domingo, 6 de novembro de 2011

Elifas Andreato... o gênio gráfico

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Quando Sócrates fez 50 anos, nós armamos a maior festa aqui em Ribeirão Preto para comemorarmos meio século do Magrão. Sabíamos que nem Zico nem Falcão nada fizeram para festejar a mesma data, que digamos de passagem, é uma baita data, afinal, meio século de vida tem que valer a pena ser lembrado. Daí juntamos uma galera de peso como Edwaldo Arantes, Kaxassa, a turma do Cauim, do Templo da Cidadania e começamos a articular o grande dia.
Grana não tinha, mas tínhamos amigos empresários. Ideias das mais malucas foram pintando e as levávamos até eles, que foram abraçando e a coisa foi ganhando tamanho corpo que resultou em três dias de festa, acreditem. Como o Doutor faz aniversário dia 19 de fevereiro, calhou de ser o sábado que antecedia o carnaval, e mo mesmo dia em que saiu o Bloco Berro do Cinclube Cauim, em périplo até o Templo da Cidadania, e que foi especialmente preparado para suportar tamanha festa, até a piscina cobrimos e recheamos de mesas.
A festa começou na sexta feira com show do sambista carioca Carlinhos Vergueiro que veio do Rio só pra cantar na festa do amigo. Jornalistas de todo Brasil e até emissoras de TVs japonesas e inglesas registraram tudo, fizemos o maior marketing para festejarmos o aniversário de um dos maiores craques do mundo, convites eram disputados no tapa e eram limitados. Mas, mesmo assim tinha gente saindo pela janela, nem sei como oTemplo da Cidadania não explodiu.
A festa continuou no sábado, depois das dez da manhã, com direito a uma pelada no CT do COC. Em campo todos os irmãos e filhos do Magrão, também amigos daqui e amigos que vieram de longe... E o ponto alto da partida foi uma caneta, uma bola entre as pernas que o Doutor deu em Kajuru, que caiu sentado, e esse lance ganhou mídia nacional. No final, todos posaram para uma foto histórica.
Sábado, final da tarde, o Bloco do Berro saiu com samba enredo próprio, naquele ano composto por Marcio Coelho. E o tema foi Cinquentão do Magrão e seu genial calcanhar. Já no Templo, muito samba e a festa rolou a noite toda.
Mas, o que descrevi até agora não teria o brilho que teve se não tivesse em tudo o talento, a criatividade e as mãos de um dos maiores artistas gráficos do mundo: Elifas Andreato.O gênio Elifas fez a arte das camisas, botons, flâmulas e outras cositas mais que quem esteve na festa se sentiu mesmo um privilegiado. Foi quando tive o prazer de conhecer Elifas Andreato.
Sábado que passou, 29 de outubro de 2011, sete anos depois, revi o amigo. Elifas veio a convite da Escola de Samba Bambas e da artista plástica Lavinia Trebbi fazer uma palestra sobre sua obra, como parte do projeto do Ponto de Cultura Mosaico dos Bambas.
A palestra estava marcada para as 19h30, mas, meia hora antes caiu a maior chuva com ventos na cidade, daquelas que interrompem casamentos, derrubam árvores, desligam semáforos... Mesmo assim, um público fiel da nossa cultura se fez presente. Vi nas mãos de muitos fãs capas de antigos LPs e livros para Elifas autografar.
Esse grande artista nada mudou da última vez que o vi, e começou sua palestra simples como sempre foi, contrastando com a monstruosidade de tudo que já fez. Mostrou e comentou no telão o quadro que pintou quando da morte do jornalista Wladimir Herzog, mostrou a capa do LP de Adoniran Barbosa com cara de palhaço, que o pessoal de marketing da gravadora não aprovou, mas o velho sambista sim e só não entendeu o porque se ele tinha adorado, e por isso tornou-se tão famosa.
Entre tudo que mostrou e comentou, gostei mais da capa do LP Nervos de aço, de Paulinho da Viola em que ele está em lágrimas segurando um bouquê de flores. Disse Elifas que Paulinho o convidou para fazer a capa do disco e que ele estava sem um tema, foi quando Paulinho o chamou para dar uma passada em sua casa. Lá chegando, encontrou Paulinho da Viola sozinho, muito triste e a casa vazia. Ele havia acabado de separar-se de sua primeira esposa, e a cena por Elifas vista bastou para tão magnífica capa, que expôs para o Brasil a separação do amigo.
Elifas adorou ter vindo e nós, na plateia, mais ainda. E outra vez lambuzei-me de tanta cultura e qualidade!! Sinto muito, mas quem não foi, perdeu.

* Cantor e compositor

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