sexta-feira, 22 de julho de 2011

Feijoada da Embaixadores


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

Um antigo desejo meu era de um dia poder participar da famosíssima feijoada feita pela Dona Zica, mulher do nosso querido compositor Cartola, lá no morro da Mangueira, escola de samba carioca. Sempre lia a respeito da deliciosa caipirinha e desse prato que fazia saciar o apetite de sambistas que por ali passavam, como Ciro Monteiro, Nelson Sargento e outros bambas. Até o professor Marabini, aqui de Ribeirão Preto, já batucou naquele quintal, com a certeza de que tudo isso era regado a uma roda de samba de causar inveja...até mesmo para os menos chegados em um bom samba!
Não tive esse privilégio, não deu tempo, pois Cartola se mandou, Dona Zica também, e hoje nem se fala mais da tal feijoada da verde-rosa...
Paulinho da Viola, no seu belo samba Pagode do Vavá, enaltece o famoso feijão da Vicentina, e diz que “só quem é da Portela e que sabe que a coisa é divina, tinha gente de todo lugar no pagode do Vavá...” Paulinho ainda me deixa com água na boca quando fala sobre uma batida gostosa servida ali, cujo nome era doce ilusão e, no fim o grande Portelense, diz que “apesar das mulatas deixarem os partideiros em alvoroço nenhuma mulher ficou sem o marido”.
Chico Buarque não deixou por menos e compôs Feijoada Completa, cuja letra não deixou de fora nenhum ingrediente.  A feijoada da Portela ainda resiste a tudo e é mensal, e nela eu quero matar meu desejo, tomara que ainda dê tempo de merecer saboreá-la!!
Tudo que escrevi acima eu pude viver no último domingo, 17 de julho de 2011, na quadra da Escola de Samba Embaixadores, aqui mesmo na nossa Ribeirão Preto! Todo ano acontece ali uma concorrida feijoada, e nunca pude participar por conta de compromissos. Mas, neste ano, comprei os convites vinte dias antes, convidei Tião do Violão, meu parceiro de samba e de copo, e lá fomos nós com nosso kit de sambista: violão, cavaquinho, pandeiro e tudo para se fazer um samba de respeito, amigo!!! E, modéstia à parte, fizemos.
Na entrada, recepcionando a todos, sentado em uma confortável cadeira, vestindo sapatos brancos, calça branca, camisa da escola de um azul lindo e chapéu panamá, estava nosso querido Nascimento, o fundador da escola. Como sempre, um gentleman, esbanjando simpatia, abraçando com muito carinho a todos que chegavam, e comigo não foi diferente: sabedor de que gosto de cerveja em garrafa, quando me abraçou disse bem baixinho: “Sua cerveja está separada ali no bar com minha filha Alessandra”.
A quadra da Embaixadores é linda, e nesse dia estava mais ainda, pois o carnavalesco Markinho, talentoso coreógrafo que todo ano ergue a taça de campeão com suas fantasias e adereços, deixou fluir toda sua criatividade e talento decorando aquele reduto do samba.
Eu e Tião do Violão acomodamos os instrumentos no palco e fomos molhar a palavra no bar, que fica à direita da entrada. Alessandra botou uma gelada na caçamba, dizendo: “Buenão, essa é da diretoria”, e logo fomos rodeados de amigos sambistas como Luizinho Castro, cantor afinadíssimo, o charme da rainha da escola, o veneno da rainha da bateria e demais passistas, todos vestidos a caráter, afinal o dia prometia.
A conversa tava boa, quando passou em nossa frente a equipe que estava fazendo a feijoada, carregando aqueles enormes e pesados panelões, tipo de cozinheiros do Exército, sinal de que ia começar a comilança. A fome tava batendo na trave e o aroma delicioso nos convidava a provar a famosa feijoada da Embaixadores.
Feijoada sem samba não é feijoada. Sem vacilar, chamei meu parceiro Tião, subimos no palco e mandamos ver uma seleção de sambas da antiga. E, de repente, vi surgindo do nada parte da bateria da escola, dando-me cobertura com surdo, pandeiro e tamborim... Até o Luizinho dividiu comigo alguns sambas.
O samba atravessou a tarde, invadiu a noite e nem me lembrei que o Brasil tinha um jogo decisivo para encarar. Já pedi ao Nascimento para fazer a minha reserva para o próximo ano, essa parada não dá pra perder. Vou encarar...

* Cantor e compositor

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