sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ubachuva

Meus queridos amigos Carlinhos e Valéria, proprietários da loja de instrumentos Guitar Music, fizeram um convite irrecusável aos 45 do segundo tempo: passar o feriado prolongado em uma pousada em Ubatuba - mais conhecida por Ubachuva. Pelo apelido, imagina-se que Pedrão tenha o hábito de abrir as torneiras do céu com mais frequência direcionadas pra lá.

Minha primeira-dama Sonia, internauta de primeira, toda feliz, tratou logo de consultar o tempo. Indicava frente fria chegando por lá na sexta-feira, trazendo frio e chuva. Como esta tal previsão tem batido na trave ultimamente, não demos a mínima. Em meio a malas e sacolas, foi também meu violão. Saímos então do enorme calor que abrasava nossa Ribeirão Preto e colocamos o pé na estrada. Fomos viajar, porque viajar é preciso, e em companhia de amigos, melhor ainda, quando viajamos levamos nossas almas pra passear.

Duas da tarde da sexta-feira estávamos aportando na linda Pousada dos Golfinhos, que fica no quintal da Praia da Toninha. Meia hora depois, Carlinhos e eu estávamos molhando a palavra com uma cerveja supergelada. Porquinho e camarão foi nosso cardápio praieiro, pisando naquela areia branquinha de frente para o mar de um azul de fazer a alegria dos pintores. E nossas esposas, entre protetores solar, só no tititi.

Estávamos ganhando de 1 a 0 da previsão do tempo, a gente gostando do jogo e em meio à multidão pude observar um jovem casal cuidando do filho de, creio eu, sete aninhos. ASo colocá-lo no colo a caminho do mar, percebi deficiência em suas frágeis perninhas. Puxa!!! Um menino tão bonito!

O sábado amanheceu com o sol nos dizendo um bom dia sem tamanho. Entrou pelas frestas de nossas janelas nos convidando para dele desfrutarmos. Disse logo para o Carlinhos: "2 a 0 pra nós, amigo, esta previsão é a maior furada". Logo na sala do café da manhã, vi o menino da praia com os pais, estava na nossa pousada, puxei papo e me falaram seu nome: João Pedro.

Logo depois, na praia, entre Marias Eduardas, Anas Luizas, Gustavos e Henriques, também estava João Pedro, na mesma situação: arrebentando meu coração de pai e avô. O dia foi show, esticamos a noite por Ubatuba. Já na volta, um vento frio dava sinais de querer virar o jogo. Não deu outra, fortes ventos na madrugada trouxeram a famigerada frente gelada.

Como não ia dar praia, esticamos um pouco mais o nosso café da manhã. Foi quando vi João Pedro e os pais ocuparem uma das mesas. Ele com um sorriso encantador, irresistível. Não aguentei e fui lhe falar um oi. João Pedro esticou suas mãozinhas para apertar as minhas. Fazia muito esforço para isto. Foi quando percebi que, assim como as pernas, elas também eram atrofiadas. Foi de cortar o coração!

Depois desse cumprimento, retornei à minha mesa, mas ainda ouvi a sua doce voz, toda alegre, dizendo aos pais: "Ele pegou na minha mão! Ele pegou na minha mão!"

Comentei com Sonia, Valéria e Carlinhos: "Acho que vou buscar o violão e cantar para o pequenino". Todos apoiaram e, em segundos, sentei -me à sua frente e perguntei: "João Pedro, posso cantar pra você?"A mamãe dele disse: "Cante sim, ele adora música, seu tio é músico." Vi seu rosto iluminado de felicidade, dedilhei meu violão e cantei do nosso poeta Vinicius de Morais a canção que ele compôs para crianças, A Casa: "Era uma casa, muito engraçada, não tinha teto não tinha nada..." A emoção tomou conta de todos, ali cantamos mais uma. O resto do dia pelas varandas da pousada foi aquela cantoria.

O tempo virou o jogo e choveu domingo, segunda e terça. Quando de lá saímos, às nove da manhã, muito embora tenhamos perdido para a previsão do tempo, passamos dias maravilho¬sos. Tão bom quanto sair para viajar é voltar para casa. João Pedro foi embora e não nos despedimos. A sua lembrança permanecerá enfeitando meu coração. Desta viagem guardarei detalhes de estar no lugar certo, na hora certa e com as pessoas certas

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