sábado, 17 de maio de 2014

O ídolo, o fã e a decepção

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
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Se tem um lance em que transito com desenvoltura é a tal a relação ídolo-fã, até porque convivi por muitos anos com cantores brasileiros, cantando, tocando e até dividindo palco, nunca vi nenhum deles ignorar um fã. Aquele momento do contato pra muitos é o ápice, é único, é o admirador diante de seu ídolo...
No mesmo assunto, só que no campo futebolístico, passei muitos anos bem próximo a um ídolo mundial, Doutor Sócrates, e o que presenciei durante todo este tempo guardo com carinho na gaveta da minha memória.
Escrevo esta minha crônica indignado com o tratamento que jovens fãs estão tendo por parte de artistas internacionais. Li que a cantora Beyonce estava cobrando US$ 2,5 mil para fazer fotos com fãs. Parei, dei um tempo, voltei a ler pra ver se tal notícia procedia e vi que realmente estava escrito isso que reproduzo aqui. Pô, meu !!! US$ 2,5 mil pra fazer uma foto? Ee olha que não faltou candidato.
Semana passada, li novamente que outra cantora – de quem nunca ouvi falar, não sei o nome muito menos de que país é, até porque o que ela canta não é minha praia, vi apenas uma foto, que é jovem e raspa um lado da cabeça – também estava cobrando de fãs “brasileiros” uma senhora grana, R$ 800 para fazer fotos, e com um alerta: não era para se aproximar da artista.
Vi na internet um jovem que fez foto paga com ela, mantendo a distância, sempre policiada por assessores, e percebi o constrangimento do fã. Poxa!!! Aquele momento esperado por ele, sabe-se lá por quanto tempo, e recebe esse tipo de tratamento? Achei o fim, confesso que senti pena dele, seu rosto expressava a face de um verdadeiro babaca, acho que quando caiu a ficha arrependeu-se amargamente, daí a decepção.
A maioria dos cantores veio de uma infância de poucos recursos, até que um dia, Deus coloca a mão em seus ombros e lhes assopra no ouvido: Agora é sua vez, vá, cumpra sua missão, deixe que sua voz ecoe por vales e montanhas, deixe que a brisa carregue em suas asas a doce melodia da alegria, da esperança, da emoção, faça pessoas felizes, você pode mudar a vida de muitos, basta que você leve sua mensagem. Pena que poucos percebem.
Voltando a Sócrates, em 1999 estávamos gravando nossas músicas em São Paulo e, numa tarde, fomos fazer uma sessão de fotos para a capa do nosso CD. O local escolhido era um estúdio tipo ateliê, muito lindo. Assim que descemos do carro, passou um motociclista que quando viu Sócrates, deu o maior grito... “Sócrates!!!” Sócrates parou para atendê-lo e o fã disse que seu sonho era conhecê-lo. O Doutor lhe deu a maior atenção, até falou porque estava ali. Despediu-se do jovem e entramos no estúdio.
Ficamos fazendo as fotos por umas duas ou três horas até que o porteiro veio até o Magrão e disse: “Doutor, tem lá fora umas quarenta pessoas esperando por você”. Sócrates falou: “Vamos lá”. E saiu. Fiquei um pouco distante vendo a reação das pessoas diante de seu querido ídolo, no meio estava o motociclista que muito feliz espalhou a notícia de que Sócrates estava ali. O Doutor fez fotos com todos, autografou revistas e camisas e a galera o tempo todo o rodeando, olha que foi difícil sairmos dali.
Entramos no carro e eu, admirado com este lindo assédio que em Ribeirão Preto ainda não tinha visto, disse: “Pôxa, Magrão, que cena maravilhosa acabo de ver, amigo, faz mais de dez anos que você parou de jogar e seus fãs parecem aumentar. Parabéns por tratá-los com tanto carinho.” Ee sorriu e sabiamente respondeu: “Buenão, você não pode destruir os sonhos de quem te cultua...”

* Cantor e compositor

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Idoso, quem quer ser?

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
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Acho esse negocio de ser idoso o maior barato, pois estou com 66 anos e nem vi o tempo passar, talvez até porque não paro, estou sempre em processo de criação. Sempre fui assim, de ter várias atividades caminhando juntas. Nunca aprendi a escrever a máquina, achava que jamais precisaria, de repente me vi aposentado e como é um processo natural, a vida vai nos tirando algumas coisas, mas nos dá outras. E foi o que aconteceu comigo, comecei a escrever crônicas com um amigo teclando pra mim, uma vez que não tinha nenhuma habilidade com o computador, ia sacando como ele usava o word, e aquele processo de salvar e tudo mais, acabei me apaixonando pela máquina e hoje ela é uma companheira e tanto.
Às vezes cruzo com amigos do tempo de grupo escolar, do tempo ginasial, alguns estão no maior bagaço, daí me ponho a pensar: “será que eles me vêem da mesma forma como os estou vendo???” Ora, se vêem, não to nem aí, só sei que muitos não se cuidam, nada fazem para se ajudar, talvez um pouco de auto-estima pudesse fazer uma grande mudança, mas tem que sacar a parada.
Outras vezes pergunto a antigos amigos se eles têm e-mail ou faceboock, a grande maioria diz nem querer saber, daí discordo e até já mudei hábitos de alguns, acho que com tanta modernidade, não acompanhar pelo menos o básico, é isolar-se. Não sei se estou certo ou errado, mas sei que dou muito trabalho para meu filho Paulo Bueno nas coisas mais complicadas com meu notebook, mas ele tem a paciência e está sempre disposto a suprir essa minha falta de talento. assim vou vivendo e muito feliz da forma que levo a vida.
Dia desses, no estacionamento de um shopping lotado, eu estava tirando meu carro e um jovem deu uma volta para ocupar minha vaga. Quando ele se aproximava, um senhor aparentando uns 70 anos colocou o veículo dele na vaga, daí o jovem disse: “O vovô, coloque no lugar dos idosos, deixe esta vaga pra mim”. Várias vagas para idosos ficavam do lado e estavam vazias, mas o senhor, com um mau humor tipo do cantor Jamelão, respondeu com tudo:” Coloque lá você, quem te disse que eu sou idoso???” O rapaz até se desculpou, o idoso saiu e o moço me disse: “Essa eu não entendi”. Até falei: “este não aceita a idade.”
Das mais diversas vantagens que os idosos conquistaram, a que mais uso é o estacionamento, fila de idoso em supermercado nem pensar, só em último caso. Dia desses, num deles, entrei na maior roubada. A fila comum estava enorme, daí resolvi encarar a dos idosos, que estava bem pequena. A minha fila não saía do lugar, a outra ia de vento em popa. Depois é que saquei, as pessoas bem mais idosas têm dificuldade com cartões, localizar dinheiro na bolsa, embalar as compras...
Nesse dia até presenciei um bate-boca entre duas velhinhas com uma senhora bonitona que estava na frente delas. Aachavam que a moça não tinha 60 até que a bonitona estourou, dizendo: “Se estou aqui é porque tenho direito, não aparento idade porque não bebo, não fumo e meu marido cuida muito bem de mim.” Silêncio geral na fila.
Batendo papo com meu amigo Tião do Violão, ele saiu com essa: “Buenão, veja como é a vida, quando éramos jovens e solteiros, íamos para o Guarujá e voltávamos contando o maior papo, que descobrimos uma boate nova e coisa e tal. Depois a gente casa, vem os filhos, daí vai pra lá e volta dizendo: ‘descobri um restaurante que vou te contar’. E hoje, quando vamos pra lá, voltamos dizendo: ‘descobri uma farmácia que é show de bola...’” Caímos na risada!!! Esse Tião...
A maravilhosa atriz Fernanda Montenegro disse e eu adorei: “Quero envelhecer naturalmente, quero curtir cada nova ruga em meu rosto e lembrar o quanto foi difícil conquistá-las.”

* Cantor e compositor

Minha mãe, ô saudade!!!

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
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Faz dias que estou tentando encontrar uma forma para escrever sobre o Dia das Mães, e assim falar de minha saudosa mãe. Poxa, mas como encontrei dificuldade, sendo que a coisa mais fácil do mundo seria falar sobre ela. Isso acontece comigo no campo musical. Já compus músicas para meus filhos, meus netos, meu pai, minha esposa, mas a música de minha adorada mãezinha até hoje não consegui.
Não que não tenha tentado, até que fiz uma e quando ela estava quase que pronta, parei de compô-la, não a terminei por achar que minha mãe merecia uma música tipo assim, única, aquela que quando eu cantar terei a certeza que era pra ser dela, somente dela. Sou teimoso, vou fazê-la, a paciência e a esperança são minhas parceiras.
Mês passado foi aniversário de meu saudoso filho Lucas Bueno e quando na solidão de meu quarto escrevia sobre ele, teve vários momentos em que a emoção invadiu-me por inteiro. Num momento muito lindo, senti sua presença como se me abraçasse e com as mãos afagasse minha cabeça. Foi muito forte, lembrei-me do que ouvi do também o saudoso Tio João, discípulo de Chico Xavier. Disse ele numa palestra que quando sentíssemos saudades de um ente querido, bastava pensar nele com muita fé que imediatamente ele atenderia nosso pedido.
“Você vai senti-lo”, disse ele, e de fato o que o sábio falou é o que sinto quando penso em meu filho, um arrepio contagiante, leve como a brisa doce de um vento. Neste mesmo dia, ainda escrevendo, da mesma forma pensei em minha mãe e disse baixinho, como a  pedir colo: “Poxa, mãe, se você estivesse aqui...” E como num passe de mágica, novamente fiquei arrepiado e com a certeza de que ela atendera meu pedido.
Recebi recentemente um lindo e-mail com um pequeno vídeo em que uma mamãe passarinho alimentava seus filhotes, eram uns seis, todos com suas boquinhas abertas, pareciam famintos, percebia-se o cuidado da mamãe ao alimentá-los. Daí viajei no texto e nas imagens, danei a pensar, sabe-se lá a que distância ela foi buscar a “refeição”, e o quanto foi penoso chegar até seu lar e cumprir sua missão de ajudar a povoar matas e florestas.
Esta cena continua viva em minha memória e assim volto a minha infância, quando não sabíamos de onde vinha nosso alimento, só sabíamos que ele nunca nos faltou. Minha infância foi muito pobre, mas em nosso lar o amor transbordava por frestas e janelas, éramos meu pai, minha mãe e seis filhos, só depois de adulto é que me dei conta do que minha adorada mãe passou para nos alimentar. Tenho certeza que em muitas noites deixou de comer para que não nos faltasse. Eu, criança de sete, oito anos, nada percebia...
E hoje, já avô de dois netos maravilhosos, reviro minha memória em busca daquele tempo em que, aos domingos, nossa casa era uma festa, sempre teve música. Minha irmã Ruthe canta maravilhosamente bem, mamãe cuidava da cozinha com esmero, e desde o café da manhã, passado num coador de pano – seu aroma percorria todos os cômodos do nosso lar –, até nosso almoço nada se igualava, o tempero de minha mãe não tinha segredo, tinha era muito amor, daí seu inesquecível sabor.
Sinto saudades de tudo, do colo de minha mãe, da sua ternura, da sua doçura, de seus gestos, de seu sorriso cativante, do seu despedir quando a visitávamos... Sou um homem abençoado, pois tive o privilégio de ter sido seu filho. No jardim de meu coração, a flor mais linda é minha mãe, pois ela tem o nome da rainha das flores... Minha mãe se chama Rosa.

* Cantor e compositor