sábado, 26 de maio de 2012

Homem que fez trinta e não casou é...



* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Esse meu amigo Tião do Violão tem cada tirada que eu vou te contar... tem umas que até me deixam meio que encucado. Tião é meu amigo de mocidade, aprendeu a tocar violão ainda adolescente, daí surgiu a Jovem Guarda, comprou uma guitarra e entrou na onda tocando e cantando coisas de nossa juventude. Participou de conjuntos talentosos que marcaram época em Ribeirão Preto. Já adultos, corremos atrás de nossos sonhos, cada um prum canto e eu só sei que Tião sumiu.
Faz uns vinte anos, eu cantava no Restaurante Ponto Chic, que ficava ali na avenida Antonio e Helena Zerrener, na baixada da Vila Tibério e numa bela noite Tião me aparece por lá com a esposa e dois filhos pequenos, quase na mesma idade dos meus. Eu estava cantando uma seleção de sambas antigos e no intervalo fui cumprimentá-lo.
Ficamos muito felizes com o reencontro e lhe perguntei se ele ainda era roqueiro, Tião deu uma bela risada e disse: “Buenão, virei sambista como você, canto todos os sambas que te ouvi cantando desde que aqui cheguei, aposentei minha guitarra, comprei um violão com corda de nylon, aprendi a tocar cavaquinho e participo de algumas rodas de samba por aí”. Pronto!!! Não precisava mais nada para que a gente engatasse nossa velha amizade, passamos a nos reunir com alguns bambas do pandeiro, surdo e tamborim.
Mas, tinha sábados à tardinha em que saímos só para colocar o papo em dia, “molhar a palavra” e para isso ele é ótima companhia! As vezes levava junto outro amigo, o Giba do Pandeiro, e a conversa não tinha fim, pois o Giba também tem histórias cativantes na gaveta da memória.
E papo vai, papo vem e já meio alegrão Tião do Violão sempre falava: “Buenão, o homem que tiver mais de trinta anos e ainda não casou... Das duas uma: ou é gay ou tem defeito de fabrica que moça nenhuma aceita.” A turma balançava a cabeça e eu dizia: “Cuidado Tião, não diga desta água não bebo, meu velho, você tem dois filhos e se de repente um deles ficar solteiro o que você vai dizer para nossos amigos sambistas??” E ele, muito machão, retrucava: “Que é isso, meu brother, pelos meus filhos pulo até de cabeça numa piscina vazia, cara, se não fosse homem com H, eu matava no ninho, meu chapa”.
O tempo passou e hoje os filhos do Tião estão com mais de trinta e ainda não saíram de casa, estão lá na maior mordomia: tendo casa, comida e roupa lavada, embora estejam bem empregados nem pensam em deixar a carreira solo, porque será??
Dia destes, no Bar do Chorinho, o sambista Sandro, que toca surdo em nossas rodas, resolveu cutucar o velho amigo: “E aí, Tião, você se lembra quando criticava com malícia os homens com mais de trinta que não se casavam??” Tião encostou seu cavaquinho num canto e mandou de volta: “Olha aqui, Sandrão, pra quem sabe ler, um pingo é letra cara, você se refere aos meus meninos não é???” “Meninos, não, Tião, eles já estão com mais de trinta”, Sandro respondeu.
“Acontece, Sandrão, que não dou mole não, amigo, cheguei junto varias vezes dando aquela prensa e eles dizem que não encontraram nenhuma moça prendada como a mãe, dizem também que as meninas de hoje só querem saber de baladas e que elas bebem mais que eles, elas não sabem nem coar um café, não sabem lavar copos, fazer comida então nem pensar, daí eu dei razão pra eles, amigo”.
Depois de um minuto de silêncio, Wilson do Tamborim entrou no papo e logo falou que na sua repartição tem um saradão com mais de trinta que só pensa em academia, tomar suplementos, tem dia que ele chega dizendo: “Hoje malhei os bíceps, amanhã vou malhar os tríceps..”. “Trata o sexo frágil de qualquer jeito, é um brucutu, falta mulher na vida dele”, afirma Wilsão. “E mais um solteirão na praça”, completa Sandrão.
Depois de ouvir todo esse “papo complexo” e muito pessoal, sugeri mudar de assunto e disse: “Amigos, vamos voltar ao samba, e pra fechar sugiro que cantemos ‘Amélia, aquela que era mulher de verdade.”

* Cantor e compositor

Antonio Carlos... você abusou, amigo!



* Bueno
buenocantor@terra.com.br
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Paulo Lakimé é, junto com Tininho e Decinho, músicos de Antonio Carlos e Jocafi, e com eles viajam por todo nosso Brasil. Ele também tinha o Bar Villa Lobos, onde hoje é a Casa do Dedé. Certa noite, em seu bar, a famosa dupla fez um show e eu e Sócrates fomos vê-los. Depois do show, foi combinado um almoço para o outro dia, no apartamento de cobertura do Sócrates, tipo duas da tarde.
Digo, com toda a certeza, que a tarde e a noite foram inesquecíveis, pois Paulo Lakimé e Adelaide, sua esposa, lá pelas seis da tarde, tiveram que ir embora, pois tinham que abrir o bar. Só sei que esse almoço virou jantar, que virou cantoria até mais de meia-noite, quando fui levá-los juntamente com minha primeira-dama para a casa de Paulo, onde estavam hospedados.
Entre sambas, boleros e causos ali contados, ficou em minha memória uma música que Antonio Carlos estava compondo. Fiquei fascinado pela poesia da letra, escrita por ele, que falava da relação da rosa com o espinho. Foi quando o artista me disse: “Vou terminá-la e o Paulão vai fazer o arranjo, vai ficar show”.
Entre os causos que ouvi, este que vou contar aqui Jocafi também conta e dá boas risadas... Dizia ele que a palavra brega nasceu em Salvador, cidade em que moram, quando tinham lá seus 18 anos e como todo jovem daquela época, tinham o hábito de ir à zona descarregar suas energias... Hoje, a coisa evoluiu de tal forma que a tal zona foi extinta em todos os cantos do Brasil. A rua da zona em Salvador chamava-se Padre Manoel da Nóbrega e nascia numa avenida à beira-mar, invadindo a cidade, e com o tempo, falava ele, o salitre (Jocafi usa este termo, nós por aqui falamos maresia) ia corroendo a placa que ficava pregada no alto da primeira casa...
O salitre comeu a palavra Padre, depois comeu Manoel, depois comeu o da, ficando o Nóbrega, que resistiu pouco tempo. E do Nóbrega comeu o nó, ficando só o Brega, daí quando a rapaziada ia pra zona dizia: “Vamos lá pra Brega”. Nascia assim o termo brega, que por aqui usamos para rotular quem está fora de moda.
Antonio Carlos e Jocafi, juntos com Paulo Lakimé, Tinim e Decinho, após vários shows em cidades da região, voltaram a Ribeirão Preto para um show no dia 9 de maio, no Sesc. Eles chegaram no domingo e logo na segunda já armaram uma cantoria na casa do Renatinho, cunhado do Paulo e que ama a dupla. Eu fui um privilegiado convidado. Lá cheguei tipo sete da noite, tinha dito a minha primeira-dama que voltaria logo, mas ela é sabedora de que quando vou para uma parada dessas esqueço relógio, celular e me desligo do mundo. Então, resumindo, nem sei a que horas fui embora. Mas também, como ir embora se nãol sabia se haverioa outra noite como aquela?
Ali revi velhos amigos, fiz novas amizades como Dr.Tablas, pai de Vinicius que forma dupla com Marcus, e estão lançando um CD. Conheci Adalberto, apelidado de Bradock, um figuraça, e entre outros amigos estava Tarciso, que tirava um chope no ponto e uma picanha de dar água na boca. Enfim, aquele ambiente irresistível e como eu gosto!!
Perguntei a Antonio Carlos sobre aquela música da rosa e ele a cantou na hora. Ficou simplesmente linda, naquela noite Jocafi estava inspirado, cantou muito e contou causos e mais causos e a gente ali tomando conhecimento de toda a trajetória da dupla. Foi uma noite pra ficar na memória de quem pode vivê-la.
O Sesc estava lotado para o show da dupla e, por acaso, cheguei junto com os artistas. O público fazia um enorme coral a cada samba cantado. Do meu lado estavam Dr. Mozart Figueiredo e Roberto Degani, que comentava da satisfação dos compositores, vendo sua obra sendo cantada assim por inteiro.
No meio do show tive uma surpresa, quando Antonio Carlos passou a mão no violão e disse: “Dedico esta música ao meu amigo Bueno, que me viu fazê-la”. E cantou A rosa e o espinho. Antonio Carlos, querido amigo, parodiando seu grande sucesso. afirmo com certeza, nessa letra e nessa música, “você abusou”, meu velho.

* Cantor e compositor