segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Meu pé de cajamanga

Se tem uma coisa que me dá um grande prazer é passar, quando posso, pela sorveteria do Geraldo e me deliciar com os sabores que ele consegue extrair das frutas. Gosto de todos, até do de gengibre, mas tem um marcante cuja época está chegando: no outono e no inverno, ele dá o ar da graça, o sabor azedinho da cajamanga que em breve estará no cardápio do Geraldo - lógico, vou me lambuzar por lá.

Da janela do prédio em que moro, visualizo, na calçada de um estacionamento próximo, um lindo pé de cajamanga e acompanho durante o ano suas transformações. Ele me proporciona um show gratuito, fica nu com o amarelar e o cair de suas folhas, logo se verte de um verde de cores mil e, em seguida, sua florada e o nascer de seus frutos presenteiam poucos privilegiados que o cercam.

Por estar sempre admirando esse meu produtivo vizinho, de repente volto a ser criança, quando meu pai era maquinista da Mogiana. O velho pilotava a saudosa maria-fumaça, morávamos em uma colônia que margeava o ribeirão Preto, esse que divide a avenida Jerônimo Gonçalves. E como pensamento voa, me vi com quatro anos de idade, ao lado de meu tio, que no maior sossego pescava lambaris e carás sob a sombra de um enorme pé de cajamanga. Ele ficava no fundo do nosso quintal, até me lembrei de seus frutos caindo no leve remanso da corren­teza, como diz o Rei Roberto Carlos em sua bela composição Jovens tardes de domingo. Velhos tempos, belos dias.

Dia destes estava em frente à Câmara Municipal e alguma coisa me fez olhar em direção a minha antiga morada. Visualizei o local que hoje deu lugar ao progresso. Por ali passa uma avenida, lembrei-me do fundo de nossa casa e de meu pé de cajamanga. Agucei meu olhar e vi do outro lado do rio uma árvore que parecia me acenar, como a me dizer: "Sou eu mesmo!!! Seu pé de cajamanga, chegue mais perto, amigo, venha me ver."

Seus galhos abertos pareciam braços a me pedir um abraço, e como não sou de recusar abraços, corri em sua direção e matei velhas saudades. Mal podia acreditar que estava abraçando um velho amigo, que deve estar hoje com mais de 100 anos. Conversei com ele, falei da minha vida, dos meus que já partiram e dos que por aqui estão, acariciei suas cascas que estão rachando - sinal dos tempos - e me despedi muito feliz pelo reencontro.

E ele continua ali, resistindo a tudo e a todos, imponente. Parece um sentinela da natureza, não sei se ainda dá frutos, só sei que sempre que passo por ali levo um papo com meu velho amigo, que em tempos idos me fez saborear a cajamanga de um azedinho mais doce que já provei.

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