sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sururu no Velório do Fumaça

Caros amigos
Este é meu texto para o Jornal Impresso Imobiliário deste mês.
O fato é como diz Chico Lorota..." Aconticido"
Bom fim de semana
Buenão.






Sururu no Velório do Fumaça

    Nas minhas andanças pelo universo musical, participei de incontáveis rodas de samba, e uma boa roda de samba que se preza, não importa se o cara é encanador ou doutor, só precisa ter samba nas veias e nesse metiê, conheci pessoas puras, alegres, sambistas de tudo que é jeito, de todos os vícios imagináveis, conheci também vários tipos de malandros, e entre tantos, passeia o malandro boa praça, que é aquele que apronta com você, uma duas três vezes e você não o isola do meio, sempre perdoa o vivaldino que continua aprontando com um, aprontando com outro e assim permanece na área. Tinha um cavaquinista (tocador de cavaquinho) seu nome era Luizinho do Cavaco o cara era o maior 171, tocava seu instrumento como poucos, tirava um som tão puro das cordas de seu cavaquinho que raramente se ouvia, seu talento lhe dava créditos. E foi numa dessas paradas regadas à samba e água que passarinho não bebe, que conheci “Fumaça” um sambista de primeira.
Fumaça era um negro alto, boa pinta, sempre sorrindo e ao sorrir exibia aquele sorriso de marfim, dono de uma simpatia que a todos contagiava, levava no gogó sambas de Martinho da Vila a Noel Rosa, passeava com talento por todos os instrumentos de percussão mas no surdo e pandeiro, não tinha pra ninguém, Fumaça era camisa 10, enfim Fumaça era a alegria da roda de samba.
Como nem tudo pode ser perfeito, tinha o outro lado da moeda, Fumaça tinha os mesmos hábitos de Luizinho do Cavaco e muito mais, um deles era parar seu fusca na saída do bairro onde morava, abria o capô, simulava estar sem gasolina e acenava com um galão, não faltava quem não lhe desse uma força, enchia o tanque rápido. Não passava nem quinze dias lá estava Fumaça de novo, até que a galera sacou sua malandragem e lhe dava um sinal de negativo.
     Fumaça era casado, tinha três filhos pequenos, era um homem de muitos amores, acredito até que tinha o aval da sua primeira dama para suas puladas de cerca, ele era arteiro mesmo, a cada roda de samba lá estava ele de amor novo.
     Mas eis que um belo dia sou pego de surpresa, com um telefonema do sambista Zé Cuíca me dando conta que deu um piripaque no Fumaça, e ele se mandou. Sua mulher disse que seu desejo era que em seu velório não houvesse choro, nada de tristeza e sim muita cerveja e samba como sempre viveu, essa foi razão da minha convocação pelo Zé Cuíca. Cheguei ao velório com meu violão e logo entrei na festa, os amigos fizeram a famosa vaquinha e lotaram um freezer de ceva e o samba corria solto com amantes do siriguidum chegando a todo o momento.
     Na sala onde Fumaça estava sendo velado, de um lado estava a patroa, sua primeira dama e seus filhos, olhos lacrimejantes e do outro duas das amantes que já conhecíamos do samba, acho até que todas se conheciam, e elas pareciam esconder uma certa cumplicidade. No caixão lá estava Fumaça, bem produzido, terno, gravata, flores e tudo mais que um defunto tem direito, seus lábios esboçava um sorriso maroto como a adivinhar o que estava para acontecer.
     Quase aos quarenta e cinco do segundo tempo, o samba rolava legal, a equipe do velório já articulava a saída do corpo, percebi certa movimentação, com gente esticando o pescoço, abrindo caminho e dando passagem para uma moça que acabava de chegar, entre nós era o maior bochixo, prevíamos que um barraco vip estava para ser armado. E ela entrou no salão, fomos acompanhando passo a passo. Cara!!! A moça era um avião, uma belíssima morena, a gente já sabia que era a amante mais recente do Fumaça, e ela veio a caráter, super elegante, um vestido preto justíssimo valorizava as curvas de seu corpo, sapatos de salto altíssimo, cheia de charme, chapéu com véu lhe cobrindo o rosto, luvas, até uma bolsa de marca famosa enlaçava seu braço. Ao se aproximar do caixão para despedir-se do amado, foi silencio geral, paramos o samba pra não perdermos a cena inusitada, a primeira dama permanecia do mesmo jeito de cabeça baixa, mas meu amigo!!! As duas antigas amantes partiram pra cima da bonitona e ela não se intimidou, mostrou também que era boa de briga, encarou as duas no braço e o sururu foi armado, era a mão naquilo e aquilo na mão, palavrões impublicáveis, cabelos arrancados, músicos acuados, tratei logo de proteger meu pinho.
Depois daquele rala e rola e empurra, empurra, elas foram colocadas pra fora, a paz voltou ao velório.
    Antes de fecharem o caixão olhei o rosto de sua esposa que se mantinha sereno como querendo responder as amantes, podem brigar a vontade, ele era meu, ele saia com vocês, mas sempre voltava para nossa casa, me fazia cafuné, aquecia nossa cama, olhei o rosto do amigo para o até qualquer dia e me intriguei com aquele sorriso sacana tipo: Buenão, é chato ser gostooooso.

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