sábado, 8 de março de 2014

Come-Fogo: naquele tempo...

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

É durante a minha caminhada matinal de cinco quilômetros que me surgem as ideias, às vezes mirabolantes. Hoje, quando estava na altura da avenida Nove de Julho, viajando na maionese, meus “bichinhos de criação” começaram a martelar minha cuca: “Buenão, porque você não escreve sobre personagens dos antigos clássicos Come-Fogo?” “Genial”, pensei, e pimba!!! Começaram a surgir na minha mente velhas figuras de nossa Ribeirão Preto.
Estava até imaginando como começar quando, passando pela padaria Nosso Pão, ali na rua Sete de setembro, vi conver­sando com Geraldo, o proprietário corintiano, meus amigos Marinho Sampaio, o vice-prefeito, e Ney, seu fiel escudeiro. Parei para um papo rápido, e contei a Marinho sobre esta crônica. Ney é muito novo e não se lembra, mas eu e Marinho voltamos a um passado de grandes personagens que enriqueciam a cidade e valorizavam qualquer jogo da dupla Come-Fogo.
Lembramos de Salim, comercialino de chorar nas vitórias e nas derrotas, ele tinha um bar na rua Tibiriçá, entre a General Osório e a  São Sebastião, e lá frequentavam as duas torcidas numa boa, num tempo em que a maldade passava longe. Despedi-me de Marinho e Ney e segui na caminhada. Minha cabeça continuava seu processo de criação e quando cheguei em casa só tive o trabalho de colocar as lembranças no papel.
Numa época em que o rádio AM reinava absoluto, e que para nossos talentosos jornalistas eram oferecidos contratos de se tirar o chapéu, tinha um programa que era líder de audiência, o “Balanga Beiço”. Ele era comandado pelos radialistas Tiri­rica e Corauci Neto, que satirizavam as noticias policiais. 
Lembro-me de que a população tinha mais medo de sair no “Balanga Beiço” do que da própria policia. O slogan do programa era “não entre em litígio com a policia para não virar noticia”. Ninguém queria ser estrela daquele noticiário porque a gozação durava semanas, era um verdadeiro show de rádio. O negócio fervia quando se aproximava a semana de Come-Fogo, tudo porque Tiririca era botafoguense e Corauci, comer­cialino.
Em todos os dérbis eles apostavam alguma coisa, lembrei-me de uma aposta em que quem perdesse teria que dar um mergulho nas poluídas águas do Retiro Saudoso, o córrego que divide a avenida Francisco Junqueira. A rádio PRA-7, hoje Clube, ficava ali na avenida. no cruzamento com a rua Barão do Amazonas. Como o tempo é inimigo da memória, não consegui me lembrar quem saiu lambuzado nesta aposta, mas sei que a avenida parou de tanta gente que queria ver o tal mergulho... Velhos tempos, belos dias.
Lembrei-me de quando apelidaram o Botafogo de “Chulé” e que comercialinos passavam ao lado do campo, ali na Vila Tibério, antigo Luiz Pereira, e jogavam sapatos velhos sobre o muro. Haja calçados. Daí botafoguenses que não queriam ficar pra trás apelidaram o Leão de “Penico”... E lá iam penicos pra dentro do antigo Costa Coelho.
Lembrei-me de um botafoguense histórico,“Pidão”, que levava pra arquibancada do Estádio Santa Cruz uma ensurdecedora buzina tocada a bateria. Quando saía alguma briga, ele estava sempre no “front” com seus quase dois metros de altura, um baita corpão, seu braço tinha a grossura da minha perna... Cada braçada dele mandava um monte pro chão. “Pidão” brigava bem e, num jogo contra o América, lá em São José do Rio Preto, o pau quebrou feio.
Estava ouvindo a Rádio 79, com Marcio Bernardes matando a pau na audiência. Vendo aquela muvuca toda, o radialista pegou o microfone e tranquilizou as famílias dos torcedores bota­foguenses dizendo que “Pidão” estava no meio dando pancada pra todo lado, até que a torcida contrária deu no pé. Histórias temos aos montes. Velhos clássicos Come-Fogo... Que saudade.

* Cantor e compositor

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