Paulo, após rápida consulta, disse que ia operar minha coluna e eu que sofria com uma dor na região que até para calçar meus sapatos tinha dificuldade. Fui operado e curado, a cirurgia sem cortes e sem sangue durou segundos... Ele recomendou-me repouso, nada de carregar pesos, subir escadas por uma semana...
Já estava de saída quando Arlinda falou, sorrindo: “Bueno, quem mandou buscá-lo foi o Lucas”. Meu corpo ficou arrepiado, e, chorando, agradeci: “Meu Deus!!! Muito obrigado, meu filho veio me ver, veio ajudar-me”. E ela disse mais:  “Ele está aqui sentado do meu lado”. Do lado dela havia uma cadeira vazia, eu olhava aquela cadeira, não podia vê-lo mas ele estava ali, foi quando ela complementou: “Lucas está pedindo para que você cante a música que fez pra ele, quando ele tinha dois anos”. Dá pra imaginar o que senti naquele momento? Essa música, “Cabelos da cor do sol, olhos da cor do mar”, compus porque Lucas, com dois aninhos, era um anjo de olhos verdinhos e cabelos de um amarelo lembrando o sol. Ninguém conhecia essa música, somente eu e minha esposa, a não ser em casa poucas vezes a cantei.
Atendendo seu pedido a cantei chorando e todos os presentes choraram comigo. Acostumado a fortes emoções, posso garantir que essa foi demais!! Agradeço a Deus sempre por ter vivido esse grande presente e só sei que, descendo a avenida da Saudade a caminho de casa, me sentia flutuando, tamanha era a minha leveza. Lucas já me enviou três mensagens psicografadas que só me fizeram bem. Obrigado, meu filho, meu eterno amor!!

* Cantor e compositor

Batom no carro... que roubada!!!


 * Bueno
buenocantor@terra.com.br

Meu amigo, quando você comprar um carro usado, fuce em tudo, revire gavetinhas, porta-luvas, olhe até debaixo dos bancos e tapetes para não acontecer uma roubada igual a que se meteu meu grande amigo Tião do Violão.
Veja essa: Tião do Violão é um tipo popular, muito querido nas rodas musicais e que em companhia de seu pinho vive entre cantorias e serestas. Sujeito bem casado há mais de trinta anos, sua primeira-dama, além de muito bonita, faz parte de uma safra rara de mulheres. Pintou uma oportunidade e eles tro­caram o carro. Tião adora música, mas ao tocar seus CDs pre­­diletos notou que lá pela quinta ou sexta faixa surgiamruídos de­gradáveis e pulava de música. Então resolveu dar uma passa­da no seu amigo Adalberto da Trissom, e e foi avisado que o to­ca-CD teria de ficar na loja por um dia.
Numa bela quinta-feira, a esposa do Tião viajou e voltou na sex­ta. Logo pela manhã, ele passou na Trissom, retirou o apare­lho e à tarde voltou para reinstalá-lo. O funcionário não conse­guia passar certo fio por trás do painel, e teve que desmontar a frente do console. Ao fazer essa operação, notou que o cinzeiro estava emperrado. Ele tentou, mexeu, remexeu até que des­co­briu o que impedia a abertura da gavetinha: um batom enor­me, em uma embalagem de um azul lindo e com enfeites dou­ra­dos. Tião, na inocência, colocou-o naquela parte do console em que deixamos moedas e pequenas bugigangas.
O som ficou show de bola e Tião, cheio de graça, saiu por aí ou­vindo Chico, João Nogueira e seus demais ídolos. Sexta à noi­te sua musa já estava na área. Sábado pela manhã foram dar um rolê. Tião colocou pra tocar um CD da Maria Bethãnea que a esposa adora, ela elogiou o som e até cantou junto... o fim de semana prometia ser de Romeu e Julieta.
Mas eis que, de repente, ela dá uma geral e ao ver o tal ba­­tom, solta um sonoro grito... “Que batom é esse???” Ele, que nunca foi de reparar nessas coisas femininas, devolveu na maior tranquilidade: “É seu, amor”. E ela:: “Meu???? Mas como meu?????!!! Desde quando eu uso batom Payot??? Você tá cansado de saber que só uso batom da Natura!!!” A “metralha­dora” mirava a cabeça do pobre Tião e não parava de disparar. E a munição não acabava.“Bastou eu sair pra você colocar outra no carro!!! E pela cor (o batom era de um vermelho escandaloso) devia ser de uma perua federal!!!”
Coitado do Tião... que roubada!!! Quando ela parava para tomar fôlego, ele tentava contar a história, mas de nada adiantava. E a Trissom não abre aos sábados para acertar o qüiproquó.
O agito do fim de semana virou terremoto, amigo. Barraco no chão. Na segunda-feira bem cedo, ela foi a Trissom, o funcionário lhe narrou a mesma história contada pelo Tião, só sei que nem essa testemunha ocular da tragédia convenceu sua primeira-dama e ela fez questão de deixar o malfadado batom no mesmo lugar.
Dia desses cruzei com o Tião numa roda de samba e perguntei: “E aí Tião, a historia do batom zerou???” E ele:“Que nada, Buenão. Ela não me deixa tirar o batom dali de jeito nenhum, tá sempre me enquadrando. E sabe que outro dia nós saímos, ela esqueceu de passar seu batom preferido e, baixando o espelhinho do quebra-sol do carro, disse: ‘Vou passar o batom de sua amante’” Tião, na brin­ca­deira, disse: “Nossa !!! Que bocão... Pra quê, Buenão!!! Começou tudo outra vez... Ela perguntou se eu estava me lembrando da outra, e lá veio tiroteio, patati, patata...”
Batom no carro, que perigo.

* Cantor e compositor

Casório moderno


* Bueno
buenocantor@terra.com.br 

Tirei do guarda-roupa meu terno preto que há tempos estava encostado – acho que há dois anos. Embora esta vestimenta me deixe um tanto elegante, prefiro camisa estampada ou listrada, sapato branco e meu inseparável chapéu panamá, mas a ocasião não me permitia comparecer como gosto. O local era super-requintado e para tal tinha que me produzir à altura do amigo que ia se “enforcar” pela segunda vez – a noiva dele encarava seu terceiro casório. Sobre o encontro dos dois, até que tenho certa participação, pois estava com meu violão cantando o que gosto, num bar do centro, em companhia do noivo e mais dois amigos, quando a noiva chegou com uma amiga e foi aquele negócio: olho no olho, altos papos, gosto musical batendo e tudo acabou em pedido de casamento.
Voltando ao terno, na ultima vez que o vesti foi num casamento em São José do Rio Preto, e naquele dia, não sei como, na pressa não percebi que a calça não era da mesma cor do pa­letó. Minha primeira-dama sacou algo anormal já dentro da igre­ja, com o casamento em pleno andamento, passando a mão na textura do tecido. Ao sentir a diferença, no tato, falou no meu ouvido. baixinho: “Você está com a calça desigual do paletó!!! Como você explica isso???” Eu, com a maior cara de paisagem, não sabia como justificar esse mico. E o padre lá na frente, naquele momento crucial: “Se há algo que impeça esse matrimônio...”E ela me enquadrando, fazer o quê? Fui assim pra festa, mas a pergunta não cala: como essa calça foi parar no meu cabide??? Será que eu estava sóbrio???
Desta vez não teve erro, terno preto impecável, minha esposa toda feliz conferiu tudinho, até tentei colocar um chapéu, mas ela me deu cartão vermelho. E lá fomos nós.
Na entrada, a recepção foi ao som de um violino bem tocado, convidados quase todos com terno da cor do meu, parecíamos um bando de pinguins sentados. Casamento marcado para as 20h30, música rolando, casais atrasados levando o maior susto e maridos culpando suas esposas. Eis que soam as trombetas e entra o noivo, já batendo na casa dos 50, com bem menos cabelos de quando o conheci – a neve pintou sua cobertura.
Pastor a postos, marcha nupcial, noiva pisa no tapete vermelho, orquestra ataca com a belíssima cançãoSmile, de Charlie Chaplin. O religioso leva aquele lero e passa a bola para o noivo, que tira de letra, conta até a história do bar. Colocam alianças com juras de amor e saem de braços ao som de Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinicius de Morais.
O regabofe rolou legal e eu, que estava fora de combate havia três meses, na maior lei seca bati um bolão, muito feliz com a felicidade do casal. Cheguei em casa e procurei não misturar roupas pra não dar mais qüuproquó.
O domingo amanheceu com um sol lindo me empurrando para sair de casa, e lá fui eu como gosto, bermuda branca, camisa listrada, sapato branco e meu chapéu panamá. Terno preto, sei lá quando.

* Cantor e compositor

O calcanhar de Sócrates.


* Bueno
buenocantopr@terra.com.br

Antes tarde do que nunca, diz um velho ditado. Lembrei-me dele, e lembrei-me também de um samba de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, Quando eu me chamar saudade, em que, num trecho da letra, o personagem reclama, dizendo: “Sei que amanhã, quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha bom coração, alguns até hão de lembrar querendo me homenagear fazendo de ouro um violão, depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora, por isso é que penso assim, se alguém quiser fazer por mim, que faça agora, me dê às flores em vida”. Escrevi a letra até aqui para poder entrar no meu texto de hoje.
“Me dê as flores em vida...” Acho essa frase genial, escrita num momento em que os dois autores andavam meio que esquecidos, na maior pindaíba, grana só quando um amigo como Carlinhos Vergueiro os convidava para participar de seus shows, assim podiam ganhar algum.
Dias atrás, vendo TV, fui pego de surpresa: os pés de Sócrates estavam passando para a história do futebol. Pois é, o Magrão, dentro da grandiosidade do esporte favorito dos brasileiros, estava recebendo essa homenagem. E ele não deu um toque pra ninguém desse fato, até porque o Doutor não avisa quando vai receber uma homenagem ou participar de algum evento como esse. Assim é Sócrates, simples como simples sempre foi sua vida. Sócrates é despojado de qualquer bem material.
Eu, como seu parceiro, compadre e amigo, vendo Sócrates colocar seus famosos pés naquele quadrado de acrílico da Calçada da Fama do Maracanã, senti-me orgulhoso. O repórter ainda falou da magia de seus pés, dando ênfase ao seu calcanhar que era o terror das defesas inimigas e enchia os olhos de quem gostava do verdadeiro futebol.
Perguntaram ainda a Sócrates se ele tinha saudade dos velhos tempos, disse ele que sente saudade do futebol praticado no seu tempo e que hoje é só correria, preparação física... Quem sou eu pra discordar do Doutor!!!
Quando a TV mudou a noticia, estava só em minha sala, daí danei a pensar em nossas andanças e me bateu enorme saudade do parceiro que hoje mora em São Paulo, saudade do companheiro de tantas madrugadas!!! Quantas boemias!!! Nossos papos que varavam a noite, causos e mais causos, das canções que a gente compôs no Empório Brasília, em que eu, de violão em punho, levava a melodia pronta para que Sócrates as letrasse. As pessoas próximas acompanhavam loucas para ver mais um samba acabado, e tanto ouvirem pedaços e mais pedaços, acabavam até por decorar a letra, e no fim cantavam juntas.
Dos telefonemas que dava para os amigos da seleção de 1982, que ele dizia amar como sua segunda família, principalmente Leandro, grande lateral e que hoje tem uma pousada em Cabo Frio, Sócrates falava muito com ele e quando desligava dizia adorar Leandro, a quem chamava carinhosamente de Léo.
Tenho prontas algumas canções para Sócrates letrar, só estamos esperando uma brecha em sua agenda, que ultimamente está lotada. Daí numa mesa de um bar qualquer, algumas cervejas, uma caneta, um pedaço de papel e a gente entra em processo de criação e quem sabe num lampejo ele use sua mão como fosse seu genial calcanhar e um novo samba possa até nascer.

* Cantor e compositor

Paulo Finotti... O anjo do meio ambiente.


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

Você conhece Paulo Finotti? Não??? Olha, você precisa conhecê-lo, nunca vi um ser humano mais doce para um bom bate-papo na mesa de um bar, papo tão bom que no sábado passado, se minha primeira-dama não ligasse, nem sei que a que horas sairia do bar em que estávamos. Ele é engenheiro ambiental, profundo conhecedor de tudo que se relaciona com o meio ambiente, defensor ferrenho do nosso planeta, e sobre isso escreve com frequência em vários jornais e revistas do Brasil. Todo sábado, está aqui, no nosso Tribuna.
Paulo mora no Jardim Irajá, segundo ele o pedaço mais verde da cidade, em frente ao Bar do Jacaré. Quem mora nesse paraíso? Perguntava-me quando ia almoçar naquele bar com a família, por ser muito concorrido é difícil estacionar, mas o guardador de carros do local dizia: “Pode colocar aí nessa guia rebaixada que o morador não vai sair”, como se conhecesse os hábitos desse ermitão urbano. Soube há pouco tempo que, por detrás daquele muro alto, uma área super-sombreada, se esconde Paulo Finotti e família. Surpreso, até falei: “Tinha que ser ele!!!”
Paulo costuma escrever seus textos numa das mesas do Bar do Jacaré e sempre levava uma extensão enorme para ligar seu laptop. Entre uma gelada e outra, faz do bar seu  escritório, o qual apelidou de “senadinho”. Jacaré, como bom comerciante, numa jogada de mestre tratou logo de adaptar ali uma tomada, deixando Paulo todo prosa.
O escritor Barbosa, presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas, organiza, em todo último sábado do mês, um almoço para que todos os sócios coloquem a conversa em dia. Em 28 de maio lá estávamos nós, em mais ou menos uns vinte, que após se alimentarem foram se mandando. Nós ficamos: eu, que adoro ouvir causos, e Paulo Finotti, bom contador, titular em a qualquer mesa de roda de prosa, e Barbosa, chegado num boteco de um tanto que já escreveu três livros falando sobre este recanto venerado pelos apreciadores da água que passarinho não bebe.
Barbosa, com aquele sorriso cativante em que mostra todas as teclas de seu piano, de repente falou: “Paulo, você vai ao velório do boi?” Paulo tava descansando seu copo, após uma bela golada, e respondeu que ainda não havia comprado o convite. Nessa eu entrei no papo. Desde quando se precisa de convite pra velório, achando que “boi” era apelido de algum chegado que tinha se mandado. Os dois responderam numa só voz: “É um boi no rolete, Buenão”.
Caramba, eu com tanta quilometragem de boteco não tinha sacado essa. E o papo rolava,  olhava Paulo e disse que ele se parece com Paulo Vanzolini, cientista, biólogo, autor de Ronda e bom de boteco também. Comentei com ele que no último mês de março, de férias em Fortaleza, conheci Antonio, de Goiânia, que tocou Carinhoso, de Pixinguinha e Braguinha, com uma pequena folha de não sei o quê, e que foi super-aplaudido por um público pequeno, mas muito barulhento. Nesse momento Paulo abriu a camisa, surgindo um cordão pendurado em seu pescoço com várias coisas. Dentre elas, tirou uma minúscula gaita de apenas quatro buracos e mandou ver também Carinhoso com maestria. Claro que tirei meu chapéu pra ele, amigo, e foi aquele auê no bar.
Paulo, feliz como criança, falou: “Olha, gente, tô numa idade que tem coisas que não quero nem saber. Por exemplo: não faço mais baliza, não gosto de manobrar carro, não dou ré porque dá muito trabalho ficar medindo distância, chega de cálculos, só vou tocando em frente. Subo na laje de minha casa, fico entre pés de mangas coquinho e bourbom e vou descansar em minha cadeira de sossego. Quando acaba a cerveja, pra não ter o trabalho de descer escadas, adaptei um cesto em uma linha de vara de pescar. Daí, com o auxilio de quem estiver em baixo, reponho meu estoque rapidinho.”
Olha, se tiver vontade de conhecer essas personalidades, vou te dar uma dica: o Barbosa você encontra pela cidade vendendo seus livros, Paulo viaja muito, mas, de repente, entrando no Bar do Jacaré, num cantinho você vaiu ver um cara com um laptop, uma cerveja do lado, pode chegar que será muito bem vindo... É Paulo Finotti.

* Cantor e compositor