sexta-feira, 28 de junho de 2013

Maluco beleza

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Nesta minha crônica de hoje, quero prestar uma homenagem a um dos meus ídolos do meio musical, o velho Raul Seixas, que faria aniversário hoje, 28 de junho. No lindo samba Súplica, de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro, tem uma frase que sempre uso quando me refiro a alguém que nos deixou, algo que não vai morrer: O nome a obra imortaliza.
Pois é, meu querido Raul, esta frase  “o nome a obra imortaliza” cabe perfeitamente pra você, que viajou em 21 de agosto de 1989 e nem percebi, não percebi porque você está mais vivo que muitos que pensam que estão, sua obra é de tamanha magnitude que todos os dias, em qualquer canto deste nosso imenso Brasil, tem um cantor honrando o que escrevo.
Eu não o conhecia até ouvir Ouro de tolo pela primeira vez, isso em 1973, e fiquei paradaço, analisando a música que era diferente de tudo. A letra, então, saía do lugar comum, principalmente o final, em que fala: Eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar..”.
Meu, quando ouvi isso, disse: “Este cara está muito na frente de todos nós”. Na hora o elegi como um de meus ídolos e vejo que não me decepcionei, porque vieram outras pérolas cantadas por ele, por exemplo, o Rock das aranhas, em que retrata uma cena de lesbianismo já naquela época, diz que olhou por sobre um muro e viu duas mulheres colocando suas aranhas pra brigar.
Sempre que me refiro a Raul, digo que ele foi o maior roqueiro brasileiro de todos os tempos, foi um dos pioneiros do gênero. Na minha opinião, se fosse um cantor inglês ou americano estaria no mesmo nível de Bob Dylan.
Como esquecer Sociedade alternativaMosca na sopaTrem das sete... estas músicas estão sempre sendo regravadas e quem não as conhece pensa que é coisa nova, tanto pelas letras como pela qualidade musical, suas linhas melódicas eram diferentes das demais.
Raul tinha suas fases de ostracismo, mas de repente ressurgia e era aquele arraso, sempre envolvido com muita bebida e droga. Foi justamente nesta fase, em 1982, que cantou pra 150 mil pessoas na Praia do Gonzaga, em Santos. No mesmo ano quase foi linchado na cidade de Caieiras, porque o achavam impostor, estava bêbado e muito magro. Em Brasília também aconteceu o mesmo.
Outro roqueiro baiano como ele, Marcelo Nova, que era seu fã, resolveu resgatá-lo e armaram uma turnê para 50 cidades brasileiras. Foi um sucesso enorme, embora Raul, muito doente, tenha participado apenas de meio show. Na manhã de 21 de agosto de 1989, ele foi encontrado morto em seu quarto, não tinha tomado sua insulina na véspera e a silenciosa diabetes o levou.
Eu cantava na Choperia Degraus, meu batera era o saudoso Luizão,   numa noite, após cantar canções do Raul, ao descer do palco, um cara que bebia seu chope sozinho pediu-me para dar uma canja comigo em canções do velho roqueiro. Dizia ser baterista do Maluco Beleza, inclusive na gravação do rock Al Capone – aquela bateria nervosa foi ele quem tocou.
Voltamos ao palco e o cara estraçalhou na bateria, e eu ali, cheio de graça tocando e cantando com o baterista do Raul Seixas. Depois, já intimo, perguntei-lhe o que o trazia aqui em Ribeirão Preto, e ele disse que estava na rodoviária de São Paulo e comprou passagem errada, queria ir pra São José do Rio Preto... Caiu aqui de paraquedas e foi pra noite...
Feliz aniversário, inesquecível Raul Seixas.

* Cantor e compositor 

domingo, 16 de junho de 2013

Apelidos... quem não tem???

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Taí uma parada legal: apelidos. Legal porque quanto mais o cara apela, mais a coisa pega. Muitas vezes a pessoa ganha o apelido por uma mania que ela tem e talvez nem a perceba, mas tem cara antenado que saca logo a figura e vai logo lhe chamando disso ou daquilo. Quando se dá conta, surge mais um apelido. E olha que existem apelidos perfeitos, desses que casam perfeitamente com o personagem.
Tem apelido que pega fácil, quase que natural, surge do nada, mesmo que a pessoa não apele, quando vê já pegou, às vezes é um apelido até carinhoso. Meu amigo Tião do Violão, quando garoto na Vila Tibério, jogava bola no campo do Guana­bara, onde hoje é uma escola, ali na rua Borba Gato. Muitos cavalos pastavam naquele imenso gramado e ele era magrelo de pernas compridas, corria muito, ganhou fácil o apelido de “Galopão”, lembrando o galope de um cavalo. Ainda hoje, quando estou com ele e cruzamos com seus antigos amigos, alguns ainda lhe chamam assim, “Galopão”.
Vejam este apelido: “Botão”... Um gaúcho representante de uma multinacional estava de passagem por Ribeirão Preto e fez amizade com a gente numa roda de prosa no Empório Brasília. Quando entrou o assunto apelido, ele riu muito e contou que quando serviu o Exército, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, lá tinha um oficial daqueles bem “caxias” que quando via um recruta com algum botão da farda desabotoado, além de lhe chamar atenção, botava a tal falta no papel e o recruta dançava feio.
No meio militar, recruta carrega a imagem de só aprontar, e logo apelidaram o oficial de “Botão”. A noticia esparramou pelo quartel e o homem, quando soube, ficou muito bravo. O apelido ia pegando cada vez mais. O gaúcho disse que o oficial chegou até a pedir transferência de quartel, porque esse negócio de “botão” passou a ter dois sentidos (rsrsrsrsr).
Paulinho da Viola, nosso grande sambista, no dia seguinte de seu show aqui na cidde, tomando chope com nossa turma num churrasco, disse que quando estava gravando seu maior sucesso, “Foi um rio que passou em minha vida”, um músico chamado Luizinho tocava pandeiro na gravação, e quando Paulinho cantava no estúdio o seu samba, Luizinho disse uma palavra que não estava na letra original, justamente na parte em que Paulinho dizia “porém”. Luizinho achou que faltava alguma coisa e mandou ver um “aí, porém”. Todos gostaram da sacada do músico e o apelidaram de “Luizinho Porém”... Coisa de carioca...
Vejam esse apelido: “Cajuzinho”. Quem o ganhou foi um bombeiro com pinta de galã, ele era do tipo saradão, pois fazia muitos exercícios diários, só que tinha um problema: “Cajuzinho” não aceitava o passar do tempo que lhe branqueou os cabelos e tascava no “telhado” uma tinta que fazia aquela lambança de cor amarelada. Os amigos não perdoaram, daí tascaram-lhe o apelido de “Cajuzinho”... Quando soube, ficou uma fera... e “Cajuzinho” pegou.
Meu amigo Cabral conta que quando fazia escola da Policia Militar em Taubaté, isso faz mais de 40 anos, tinha alguns exercícios que exigiam um certo preparo físico, principalmente de braço. Entre os recrutas tinha um que não acompanhava os demais de jeito nenhum, até porque era meio gordinho, daí lhe apelidaram de “Chumbão”, meu!!! Quando alguém lhe chamava de “Chumbão”, ele queria quebrar todo mundo no braço... Não teve jeito: o apelido pegou fácil: “Chumbão”.
Um amigo que serviu no quartel da Aeronáutica de Piras­sununga conta sobre um recruta que, ao levantar o braço pra fazer educação física, espantava todo mundo porque exalava um cheiro do sovaco que fazia desmaiar a recrutada. Ele ganhou o apelido de “Leão”. E eu nem sabia que leão cheirava a cecê... Apelidos temos aos montes, prometo revelar aqui mais alguns.

* Cantor e compositor 

sábado, 8 de junho de 2013

Boemia em plena segundona

* Bueno

Havia alguns anos que eu não desfrutava de uma gostosa boemia, talvez desde que Sócrates levantou acampamento para morar em Sampa. Boemia saudável aprendi com meu querido amigo, o saudoso Laerte Alves, na época presidente do Botafogo. Também chegado numa noite sem pressa, dizia: “Buenão, as pessoas confundem boemia com ‘putaria’, boemia é o que faze­mos, nada de mulheres da difícil vida fácil no meio, numa boemia discutimos de tudo e até fechamos grandes negócios.”
E ele tinha razão, pois foi numa dessas noitadas que conseguiu vender o jogador Jajá para um time mexicano. Eu e Sócrates estávamos nessa parada. Lembro-me que Laerte convocou-me para levar meu violão e cantar uns boleros enquanto a negociação rolava, isso no Bar Breno’s, na avenida Nove de Julho, onde hoje funciona uma imobiliária... Saudade, muita saudade...
Domingo passado acordei, por força do hábito, muito cedo e resolvi entrar no delicioso Facebook. Meu grande amigo e cantor, compositor e parceiro musical Beto Godoy fazia o mesmo. Dele recebi convite para, no dia seguinte, em plena segundona, jogar conversa fora e cerveja dentro, após o futebol dos músicos na quadra do Olé da avenida do Café. Topei, até porque ia rever nossos músicos que só folgam na segunda-feira.
Entre eles estavam os meninos do Grupo Nós, Juninho Tamburus que toca com a dupla Rio Negro & Solimões e outros que não foram pra jogar, mas para bater um papo com a galera. De repente chegam Daniel Oliveira e Clécio, e para nossa surpresa pinta no pedaço Sudu Lisi, baterista do Sambô, grupo aqui de Ribeirão Preto e que hoje é sucesso nacional com música até na novela das sete.
Acabou o jogo, Beto Godoy, que é uma espécie de paizão de todos, foi pilotar a churrasqueira. Ele até acendeu uma fogueira ali pertinho para nos aquecer naquela fria noite, mas nem precisava, até porque a prosa estava tão boa que esquentava nossos corações.
O Sambô faz uma média de 24 shows por mês e essa folga Sudu tirou para visitar os amigos. Nem preciso dizer que a alegria foi geral, pois ele é adorado pela classe musical, quem o conhece sabe que é uma figura, seu jeito de ser, meio maluco beleza, sua forma de se expressar arranca risadas até do cara mais carrancudo. E eu ali, me deliciando com suas histórias.
Depois de muito papo e também por curiosidade, perguntei a ele: “Sudu, com esse negocio de viajar pelo Brasil todo de avião, você nunca passou nenhum aperto que te botasse medo, amigo???” Ele respondeu, com certa expressão de susto... “Buenão!!! Faz pouco tempo, uma mulher armou o maior barraco que deixou todos com vontade de jogá-la fora do avião, cara. Foi num voo Ribeirão-São Paulo, para pousar no Aeroporto de Congonhas, já tinha passado os quarenta minutos normais de voo e nada do avião pousar, deu uma hora, uma e vinte e nada, as aeromoças nada falavam até que o comandante resolveu colocar todos a par do problema dizendo ter dado uma pane no computador, desprogramando-o por completo.”
E continuou: “Sem ter como pousar, ia tentar outros meios e aterrissar em Guarulhos, depois avisou que ali também não dava, e o avião lá no alto, tinha gente ligando pra família, uns até dando adeus... de repente a mulher levantou aos gritos, querendo invadir a cabine do piloto, dando murros na porta... as delicadas aeromoças não conseguiam contê-la, até que um grupo de passageiros a segurou e convenceu a mulher de que estavam todos no mesmo barco...” Sudu tomou fôlego, a galera querendo saber o final e ele arrematou: “Gente, que susto!!! Por fim o piloto disse que pousaríamos no Aeroporto de Vira­copos em Campinas, e para alivio geral, pousou.”
“Daí eu me ferrei”, disse ele. “O voo era pra chegar às três da tarde, eu com compromisso às cinco, desci em Campinas às quatro e meia, tomei um táxi que me cobrou 350 paus porque lhe pedi para voar, só que agora no asfalto. O taxista justificou o preço dizendo que corria o risco de ser multado.” Sudu contou mais histórias, mas fica pra próxima...

* Cantor e compositor