sábado, 9 de julho de 2011

O calcanhar de Sócrates.


* Bueno
buenocantopr@terra.com.br

Antes tarde do que nunca, diz um velho ditado. Lembrei-me dele, e lembrei-me também de um samba de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, Quando eu me chamar saudade, em que, num trecho da letra, o personagem reclama, dizendo: “Sei que amanhã, quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha bom coração, alguns até hão de lembrar querendo me homenagear fazendo de ouro um violão, depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora, por isso é que penso assim, se alguém quiser fazer por mim, que faça agora, me dê às flores em vida”. Escrevi a letra até aqui para poder entrar no meu texto de hoje.
“Me dê as flores em vida...” Acho essa frase genial, escrita num momento em que os dois autores andavam meio que esquecidos, na maior pindaíba, grana só quando um amigo como Carlinhos Vergueiro os convidava para participar de seus shows, assim podiam ganhar algum.
Dias atrás, vendo TV, fui pego de surpresa: os pés de Sócrates estavam passando para a história do futebol. Pois é, o Magrão, dentro da grandiosidade do esporte favorito dos brasileiros, estava recebendo essa homenagem. E ele não deu um toque pra ninguém desse fato, até porque o Doutor não avisa quando vai receber uma homenagem ou participar de algum evento como esse. Assim é Sócrates, simples como simples sempre foi sua vida. Sócrates é despojado de qualquer bem material.
Eu, como seu parceiro, compadre e amigo, vendo Sócrates colocar seus famosos pés naquele quadrado de acrílico da Calçada da Fama do Maracanã, senti-me orgulhoso. O repórter ainda falou da magia de seus pés, dando ênfase ao seu calcanhar que era o terror das defesas inimigas e enchia os olhos de quem gostava do verdadeiro futebol.
Perguntaram ainda a Sócrates se ele tinha saudade dos velhos tempos, disse ele que sente saudade do futebol praticado no seu tempo e que hoje é só correria, preparação física... Quem sou eu pra discordar do Doutor!!!
Quando a TV mudou a noticia, estava só em minha sala, daí danei a pensar em nossas andanças e me bateu enorme saudade do parceiro que hoje mora em São Paulo, saudade do companheiro de tantas madrugadas!!! Quantas boemias!!! Nossos papos que varavam a noite, causos e mais causos, das canções que a gente compôs no Empório Brasília, em que eu, de violão em punho, levava a melodia pronta para que Sócrates as letrasse. As pessoas próximas acompanhavam loucas para ver mais um samba acabado, e tanto ouvirem pedaços e mais pedaços, acabavam até por decorar a letra, e no fim cantavam juntas.
Dos telefonemas que dava para os amigos da seleção de 1982, que ele dizia amar como sua segunda família, principalmente Leandro, grande lateral e que hoje tem uma pousada em Cabo Frio, Sócrates falava muito com ele e quando desligava dizia adorar Leandro, a quem chamava carinhosamente de Léo.
Tenho prontas algumas canções para Sócrates letrar, só estamos esperando uma brecha em sua agenda, que ultimamente está lotada. Daí numa mesa de um bar qualquer, algumas cervejas, uma caneta, um pedaço de papel e a gente entra em processo de criação e quem sabe num lampejo ele use sua mão como fosse seu genial calcanhar e um novo samba possa até nascer.

* Cantor e compositor

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