sábado, 9 de julho de 2011

Tem cascavel no carro!!!


* Bueno
buenocantor@terra.com.br

Se tem um bicho de que tenho o maior medão, é a cobra. Gozado, passei a ter esse medo quando moço, ao ouvir algumas histórias sobre cobras como a urutu – que se não matar deixa o caboclo aleijado–, a coral – cujo veneno é mortal – e da cascavel, que quando ouço o chacoalhar de seu guiso fico arrepiado.Aí me vejo menino de onze, doze anos, nas mãos um estilingue de forquilha de jabuticabeira, elástico de câmara de ar de bicicleta, embornal cheio de castelinhos e pedrinhas... Junto com a molecada da Vila Tibério, ía caçar cobras coral num brejo da baixada da Vila Amélia. Olha só o juízo!!!
Noite dessas tive um sonho com cobras de dar medo e resolvi consultar minhas bases, pessoas que trabalham comigo na Secretaria Municipal da Cultura. Perguntei primeiro pra Chiquinha: sonhar com cobra o que significa? Ela, que foi criada no sertão cearense, região de muitas cobras, foi taxativa: “Sonhar com cobra é traição”. Aninha, que estava por perto, falou na bucha: “É traição, é inveja.” E, após confirmar, complementou: “Tem vários tipos de traição, alguém anda falando mal de você, talvez até bem próximo, parente, amigo, gente invejosa, ou alguém querendo seu espaço”. E eu só ouvindo...  Até pensei: “Caramba, será verdade???”
Ainda sobre cobra, existe uma piada que criaram em cima do sossego baiano. Estava lá na varanda de casa um tranquilo baiano descansando em sua rede, quando viu uma cobra rastejando no quintal. Com a maior calma, chamou pela sua mãe: “Mainha1”. Ela respondeu: “Que foi, menino?” E ele: “Tem remédio pra picada de cobra aí???” “Tem, não, bichinho. Porque? Alguma cobra te picou???” E ele, na maior moleza, respondeu: “Ainda não... mas ela tá vindo...” Coisas da cultura baiana.
Lembrei-me de um fato de quando era guarda rodoviário, e como diz Chico Lorota, “acontecido”. Certa manhã, estava na pista em frente à base de Brodowski, quando, no sentido Batatais-Ribeirão Pretom, visualizei uma Brasília vermelha. Naquele tempo era um bom carro. O motorista piscava os faróis com insistência, dei-lhe sinal de que já o tinha visto mas ele. cada vez mais próximo, insistia naquele pisca-pisca sem parar, até que desviou para o acostamento, abriu a porta e jogou-se gritando por socorro.
Nessa altura, eu pensava várias coisas, mas ainda não estava entendendo nada do pedido de socorro, pois no carro só estava ele! Passado o susto e ainda trêmulo, ele falou: “Tem uma cascavel dentro do carro!!! Ela está no banco traseiro”. Dei uma olhada e a bichinha estava lá, com a cabeça altiva, e chacoalhava seu guiso. Pelos gomos, era uma cobra adulta. Com um pedaço de pau, dei um jeito de tirá-la do carro e a matamos. Disse ele que desde que saiu de Franca ouvia um guiso de cascavel, mas pensava ser vento ou pneu, nunca uma cobra. Ele ouvia o som, olhava o retrovisor, mas não via nada, até que ela levantou um pouco mais a cabeça. Isso já próximo a mim, daí seu desespero.
Levei o motorista para dentro da base e lhe servi água com açúcar. Foi quando que, soltando fogo pelas ventas, ele falou: “É a minha mulher que quer me matar, ela colocou a cobra no carro para me picar e eu morrer na estrada, vive dizendo que tenho amante”. E descarregou uma ladainha de acusações contra sua primeira-dama.
Depois de refeito, seguiu viagem. Dias depois, passando novamente pela base, o motorista da Brasília me viu, desceu todo feliz de sua caranga – dessa vez sem cobra – e consertou tudo que disse sobre sua mulher. Perguntei-lhe como aquela cobra foi parar em sua Brasília, e ele, sorrindo, disse ter uma quitanda em Franca e, ao buscar um engradado de alface numa horta na periferia, colocou a caixa na traseira do carro e nessa a cobra foi junto.

* Cantor e compositor

Nenhum comentário:

Postar um comentário