sábado, 19 de novembro de 2011

Cirurgias espirituais

Eu era católico, apesar de não concordar com muito do que via na religião e também por não gostar do fato de que tudo ali se cobra. Afastei-me dela. Quando me casei, o fiz na Igreja Presbiteriana, ali na rua São Sebastião, onde nada me foi cobrado e o pastor, que não me lembro o nome, foi um gentleman, foi um casamento lindo.

Adolescente, tomei conhecimento do mito de que a doutrina espírita era macumba, com velas vermelhas e pretas, sacrifício de animais e aves, muito sangue, enfim, só se falava mal de quem se dizia espírita e tudo isso me assombrava.

Quando o jornalista Saulo Gomes entrevistou pela primeira vez um espírita no seu programa Pinga Fogo, na extinta TV Tupi, em rede nacional, conheci a obra de Chico Xavier e me encantei. O tempo passou... Em janeiro de 1974, eu era policial rodoviário na região de Jundiaí. Certo dia, estava no posto Lago Azul e eis que nele entra Chico Xavier. Não perdi a chance de me aproximar e conversar, senti-me diante de um santo. Disse-lhe que me casaria em maio, e ali mesmo recebi sua benção. Ele disse que eu e minha esposa seríamos muito felizes. Voltando ao trabalho, fiquei pensando: o que dizem do espiritismo não era o que eu via naquele homem.

Minha fé em Deus é inabalável, sempre fiz minhas orações sem frequentar igrejas. A vida seguiu e, há mais ou menos 15 anos, quando cantava no restaurante Ponto Chic, conheci Sócrates. Viramos amigos, Sócrates é espírita e insistia para que o acompanhasse ao centro que frequentava. Eu, com um pé atrás, sempre dava uma desculpa, mas, numa sexta-feira, ele disse: "Não quero desculpa, amanhã você vai comigo de qualquer jeito". E lá fui eu, até parece que ele recebia recomendações do Além. Meio ressabiado, entrei no Laram, centro espírita que na época abrigava menores e, aos sábados, depois das duas da tarde, através da médium Ana, realizavam-se cirurgias espirituais. Ela recebia o espírito do Dr. Hermamm, médico alemão que, segundo o espírito, estava resgatando o que fez de errado na guerra comandada por Adolf Hitler.

Fiquei maravilhado com tudo, nunca tinha visto um lugar em que se falasse tanto o nome de Jesus e de Deus como ali. Também não tinha ouvido o Pai Nosso rezado com tamanha fé como ouvi e que ouço em qualquer reunião espírita. Uma toalha branquinha cobria uma mesa enorme, nada de velas, aves, animais, sangue, somente uma jarra d'água.

Eu sentia uma dor na região do umbigo e até então não tinha procurado um médico. Na minha vez de ser consultado, Dr. Hermamm olhou-me nos olhos e, num enérgico portunhol, disse: "Preciso te operar agora, mas só o faço se você prometer ficar seis meses sem consumir bebida alcoólica". Concordei. Imediatamente, fui conduzido para uma sala ao lado, cercado por auxiliares e sem cortes, sem dores, sem sangue, apenas gestos, fui operado e enfaixado. Recebi a orientação de repouso e uma garrafinha de água energizada para que tomasse três vezes ao dia. Era remédio espírita. No dia seguinte, deveria ficar deitado no sofá ou na cama que entre oito e nove da noite uma equipe de auxiliares espirituais viriam fazer curativos. Fiquei imaginando como!!!

E foi o que aconteceu, no horário marcado estava deitado no sofá e senti mexerem em mim. Emocionado, agradeci a Deus e o mesmo se repetiu nas noites seguintes. O interessante foi o pós-operatório: sentia um repuxar dentro de mim, eram os pontos que me obrigavam a caminhar a passos lentos.

Sócrates acha que meu caso era muito sério, mas até hoje não sei de que fui operado. Tive alguns retornos, fui curado e a doutrina espírita conquistou-me para sempre.

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