terça-feira, 8 de novembro de 2011

O velório do Kaxassa

Você conhece o Kaxassa??? Nao??? Não perca tempo, dê um jeito de se dar esse prazer. Kaxassa é uma figura que faz parte da história da cidade. Tal como o presidente Lula incorporou o apelido ao nome, ele já bateu a casa dos quarenta, mas bate em seu peito um coração sonhador de eterno menino. Está hoje além do peso, mas quando moço era magrelo, peso pena. Certa vez cruzei com ele em companhia do filho. Ao parar para o abraço amigo, Kaxassa tirou do bolso da camisa uma tabuleta, em que estava escrito: "Fui operado do gogó, não posso falar". Fiquei imaginando seu sofrimento, pois o que mais gosta na vida é falar!!! Kaxassa não tem carta de motorista, embora tenha tentado tirá-la centenas de vezes. Sua cabeça vive em constante processo de criação, e ele não consegue pensar parado. Ao surgir uma nova ideia, começa a se movimentar, viaja na maionese, não enxerga nada e atravessa ruas sem sacar o trânsito, motivo que o fez entrar para o Guinness Book: foi atropelado mais de trinta vezes, segundo ele mesmo, por motos, carros, ônibus, bicicleta e até por cadeira de rodas.

Kaxassa ficou fora de combate dos bares por mais de dois anos, só na "sem álcool" - provou todas as marcas. Seu "Figueiredo" resolveu lhe dar cartão vermelho, tirando-o de campo com uma hepatite que quase o levou a nocaute. Foi salvo pelo nosso competente doutor Edmundo Raspanti, e acho também que Deus quis recompensá-lo pelo que faz por nossas crianças carentes. Hoje, curado, voltou a bater um bolão, é titular absoluto na mesa sete do Bar do Jóquei.

O "causo" que agora conto é a razão do titulo desse texto. Houve uma época em que Kaxassa fazia parte de uma turma boa de copo. Saíam todas as noites para beber, bebiam em todos os bares do centro, não havia bebum que não os conhecesse, eram boêmios de carteirinha. Certa noite combinaram de beber na antiga "rodoviária do triângulo", onde hoje fica o Corpo de Bombeiros. Lá foram Kaxassa, Sarjeta, Cachorrão, Joel, Stélio Poeta, Fernando e Guma, todos a pé - ninguém tinha carro. Horas depois, voltaram para os bares do centro. Ao passarem pela rua José Bonifácio, encontraram um caixão que uma funerária havia abandonado ali, talvez por algum defeito. O grupo, em estado etílico elevado, nem percebeu. Tinha até algumas flores murchas no lixo. Alguém teve a genial ideia de fazer pelos bares o velório do Kaxassa, que era o mais leve e ainda cabia certinho no esquife - parecia ter sido feito pra ele.

Ao chegar no bar do japonês Irochi, colocaram o caixão sobre uma mesa e disseram: "Gente, o Kaxassa morreu e seu desejo era ser velado pelos bares onde bebia". Foi aquela choradeira, brindaram a morte do defunto, passavam o copo próximo ao nariz do "morto" e diziam "essa é pra você, Kaxassa", e foram de bar em bar. Nessa altura, o cortejo já era enorme. Encerraram o velório no bar Lanches Árabe do saudoso Moacir Bonagamba (Moa). Bar lotado para dar o ultimo adeus ao maior boêmio da cidade, quando um amigo, ao brindar, deixou cair na cara do morto um pouco de cerveja. Nesse momento Kaxassa levantou do caixão jogando flores pra todo lado. O pessoal foi se afastando e achando que a bebida tinha ressuscitado o "defunto", que disse: "Cansei de ser morto, também quero beber". E foi aquela farra.

Dessa turma citada tem gente que já se mandou, outros regeneraram, outros estão tocando a bola no chão, devagar, mas com muitas histórias pra contar.

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