sábado, 16 de julho de 2011

Os olhos do meu filho Lucas Bueno

Era meados de outubro de 2005, plena primavera quando recebemos em casa, uma carta do Banco de Olhos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Era um convite para mim, minha esposa Sônia e familiares para participarmos de uma missa em ação de graças que seria realizada no Santuário Nossa Senhora de Aparecida, na Avenida Portugal com a Rua Rui Barbosa.
Lembro dela antes um tanto tímida. Hoje suntuosa, sem luxo, mas tem um “Q” de aconchego que só quem a conhece pode constatar. Ela acolhe grandes amigos. Marcelo Bim, Ricardo Gonçalves, Cleto, Hamilton do Pandeiro que dão suas contribuições musicais nas missas. Até meu ídolo, Tadeu Ricci que jogou no Comercial, Vasco e Grêmio Porto alegrense, hoje também jogam nesse time.
Liguei para o amigo Cleto, publicitário aqui na cidade e ele disse que todo ano, nessa época, a igreja realiza, em parceria com o Hospital das Clínicas essa missa em ação de graças para famílias de doadores.
Nesse momento me veio à mente o local do acidente de onde foram ceifadas as vidas de dois jovens. Juliano e Lucas Bueno, meu filho, que retornavam de São Carlos onde estavam fazendo o que mais gostavam tocar e cantar.
 Eram músicos vindo de um show. Ficamos no local eu e minha esposa Sônia, das 7:15 da manhã até 10:30 tentando liberar o corpo de nosso filho.
“Violência maior não existe.” A intenção era agilizar o processo para conseguir doar todos os órgãos de Lucas que fossem possíveis. Conseguimos doar as duas córneas para duas pessoas que precisavam. Não sabemos quem as receberam.
No dia da missa nos dirigimos à igreja e a surpresa foi enorme.  O templo estava cheio, mais de duas mil pessoas. Para nós todos desconhecidos, a não serem os grandes amigos músicos.
A primeira surpresa: na entrada um “Bunner” enorme com mais de 800 nomes. Depois fiquei sabendo que se tratava dos doadores daquele ano. Percebi que estavam todos em ordem alfabética. Corri os olhos até chegar à letra “L” e encontrei o nome do meu adorado filho Lucas Eduardo de Melo Bueno. Imaginem minha emoção!
A Segunda surpresa: a multidão que povoava a igreja era formada por pessoas de todo o Brasil. Manaus, Fortaleza, Goiânia, Natal, entre muitas outras cidades. E o mais confortante. Sabia que entre aquelas estavam as duas pessoas que receberam os olhos de meu filho.
Quando a missa acabou o Padre chamou ao microfone a equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, responsável pelo Banco de Olhos e fez uma linda palestra sobre a importância da doação de córneas.
A terceira surpresa foi quando uma linda jovem ocupou o microfone. No texto, falou sobre a importância da doação de olhos. Foi aplaudida durante minutos. Ao final, ela voltou ao microfone e contou sua recente história. A mais linda da sua vida. Disse que era cega até maio do ano passado e graças ao bom senso de uma família, havia recebido a córnea de um motociclista que faleceu em um acidente. Foi emocionante!
Nem é preciso dizer qual foi à reação das milhares de pessoas que lotavam aquela igreja. Foi um coral de choro.
Ao final uma rosa foi distribuída para cada família e aquele lugar foi invadido por uma paz imensa.
Fomos para casa com a sensação de que era isso que nosso amado Lucas desejava.
Duas pessoas que estão entre nós podem ver o mundo com os olhos de Lucas. Ler um livro, admirar a natureza e o principal, olhar nos olhos de quem ama.
Seja um doador

2 comentários:

  1. Primo, não sei qual surpresa boa virá de sua parte e da Sonia, sua linda esposa (linda de se ver e conviver, pois irradia luz. e que voz!)
    Meu filho, que aguardava por um transplante de coração, também doou suas córneas. Faço minhas, as suas palavras:"Duas pessoas que estão entre nós, podem ver o mundo com os olhos do Ricardo, ler um livro, admirar a natureza e o principal, olhar nos olhos de quem ama."
    Doe ÓRGÃOS, doe VIDA!

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  2. Atitude altaneira do casal em momento de dor honrando o espírito anjo do filho, hoje na glória do Senhor, e pelo ato de bondade, particularmente por mim, só posso pedir a Deus que lhes pague pelo ato generoso.

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