sábado, 9 de julho de 2011

Casório moderno


* Bueno
buenocantor@terra.com.br 

Tirei do guarda-roupa meu terno preto que há tempos estava encostado – acho que há dois anos. Embora esta vestimenta me deixe um tanto elegante, prefiro camisa estampada ou listrada, sapato branco e meu inseparável chapéu panamá, mas a ocasião não me permitia comparecer como gosto. O local era super-requintado e para tal tinha que me produzir à altura do amigo que ia se “enforcar” pela segunda vez – a noiva dele encarava seu terceiro casório. Sobre o encontro dos dois, até que tenho certa participação, pois estava com meu violão cantando o que gosto, num bar do centro, em companhia do noivo e mais dois amigos, quando a noiva chegou com uma amiga e foi aquele negócio: olho no olho, altos papos, gosto musical batendo e tudo acabou em pedido de casamento.
Voltando ao terno, na ultima vez que o vesti foi num casamento em São José do Rio Preto, e naquele dia, não sei como, na pressa não percebi que a calça não era da mesma cor do pa­letó. Minha primeira-dama sacou algo anormal já dentro da igre­ja, com o casamento em pleno andamento, passando a mão na textura do tecido. Ao sentir a diferença, no tato, falou no meu ouvido. baixinho: “Você está com a calça desigual do paletó!!! Como você explica isso???” Eu, com a maior cara de paisagem, não sabia como justificar esse mico. E o padre lá na frente, naquele momento crucial: “Se há algo que impeça esse matrimônio...”E ela me enquadrando, fazer o quê? Fui assim pra festa, mas a pergunta não cala: como essa calça foi parar no meu cabide??? Será que eu estava sóbrio???
Desta vez não teve erro, terno preto impecável, minha esposa toda feliz conferiu tudinho, até tentei colocar um chapéu, mas ela me deu cartão vermelho. E lá fomos nós.
Na entrada, a recepção foi ao som de um violino bem tocado, convidados quase todos com terno da cor do meu, parecíamos um bando de pinguins sentados. Casamento marcado para as 20h30, música rolando, casais atrasados levando o maior susto e maridos culpando suas esposas. Eis que soam as trombetas e entra o noivo, já batendo na casa dos 50, com bem menos cabelos de quando o conheci – a neve pintou sua cobertura.
Pastor a postos, marcha nupcial, noiva pisa no tapete vermelho, orquestra ataca com a belíssima cançãoSmile, de Charlie Chaplin. O religioso leva aquele lero e passa a bola para o noivo, que tira de letra, conta até a história do bar. Colocam alianças com juras de amor e saem de braços ao som de Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinicius de Morais.
O regabofe rolou legal e eu, que estava fora de combate havia três meses, na maior lei seca bati um bolão, muito feliz com a felicidade do casal. Cheguei em casa e procurei não misturar roupas pra não dar mais qüuproquó.
O domingo amanheceu com um sol lindo me empurrando para sair de casa, e lá fui eu como gosto, bermuda branca, camisa listrada, sapato branco e meu chapéu panamá. Terno preto, sei lá quando.

* Cantor e compositor

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