segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Quase vi um disco voador

Nunca fui obcecado por OVNIs ou seres de outro mundo, mas não nego meu desejo de ver um disco voador sem tripulantes, porque esses, pelos desenhos de retratos falados que já vi, me deixaram sem expectativa nenhuma. Dia desses recebi um e-mail sobre crianças superinteligentes que estão nascendo em todos os cantos do mundo. Segundo os espíritas, elas estão vindo para mudar o mundo. Pode observar, tenho certeza que conheces alguma de inteligência rara, até dentro de sua família.

Na Rússia nasceu um menino que, quando falava alguma coisa fora do normal, como, por exemplo, que ele já tinha estado em outros planetas, viajado em naves espaciais, ou então que ia a determinada parte da Rússia de região rochosa para receber energia, achavam que era louco ou coisa assim, mas ele faz parte dessa geração de crianças especiais que estão encarnando com missão especial.

No estado de Goiás temos uma cidade mística, chamada Alto Paraíso. Conheci uma pessoa que era diretor de uma empresa multinacional, deixou tudo e foi viver por dois anos naquela região e disse-me que por várias vezes andou espaço a fora em discos voadores.

O cantor nordestino Zé Ramalho também é louco por seres extraterrestres, diz que fala com eles e que em sua casa tem um quarto trancado a sete chaves e que nem sua mulher sabe o que tem dentro. Em um sítio em Jardinópolis, discos voadores estariam dando rasantes com frequência. Chico Buarque e Maria Bethânia estavam em um bar à beira-mar quando foram surpreendidos por um disco voador fazendo firulas a pouca distância, até acharam graça.

Eu era guarda rodoviário e de vez em quando era escalado para trabalhar na base de Santa Rita do Passa Quatro, no quilômetro 250 da Rodovia Anhanguera - a única cuja construção foi feita no canteiro central, na época da pista simples, pra quem vem da capital ela fica após a subida da serra, região muito alta, ali no inverno passei muito frio. Nas noites quentes de verão o trânsito não era intenso como hoje, e eu tinha o hábito de, na madrugada, apagar as luzes da pista. Naquela escuridão, via o clarão das cidades de São Carlos, Araraquara e outras menores.. Era como se estivesse no topo do mundo, eu e aquele lindo céu, me sentia muito próximo das estrelas e ficava observando o céu na esperança de ver discos voadores, mas nunca tive essa sorte.

Em outra ocasião, trabalhando na base de Brodowski, também de pista simples, num desses feriados prolongados, o trânsito era intenso no sentido Ribeirão Preto-Franca. Já eram tipo três da madrugada quando parou um ônibus da Viação Cometa que ia de São Paulo para Franca. O condutor buzinou com insistência chamando-me a atenção. Naquela época a base ficava a mais ou menos 50 metros da pista, dei um pique e ele, meio que assustado, desceu do ônibus ainda tremendo. Superapavorado, disse ter visto pairando sobre o lago do Clube de Regatas um disco voador, com todas as luzes coloridas que sempre tinha ouvido falar, parecia ter pousado sobre as águas. Enquanto conversava com ele, pararam quatro ou cinco carros e seus ocupantes me contaram a mesma história.

Não perdi tempo e pensei: "Que maravilha, eis a chance que tanto esperava". Nem sei como entrei na viatura, voei para o quilômetro 322, onde fica o clube. Da base até lá tem onze quilômetros e no trajeto vinha pensando: porque escolheu aquele lugar??? O que de especial poderia haver no lago do Regatas??? Seria alguma energia de que eles necessitam??? Nesse momento, sem obter respostas e já passando pela fazenda dos meus amigos Mauricio Montans e Gilda Montans, faltando apenas dois quilômetros, meu coração batia descompassado, estava a dois quilômetros para realizar um grande sonho. Chegando, parei no acostamento, corri até a cerca e visualizei o lago. Nada sobre ele, estava como se dormisse, tamanha era sua serenidade. Que pena, ainda não foi desta vez que vi um disco voador

domingo, 30 de outubro de 2011

Domingo no Mercadão da cidade

A meteorologia já havia anunciado: o último domingo, 8 de novembro, seria chuvoso com sol entre nuvens. E não é que desta vez acertaram?
O dia amanheceu meio que emburrado, meio cinzento... O sol bem que quis mostrar a cara para a alegria de quem quer bronzear o corpo, mostrando as cores do verão, mas tímido, se recolhia entre nuvens. Pedrão, lá no céu, ameaçava abrir suas torneiras, mas ficou só na ameaça.

Percebi que não ia dar clube. Após atualizar-me com jornais matinais e revistas, fiquei pensando numa maneira de ocupar-me pelo resto do dia. Lembrei-me do convite do meu amigo Giba do Pandeiro, que aos domingos - juntamente com Valdeci Violão Sete Cordas e Tiago Santos, que manda ver no cavaquinho e bandolim - alegra com sua arte a clientela do novo Mercadão. Tratei logo de vestir uma bermuda, uma camisa listrada, sapato branco e meu inseparável chapéu Panamá e, com a patroa a tiracolo, cheguei por volta de 11h30 e percebi que muita gente resolveu fazer o mesmo programa.

Passei pelo restaurante japonês Harume, de meus amigos Mamoro e Margareth. Ela é filha do professor Toshio Osawa, responsável pela formação de muitos judocas em nossa cidade. Mamoro, como sempre, de bom humor e preparando tudo de gostoso que seria servido para sua refinada clientela. Dos corredores já ouvia o bom som que vinha do piso superior. Acomodei-me, dei uma geral para ver o que mais se consumia e mandei meu pedido para o garçom: pasteis tipo aperitivo e uma loira bem gelada, combinando com o ambiente. Estava ali molhando a palavra quando do nada surge em minha frente meu amigo Mamoro com uma bela embalagem contendo sashimi de salmão, raiz forte, choio e demais ingredientes, colocando na minha mesa como cortesia. Lógico que adoramos... Esse Mamoro é demais.

A música invadia a tarde e entre sambas, boleros e tangos via meu amigo Joel e sua namorada Adelaide darem um show de dança. Vê-los dançar é um prazer: Joel conduz sua parceira como se estivesse deslizando sobre plumas, parece que estão passeando num campo florido. De repente, Tiago passa a mão no seu bandolim e começa a tocar uma música grega. O salão se inflama e os músicos são aplaudidos de pé. E eu ali, assistindo a tudo, maravilhado.

O trio deixa a ultima seleção para convidar os famosos "canjeiros", aqueles que se realizam cantando e lá fui eu cantar Espelho e Súplica, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. Depois Graça, esposa do Zinha, cantou Ave Maria, de Vicente Paiva e Jayme Redondo. Essa foi a música que Fafá de Belém cantou para o papa no aterro do Flamengo. Minha surpresa maior foi quando surgiu Leandro, um jovem que pensei que só dançasse, mas que mandou ver no gogó Viagem, de Paulo César Pinheiro e João de Aquino. Sueli de Lazzari cantou Chega de Saudade, de Tom e Vinicius.

O tempo passou, nem percebi e o domingo musical chegou ao fim. Passei pelo restaurante Harume e dei de cara com uma enorme mesa em que meu amigo André Halah, diretor da rede de academias Esporte e Cia., que em companhia de seu famoso papai Dr. Said Halah, advogado, família e amigos se deliciavam com iguarias japonesas.

Vejam só, um domingo que tinha tudo pra ser qualquer nota transformou-se em um domingo nota dez. Mercadão novo aos domingos, recomendo.

sábado, 29 de outubro de 2011

Meus tempos de criança

Ano passado fui fazer um show na cidade mineira de Bar¬bacena, vizinha de Tiradentes, que também se avizinha a São João Del Rei, onde há uma maria-fumaça que percorre um trajeto de 12 quilômetros transportando turistas. Eles se deliciam e, assim, revivem uma época de puro saudosismo, tempos de criança, tempos da delicadeza.

Barbacena estava muito fria naquele mês de agosto. Assustei-me com tantas igrejas, subidas e descidas em pleno centro da cidade. Ali, carro 1000 tem que andar na primeira marcha. Segunda, às vezes. Barbacena não é muito longe, fica a 450 quilômetros, mas para chegar lá, meu amigo, não é mole. As estradas mineiras pedem atenção redobrada, é uma curva uma atrás da outra, e para dar de cara com vacas na pista não é preciso rodar muito. Várias vezes precisamos dar a preferência a elas, amigo!!! Depois de duas horas rodando, paramos num posto de gasolina. Comentei com moradores locais a razão de tantas curvas. Eles disseram que eram antigas estradas boiadeiras e que jogaram asfalto em cima. Tá explicado.

E fomos em frente. Ao chegarmos em um pequeno trevo, as indicações confundiram meu amigo Cipó. Tínhamos que entrar à direita, ele foi para a esquerda, e uma placa avisava: Miraí! Percebemos o erro e por pouco não entramos na terra de Ataulfo Alves. No dia 2 de maio ele completaria 101anos. Como poeta não morre, passa para a eternidade, Ataulfo está entre os maiorais. Foi um dos maiores compositores brasileiros, compôs entre tantas o clássico Meus tempos de criança. Acho que esta é a única música que popularmente tem três nomes, razão do titulo deste texto.

Por instantes revivi velhos tempos de cantor da noite, quando cantava de tudo. E essa música sempre foi, junto com Boemia, Andança e As rosas não falam, a campeã de pedidos. Mas, às vezes, o bilhete conduzido pelo garçom trazia escrito: "Por favor, Bueno, cante Professorinha ou Meu pequeno Miraí". A gente sabia que se tratava de Meus tempos de criança e mandava ver.

Ataulfo Alves compôs esta canção para sua Miraí com tanta doçura que até peço licença para invadir sua obra, peço licença a Ataulfo para com ele invadir sua infância, que também é minha. Que ele me deixe sentir saudade da professorinha que também me ensinou o bê-á-bá, e que aos domingos me deixe assistir a missa na matriz da minha pequenina Batatais, rever Mariazinha, meu primeiro amor, onde andará??? Peço licença a Ataulfo para com ele e toda a meninada fazermos muitas travessuras, jogarmos botão pelas calçadas, num tempo Ataulfo!!! Meu querido poeta, em que a gente era feliz e não sabia.

A vergonha é a herança maior que meu pai me deixou!

Essa frase magnífica, verdadeira, atual e muitos adjetivos mais, é do grande compositor e poeta Lupicinio Rodrigues. A partir dela é possível escrever um livro, dela dá pra lembrarmos fatos acontecidos e que nos chegam em mesas de bar, em bate-papos boêmios e aqui vou lembrar alguns.

A frase titulo é do samba canção Vingança, de Lupicinio Rodrigues, cujo apelido era Lupa. Lupicinio, também conhecido como o "rei da dor de cotovelo" pela forma com que descrevia o desamor, o fim de caso. O termo "dor de cotovelo" nasceu da situação em que o sujeito levava um fora da amada e se aninhava em um bar qualquer para afogar suas mágoas, e ali colocava o cotovelo sobre o balcão e enchia a cara até a cabeça ficar mais pesada que o corpo. Pra segurar tamanho peso, o coitado do cotovelo pagava o pato, amigo.

A vergonha é a herança maior que meu pai me deixou!!! No caso do Lupicinio, ele retrata uma cena ocorrida em um bar em que a mulher, arrependida por ter traído, se entrega ao birinaite.

A palavra "vergonha" é tão forte que muitas vezes evito empregá-la numa discussão, ou quando me altero, o que é muito difícil. Parodiando o velho Lupa, digo que o nome que herdamos de nossos pais também é a herança maior deixada por eles. Eu, menino, pouco entendia, mas lembro-me de quando meu pai, Rosemiro Bueno, maquinista da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, o velho Rói - este era seu apelido de mocidade -, tinha o costume de dizer que era do tempo em que a garantia maior de qualquer negócio era um fio de bigode, nada tinha maior credibilidade. Outra coisa: quando assinava um documento, o fazia com o maior orgulho, ele tinha um prazer indescritível ao escrever num papel seu nome, seu chamego, e se estava perto me indicava o escrito e dizia: "Meu filho, a maior fortuna que vou te deixar é meu nome, honre-o". Olhava seu rosto, seus olhos brilhavam e seu semblante transmitia algo que hoje sei o que significa quando digo para meus filhos e meu neto o que dele ouvia. Meu pai criou seis filhos honrados.

Você que hoje lê meu texto já deve ter ouvido muitas vezes a frase: "Fulano morreu foi de vergonha". Vou aqui contar um fato em que um pai morreu de vergonha. Sou amigo de vários artistas, alguns próximos, outros vejo na correria do dia a dia. Recentemente, tomei conhecimento de que um grande amigo e cantor havia perdido seu irmão, que era mais velho que ele quatro anos, só não sabia porque.

Dia destes, numa roda de prosas, entrou este assunto e então tomei conhecimento do motivo. Após muitos anos de sucesso, muitos shows pelo nosso Brasilsão, o cantor, um tanto que cansado, resolveu colocar um pouco o pé no freio, fazendo apenas apresentações esporádicas, recolhendo-se em sua cidade, de papo pro ar, obedecendo a um conselho da nossa Rita Lee na sua música Mania de você: "Nada melhor do que não fazer nada..."

E nesse não fazer nada, percebeu que suas finanças estavam minguando, amigo. Ao dar uma geral, descobriu que a quantia que havia amealhado durante a carreira e que poderia ficar no sossego, havia sido surrupiada e sabe por quem? Seu sobrinho... Isso mesmo, o sobrinho dele. Era ele quem cuidava da parte financeira da carreira do tio, era filho de seu irmão descrito acima e pelo qual o cantor tinha o maior respeito.

Resultado: com o caixa quase que a zero, meu amigo juntou seus fiéis músicos e colocou outra vez o pé na estrada. Seu irmão, ao tomar conhecimento das falcatruas do filho para com o tio artista - aí entra a palavra "vergonha" -, morreu de vergonha, após definhar por algum tempo. Fico imaginando as pessoas do entorno da família o que pensam, sinto pena.

Casos como este ou quase que igual está por ai aos montes bas¬ta estarmos informados. Vou seguindo minha vida cumprindo os ensinamentos do meu velho pai, tropeçando, caindo, levan¬tando e cantando e sempre que canto Vingança me vem na cabeça à frase: "A vergonha é a herança maior que meu pai me deixou.

O céu esta em festa... Johnny chegou

Com músico é assim, onde chega tudo se transforma. Por quê??? Ora, porque o músico é um ser humano diferenciado. Porque ele faz música e música é o caminho mais curto para nos levar a Deus. Já dizia Siles, grande músico, grande clarinetista brasileiro, que no céu havia uma fila de milhares de bebês para nascer e Deus sabiamente passava a mão na cabeça de dois ou três e dizia: "Vocês vão ser músicos". Você que está lendo este meu texto de hoje pode confirmar que o velho Siles tinha razão, basta tentar lembrar quantos músicos você conhece.

No último sábado, 17 de julho, por volta de dez da manhã, recebo uma ligação do meu amigo, músico e parceiro Doni Max dando conta do falecimento de Johnny Oliveira. Na hora, pensei. "O céu está em festa." Johnny vai se juntar a grandes músicos. Era baixista e fundador do Grupo Nós, a banda mais importante que nossa cidade já teve e tem - ela continua, seu filho Rafael assume o posto do pai que foi titular por mais de trinta anos.

Johnny era seu nome artístico, mas pra mim será sempre João. Lembro-me de quando eu tinha dezoito anos e ele dezesseis. Tínhamos um conjunto musical e ensaiávamos na rua Castro Alves. João chegava pedalando sua bicicleta, a mesma que usava para fazer cobranças e serviços para uma empresa de contabilidade. Ele desligava do trabalho. Quando parávamos para um intervalo, João passava a mão na guitarra e fazia acordes sem nunca ter tido aula, aprendia só de estar antenado. Eu procurava lhe ensinar os acordes mais complicados e João mostrava talento anormal, pois sentava-se no banquinho da bateria e arriscava logo um samba. Fazia o mesmo com o teclado, e em pouco tempo estava no nosso conjunto, "Os Tropicais", que mais tarde virou "The Jetsons". Seu batismo musical foi no Circo do Biriba, onde cantamos em dueto Feche os Olhos, música dos Beatles com versão Renato e seus Blue Caps.

Meu amigo Henrique Bartschtinha na época o conjunto Grupo 17, percebendo o talento de João, tratou logo de adquirir seu "passe". Lá foi nosso baixista brilhar com novos amigos. Trocaram o nome da banda: nascia ali o Grupo Nós. O Grupo Nós passa para a historia de nossa cidade por um fato heróico, quando, nos anos 80, descobriram que a Antártica estava vendendo o Teatro Pedro II (então em ruínas) para o Bradesco.

Antonio Calixto, que na época era vereador, lutou como louco junto com o Grupo Nós, Kiko Zambianchi e músicos, compositores e artistas de Ribeirão Preto, criando o movimento Soma. Faziam shows históricos na Esplanada do Pedro II, e conseguiram recolher 30 mil assinaturas. E o Pedrão aí está, para o orgulho de nossa cidade.

João, nossas TV,s no sábado, deram várias notícias: morte de bandido, morte de acidente em trânsito e assuntos diversos. Que pena, João!!! Não deram uma nota de sua partida, talvez nem saibam o quanto você foi importante para nós, amigos, para nossa classe musical, para nossa cidade com seu talento... Mas, é a vida, amigo. Nós, amigos e músicos, fizemos uma corrente, ligamos e pedimos para que ligassem para todos. O resultado deixou sua família orgulhosa: centenas de fãs foram se despedir de você, demonstrando o quanto era querido. Seu parceiro Henrique não tinha dúvidas de que isso aconteceria.

Ao me aproximar, tirei meu chapéu para você - faço isso para poucos. Você estava sereno, semblante de missão cumprida. Na camisa, um botton dos Beatles, sua banda preferida, e a bandeira do Grupo Nós cobria seu corpo. Cruzando seu peito, a correia que segurava seu pesado baixo - era a que mais gostava. Sua esposa Solange, irmã de Glauco e Pelicano, disse que foi um pedido de seus filhos, disseram que com ela você sustentou a família.

João, caro amigo, até qualquer dia. Aos amigos do Grupo Nós, meu carinho. Para Solange, Daniel, Rafael e Marina, dedico esse meu texto

Tributo a Johnny... eu estava lá!


O dia amanheceu lindo, parecia adivinhar o que ia acontecer no último 31 de agosto. O sol mansamente ia aquecendo nossa cidade neste final de inverno. Era o dia marcado para o histórico show Tributo a Johnny Oliveira, músico do Grupo Nós que nos deixou recentemente. Oito da manhã e nosso Teatro de Arena Jaime Zeiger nos esperava todo sorridente. O Alto do Morro do São Bento abria os braços para receber várias equipes que passariam o dia preparando esse local mágico, que no anoitecer receberia cerca de trinta artistas.

A união de Altair, Doni, Nilson e o próprio Grupo Nós, todos profissionais do meio musical que cederam gratuitamente seus equipamentos para esse grande evento, sob a coordenação do líder Henrique Bartsch, foi fundamental para o sucesso do evento. Entre cabos, monitores, pedestais, iluminação e telão, estavam os sempre fiéis Bill, Madeira, Meio Quilo, Cidão, Paulo Magalhães, Mauro Jr., Jéferson e Bicudo, cuidando de cada detalhe com carinho. Sabiam que deles dependia o sucesso da homenagem que seria prestada ao companheiro de tantos anos: o inesquecível Johnny.

Durante todo o dia, a movimentação no Arena foi enorme, com músicos chegando de várias cidades. No meio da tarde chegou o José Cláudio (antigo integrante do Grupo Nós, hoje morador em Botucatu), atendendo a convocação e com a partitura que recebera por e-mail. Soprava feliz a sua flauta, tendo como acompanhante Henrique no violão. Disse que não perderia este show por nada e trouxe na bagagem também o sax.

O canal TV Cidade, do meu grande amigo Evaldo Jardim, única TV presente, enviou os incansáveis profissionais Fernando, Marco e Wellington, que já no entardecer se posicionavam para a gravação.

A noite caiu no Teatro de Arena, assumiu a mesa de som frontal Max, irmão do Henrique, com auxilio de Marcelo e Roger, escudeiros do Cipó. Tudo pronto, o público seleto ia aos poucos ocupando os espaços. Nos bastidores, reencontro de amigos de música e estrada que há muito não se viam. Entre abraços e mais abraços, lágrimas banhavam rostos saudosos. E eu ali, vivenciando tudo.

Antes dos primeiros acordes, Máximo convidou a todos, e numa só voz rezamos o Pai Nosso. Foi emocionante! Então começou o desfile de artistas, que nada devem aos maiores do planeta: Grupo Nós, Grupo 17, Mauricio e Marcelo - esbanjando alegria - e eu, que cantei com Henrique "Feche os Olhos". Foi a primeira música que, na mocidade, nós cantamos com Johnny. Quando cantei minha segunda música, As Curvas da Estrada de Santos, olhei para minha direita e vi quatro sopros: Noel, Helcio, José Claudio e Wilson. Que honra a minha! Tudo sem ensaio! Só na partitura!!!

O show seguia com a banda Nós Quatro. Subi então para tomar minha primeira cerveja. Até então estava zerado. No meio da galera, dei de cara com o Kiko Zambianchi, que disse: "Vim para cantar!" E, de repente, lá estava ele no palco "rolando as pedras", e o show seguia com Johnny no telão e depoimentos de amigos longínquos: Lão, de Miami; Ferpa, direto do Japão; Ricardo, de Salvador. E lá vinha música, com ETC, Banda Tao, Pearl Cover, Maguila, Grilo, Vandinho, Maurão, Carlito, Perereca, Marcinho, Maira, Alex, Marcel, Prego, Carnot e o Grupo Nós, com Camila Zambianchi. Encerramos com todos no palco cantando o grande sucesso da banda, Fui eu quem quis assim.

O show foi beneficente e toda a alimentação arrecadada encheu uma caminhonete. Os produtos foram destinados para o Centro Espírita Mariano do Nascimento, que fica na Lagoinha. Saímos do Arena como se estivéssemos flutuando, tamanha era a leveza de nossas almas, e com a certeza de que, de onde Johnny a tudo assistiu, se sentiu realizado. E aqui deste lado, digo a ele: "Caro amigo Johnny, amigo não se compra, mas sim ... conquista-se. E foi o que você fez durante o tempo em que por aqui esteve e apenas parte de seus amigos lotou o nosso Teatro de Arena".

Tributo a Johnny Oliveira... eu estava lá!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Serenata na Praça Sete de Setembro

Queridos amigos
Amanhã sexta, 28 de outubro dentro do projeto da Secretaria Municipal da Cultura, vamos realizar nossa Serenata na Praça Sete de Setembro.
Música por conta do Sexteto Colibri e da cantora Leninha Liporaci.
Repertório passeando por sambas, tangos,boleros, e chorinho.
O show de dança será dos amantes dessa arte maravilhosa, nossos dançarinos.
Aconselho a levarem aquele banquinho basico.
Lá tem pipoqueiro, bexigas e balões e até a sorveteria do Jô pertinho.
Espero vocês lá.

| TELE HISTÓRIA | De A a Z, tudo sobre TV | Conta Bueno: Passarelli... o Repórter Rodoviário

TELE HISTÓRIA De A a Z, tudo sobre TV Conta Bueno: Passarelli... o Repórter Rodoviário

Piolim... a magia de um palhaço

Ainda criança, sentia exercer sobre mim uma enorme atração com tudo que se referia à arte. Naquela época, nossa grande diversão era o circo, o palco do povo. A maior atração, para nós, pequeninos, era o palhaço. Em Ribeirão Preto tivemos nosso Circo do Biriba, cujo palhaço dava nome ao circo - era o dono. Como esquecer Carequinha e suas canções infantis, educativas como O bom menino e festivas como Parabéns?

Quero falar hoje do rei dos palhaços, Piolim, nascido aqui em Ribeirão Preto no dia 27 de março de 1897 e que durante mais de trinta anos, ao lado dos filhos, manteve de pé a lona de seu circo no Largo do Paissandu em São Paulo.

Piolim nasceu no circo, era filho do dono, e com apenas oito anos fazia contorcionismo, movimentos que só uma criança nessa idade consegue fazer. Era invejado e tinha inveja dos meninos que frequentavam escolas normalmente - ele não podia, sua vida era de cidade em cidade, onde seu pai armava a lona.

Ele nasceu Abelardo e ganhou o apelido de Piolim quando, no picadeiro, num show, a corda do violino de um artista espanhol quebrou. Piolim, magrinho, correu em sua barraca trazendo rapidamente uma corda do seu violino. Nesse momento, o espanhol disse: "Parece um Piolim (barbante muito fino, em espanhol)". Nascia ali o palhaço Piolim.

Piolim sonhava em ser engenheiro para construir estradas e viadutos, mas Deus lhe reservou a nobre missão de espalhar alegria, divertir plateias, povoar sonhos nas cabeças das crianças. Piolim teve três filhos e dezesseis netos, deixou a Terra em 1973, aos 76 anos. Missão cumprida, rei da alegria!!!

Meu netinho Kauã (gavião, na língua indígena) estava para nascer e eu acompanhava a alegria do meu filho Paulo, minha nora Karla, meu neto Luiz Roberto e minha esposa Sonia preparando seu quarto, cada dia uma nova peça se juntava as demais, tudo para receber nosso rebento.

Estou tendo aula de pintura com Miranda, um dos maiores artistas plásticos do mundo. Já faz um ano e meio, tenho pintado grandes quadros. Disse a ele sobre minha intenção de pintar um palhacinho para colorir a parede do quarto de Kauã, e Miranda me sugeriu pintar o Piolim com seu chapéu coco, jaquetão enorme, sapato 84 com aquele bicão vermelho e sua inseparável bengala em formato de um anzol submarino.

Passei a mão num painel 50x70, nos meus pincéis e tintas mil e dias depois lá estava ele: Piolim na parede, no meio de brinquedos coloridos, véus protetores, edredom e tudo mais.

Kauã nasceu, uma coisa passou a chamou a atenção de Karla. Ao banhar e trocar o pequenino Kauã, ela observava o olhar atento do garoto no quadro do Piolim. Karla o virava e ele insistia em olhar para o rei da alegria. Pude conferir varias vezes esta cena e me perguntava: "Que fascínio Piolim exerce sobre Kauã, que mensagem angelical eles trocam?". Não sei.

Meu filho Paulo contou-me que, numa madrugada, Kauã chorava compulsivamente. Sem saber o que fazer, deu-lhe colo, andou com o garoto pela casa, mas nada o acalmava. Ao entrar no quarto, os olhos de Kauã fixaram no quadro de Piolim e, sem explicação, seu choro cessou. Paulo agradeceu, já tinha esgotado todo seu repertório de papai novo.

Kauã está hoje com oito meses, a cada dia tem uma nova descoberta que os pais correm para dividir conosco. O pequeno emite sons, está louco pra falar, andar, já bate palminha ensaiando para seu primeiro aninho. Dias atrás, meu filho disse: "Pai, entre com Kauã no quarto segurando-o na frente do corpo e se aproxime do Piolim." Lá fui eu. Ao ver o quadro, o nenê balançava os braços, debatia as perninhas demonstrando alegria contagiante. Queria abraçar Piolim, sua mãozinha acariciava a figura do velho palhaço como se quisesse entrar no quadro, parecia ser o encontro de grandes amigos. Como explicar??? Não sei, mas Deus e a espiritualidade sabem. Só tenho que agradecer à magia de um palhaço que mesmo em outra dimensão continua fazendo festa no pequenino coração de uma criança. Obrigado. Piolim.

sábado, 15 de outubro de 2011

Velhos Tempos

Sidney o batera já se mandou, o baixista que está na frente comigo chama-se Rui Vital, ele é músico na cidade do Porto, Portugal, o guita que está entre nós dois, chama-se Carlos Schusmmam, também já se foi e o teclado chama-se Vitor Stefanelli, é engenheiro no Rio de Janeiro.

De Ribeirão a Bonfim, a caminhada da fé


* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Como acontece todos os anos em 12 de outubro, Dia das Crianças e também de Nossa Senhora da Aparecida, bem antes das seis da manhã nossa equipe da Secretaria da Cultura já organizava os bastidores da Romaria Ribeirão – Bonfim.
O dedicado Cezinha, na direção da nossa van, desde as quatro horas apanhava nossos amigos Cirso, Ana, Simara e Rogério em locais distantes. Depois, já na Vila Tibério, dona Dita Fogueteira com seus rojões e dona Odete com uma enorme caixa cheinha de pétalas de rosa. A eles se juntaram Lílian Bin, Regina, Cristina e Igor.
Seis da manhã em ponto, Cirso acende o estopim da bateria de fogos, acordando parte da nossa cidade, anunciando que Nossa Senhora da Aparecida já está sobre o andor cuidadosamente preparado, em frente à passarela da Câmara Municipal, abençoando a todos que por ela procuram no afã de receber uma graça ou agradecer graça alcançada, e o que eu vi deixou-me impressionado. Fiquei com o corpo arrepiado quase que o tempo todo, que coisa linda e inexplicável é a fé.
Paulinho, da comunidade da Igreja Coração de Maria, empunhando seu violão, emocionava a todos, inclusive eu, com sua oratória maravilhosa e canções sobre nossa padroeira. Fernando Braga, jornalista do Jornal da Vila Tibério, registrava a emoção que pairava no ar e que tomava conta do publico presente. O vice-prefeito Marinho Sampaio confessou-me que o publico deste ano era superior ao do ano passado. Eu só sei que podíamos ver um verdadeiro mar de gente na frente da Câmara.
O ponto alto foi quando Luis Gustavo e Luiz Augusto, os meninos cantores de Bonfim Paulista, cantaram lindamente Ave Maria, e em seguida padre Julio abençoou os romeiros. Pouco depois das oito, o cavaleiro Felix tocou seu berrante, fiéis colocaram o andor nos ombros e deram inicio à 47ª Romaria de Ribeirão a Bonfim. Pela frente estavam 11,5 quilômetros a serem percorridos, com previsão de chegada minutos antes do meio dia na igreja onde seria realizada a missa.
Chegava a informação de que a avenida Caramuru estava com uma das mãos totalmente tomada até o Anel Viário, nunca se viu tanta gente. E lá fomos nós, o que se via no trajeto eram crianças carentes que, com suas mães, esperavam por doações dos romeiros que levavam balas, pirulitos e fitas, justamente para isso.
Imagens de Nossa Senhora de todos os tamanhos também estavam nos braços de fiéis, que aguardavam pela passagem da santa. Pouco antes da avenida João Fiúsa, uma família distribuía gratuitamente copinhos plásticos de água. Mais à frente, doações de pãezinhos. Na região dos condomínios, a Policia Militar, a Guarda Civil Municipal e a Transerp, com os “marronzinhos”, tiveram que ter muito jogo de cintura para dominar quem deles queriam sair, e aquela serpente de gente rastejava caminho afora.
Do alto do pontilhão do Anel Viário, onde a romaria passa por baixo, em meio a um grande publico estavam Simara, dona Dita Fogueteira e dona Odete com a caixa de pétalas esperando a passagem do andor. A medida em que ele se aproximava, a emoção foi contagiando a todos, e no momento da chuva de rosas o choro foi geral, nunca vi nada igual, tudo em meio a uma enorme salva de palmas e vivas a Nossa Senhora da Aparecida.
Já estávamos na parte de terra do caminho, vi muita gente descalça pagando com sacrifício suas promessas, vi também diversos altares com velas acesas que adornavam nossa passagem, alguns paravam para orar, às vezes até deixando algo.
Ao passarmos pela região do Royal Park, um caminhão e uma van distribuíam água gelada e bananas de graça, e a doce fruta caía como uma luva naquele momento. Logo à frente, bares improvisados vendiam de tudo, até cerveja, ali muita gente jogou a toalha, principalmente alguns cavaleiros.
Nesse trecho de terra senti falta das árvores que foram arrancadas, dando lugar a futuros condomínios. Elas nos protegiam com o frescor de suas sombras. Por fim, chegamos em Bonfim Paulista, que a todos recebia carinhosamente, em mais uma demonstração de fé. Missão cumprida e gratidão e, como da última vez, cheguei sem me cansar e com minha fé renova­díssima!!

* Cantor e compositor

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Histórias sobre Ary Barroso

Queridos amigos, neste meu texto desta sexta feira para o Jornal Tribuna, rebusquei na gaveta da minha minha memória algumas histórias sobre Ary Barroso.
Bom fim de semana e uma boa leitura.
Buenão.






Histórias sobre Ary Barroso

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Você já ouviu falar de Ary Barroso??? Se não ouviu, então, vou te dar uma força, pois na certa você já escutou ou cantarolou muitas músicas suas como Aquarela do BrasilNa baixa do sapateiroIsso aqui o que éCamisa Amarela e muitas outras riquezas da MPB vindas da “cachola” de Ary Barroso.
Faz algum tempo eu fui cantar em Minas Gerais e quando passava em frente a cidade de Ubá comentei com meus músicos: “Aqui nasceu Ary Barroso”. Daí passei a contar causus sobre o velho compositor que ficou órfão aos oito anos e foi criado pela avó, com quem aprendeu a tocar piano. Já moço, foi para o Rio de Janeiro estudar direito e, para se manter, fazia  de tudo um pouco. Era época de cinema mudo e ele tocava seu piano no cinema. De acordo com a cena, animava o filme, fazia o galope do cavalo ou os adoráveis tombos de Charles Chaplin.
Ary gostava de tomar uns gorós e logo se enturmou com o pessoal da zona boêmia carioca, onde misturavam-se artistas, compositores, radialistas, jogadores de futebol e cantores. Ele era Flamengo roxo e como locutor esportivo, quando ia transmitir jogos do seu Mengo e o adversário fazia um gol, ele ficava uma fera e não gritava gol, mas quando o gol era do Mengo ele virava torcedor. Ary Barroso era dono de um mau humor irritante. Numa época em que nem se ouvia falar em televisão, o rádio era o bambambam. Ary tinha um famoso programa de calouros onde não admitia o cara falar o nome da música e não saber os seus autores. Ele era tão cricri que, certa vez, uma jovem foi cantar Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e Vinicius de Morais, e o exigente Ary perguntou para a moça de quem era a música. E ela, temerosa, disse: “É do Vinicius de Morais...” Ary torceu o bigode e falou na bucha: “E o Tom, minha filha??? Cadê o Tom???” Ela sem nada entender respondeu: “O tom é lá menor...” Essa foi o fim para o velho que subiu nas tamancas. Foi ele o descobridor de Elsa Soares, que foi sua caloura.
Ary Barroso era apaixonado por samba e seus amigos diziam que ele fez um pedido para ser escrito como epitáfio na lápide de seu túmulo: “Aqui jaz um cara que detestava jazz”
Ary morava na periferia do Rio, e perto de sua casa tinha uma coisa que ele adorava, um “bar”. Certo sábado à tarde ele estava ali, bebericando, quando sua filha veio lhe chamar para ir até sua casa conhecer seu namorado, que foi lhe pedir em namoro. Ary disse a ela: “Fala para ele vir aqui”, e a filha, meio que sem jeito, falou: “Papai, ele não gosta de bar e não bebe e não fuma...” Ary tirou o chapéu da cabeça, colocou sobre o balcão, passou a mão no rosto e respondeu pra moça: “Olha aqui, minha filha, se esse rapaz não gosta de bar, não bebe e não fuma, não serve pra ser meu genro!!!”
Tem uma história incrível – entre tantas – contada pelo Ary. Certa noite ele estava em um bar no Leme, ao pé do chope, com Luís Jatobá e Fernando Lobo, pai de Edu Lobo, quando um sujeito apareceu com uns versos: “Moço, sei que o senhor toca piano e compõe, será que o senhor pode musicar esses versos aqui? Pago pouco, mas pago”.
Ary olhou os versos, nada entendeu e tacou uma música em cima, o cara gostou e disse: “Essa música será hino de uma dissidência de um terreiro de macumba”. Ary não gostou, mas deixou rolar.
A partir daí sua vida só deu pra traz, não compunha mais, nada o inspirava, o trabalho escasseou, até que recebeu uma carta anônima dizendo que em vários terreiros de macumba da cidade e do resto do Brasil estavam fazendo trabalho contra o autor do tal hino. Na mesma carta dizia para que ele procurasse uma velha mãe de santo em Niterói que ela poderia desfazer o mal.
Ary não deu bola e sua vida continuava no maior fubá, estava afundando cada vez, até que um dia decidiu: tomou a balsa, desembarcou em Niterói, a velha o recebeu e muito dócil o mandou tirar a roupa, porque seu negócio era feio. Deu-lhe um banho de estranhas ervas que a água da enorme bacia, que antes era clara, ficou escura, pastosa, cheia de miasmas e coisas ruins que haviam saído.
A velha senhora nada lhe cobrou e lhe disse; “Pode ir, meu filho, você não tem mais nada”. Ary Barroso tomou a balsa de volta ao Rio, já se sentindo outro cara, sentou no piano e logo compôs uma marchinha, o carnaval estava chegando, o sucesso tocou-lhe os ombros e nunca mais o abandonou.

* Cantor e compositor

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nesta terça feira 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, que seguiu os ensinamentos de Jesus dedicando-se aos pobres, chamando-os de irmãos. Em sua homenagem pintei-o bem do seu jeito, com sua roupa e seu capus de Franciscano. 

sábado, 1 de outubro de 2011

Algumas fotos







Quadro da minha sala, onde me encontro com meus amigos!!

A magia das tintas e pincéis


Queridos amigos, este é meu texto desta sexta para o Jornal Tribuna, anexo o quadro de que falo acima.
Bom fim de semana.
Buenão. 



A magia das tintas e pincéis

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Em janeiro de 2012, fará três anos que descobri a magia das tintas e pincéis. Digo a você, que tem o hábito de ler minhas escritas, que me tornei uma pessoa bem melhor, passei a enxergar coisas onde antes passava batido, cresci como ser humano, me fez um bem indescritível.
Passava eu, nem sei o motivo e a pé, pela rua João Ramalho, ali no seu primeiro quarteirão, bem na esquina com a Monsenhor Siqueira, e atentei para o que já tinha visto quando passava de carro. Estava escrito nas paredes de uma construção antiga: “Aulas de Pintura”. Isso em meio a alguns desenhos de Van Gogh. Quando a porta se abriu, um senhor beirando seus 60 anos convidou-me para entrar. Esse senhor era o artista plástico Miranda.
Já tinha lido muito a seu respeito, mas não esperava conhecê-lo ali, nem imaginava tanta humildade em um artista tão famoso. Ele deixou-me à vontade, perguntou-me se eu pintava, disse que não e que talvez nem levasse jeito para a coisa. E ele, gentilmente, disse de uma forma como a me incentivar. “Porque você não tenta, venha fazer umas aulas, só lhe fará bem, não precisa pagar nem comprar nada, use meu material, faça uma aula e se você não gostar, não continua”.
Resolvi encarar essa parada e logo na primeira aula disse ao meu mestre Miranda que não gostaria de pintar flores ou frutas e que meu sonho era um dia poder pintar os Beatles naquela famosa capa de 1966 em Abbey Road, em que os quatro estão atravessando uma rua sobre a faixa de pedestre.
Miranda tirou sua boina, coçou a cabeça e sabiamente respondeu: “Calma, Buenão, nada é impossível no campo da pintura, seu desejo poderá se consolidar, sim, mas primeiro deve mergulhar no universo e no segredo das misturas das tintas, nunca esquecendo o carmim é o tempero de tudo que você for pintar”. Miranda falou também que deveria começar pintando maçãs. Disse a ele mais uma vez que não queria pintar frutas. Mas Miranda, com toda a paciência, explicou-me que nas primeiras aulas era necessário pintar maçãs, uma, duas, dez, vinte até dar a impressão de que ela está saindo da tela, como uma verdadeira fruta. E lá fui eu, e obedecendo o mestre pintei tantas maçãs que nem sei, até que ele disse: “Agora você já pode pintar o que tiver vontade”.
Miranda é um ser humano encantador, incapaz de falar um não, já pintou mais de sete mil quadros árabes, é impressionante seu conhecimento nesse mundo, seu talento é tão imenso que tem quadro dele pelo mundo todo, no Palácio do Kremlin (sede do governo russo), na casa de praia que José Luiz Datena comprou do Robinho do Santos – Miranda pintou uma tela tamanho sete por quatro cujo tema é a chegada dos portugueses pelo mar –, e tem o talento dele também na casa do Sócrates no Condomínio Alphaville, em São Paulo. Também há um quadro dele no Palácio Rio Branco, sede da prefeitura de Ribeirão Preto, uma enorme tela que retrata um pedaço da nossa cidade antiga.
Miranda não é um artista marqueteiro, se fosse com certeza seria nome mundial e não o teríamos por aqui, e eu não teria aprendido o que sei. O que Miranda quer mesmo é tocar sua vida entre suas tintas e pincéis ao lado de sua esposa Sirlei, dos filhos Daniel, Eduardo, nora e netos. Sirlei, uma guerreira que dele não desgruda por nada, vive a paparicá-lo. Sob a batuta de meu mestre já pintei uns oitenta quadros e, meses atrás, realizei meu desejo de pintar os Beatles. Felizmente, e com muita emoção, pintei os quatro garotos de Liverpool atravessando a rua. Coloquei-o no cavalete em minha sala e fiquei a namorá-lo, mas conclui que algo estava errado, pois dois já morreram, então resolvi pintar outro igual, mas sem George e John. Passei nov\amente a observá-lo e pensei: “Pôxa, os dois morreram mas continuam mais vivos do que nunca”. Daí pintei suas auras num patamar mais elevado.
Adoro esse quadro, hoje ele ilustra meu texto. A vida nos tira coisas, mas nos dá outras, basta a gente estar atento, descubra você os prazeres das tintas e pincéis. E como sempre ouvimos: “Nunca é tarde para começar nada”.

* Cantor e compositor