Descobri porque as noivas atrasam. Sabe aquele lance em que a gente tá lá na igreja, horário marcado e nada da noiva chegar? Os padrinhos no altar que nem pinguins, cabelo com gel, o noivo impaciente, emoção a flor da pele, convidados desmaiando e ninguém explica o porquê do atraso?
Eu já estava até desacostumado com esse negócio de casamento e fazia algum tempo que não ia a um. Ainda bem que, com essas modernidades, entrou na área, ou melhor, na igreja, uma nova profissão: O cerimonial, que retirou do altar aquele monte de padrinhos e madrinhas, só ficam em cena e sentados os pais e o padre com auxiliares. Cá entre nós: tem coisa mais brega que aquele monte de padrinhos no altar?
Faltava o profissionalismo que hoje tem, acabou aquele congestionamento no altar que atrapalhava os protagonistas e profissionais que tinham que registrar o evento, sem contar os modelitos com os decotes generosos que roubavam a cena. Padrinhos agora ficam nos primeiros bancos já previamente reservados pelo cerimonial. Esses novos profissionais tomam conta de tudo, dão uma geral nos padrinhos desleixados, organizam os músicos, opinam nas músicas, enfim, fazem a coisa fluir.
Pois bem. Vivi dia destes o dia de padrinho e responsável pela condução da noiva do salão de beleza, onde havia passado à tarde preparando-se para o esperado "sim", até a igreja. O casório seria as 20 horas, com tolerância de quinze minutos, com multa de R$ 500 pagos sob caução.
Fiquei de apanhá-la as 19h15. Hora combinada, tava eu lá, minha esposa entrou no salão e em seguida saiu apavorada, disse-me que o zíper enorme do vestido da noiva havia estourado, tentaram uma gambiarra que não deu certo, avisaram a costureira - que estava a caminho -, mas tudo era muito distante, ela tinha que atravessar a cidade e o salão fica em frente ao Novo Shopping. O tempo foi passando e eu lá fora, suando frio. Pensava em todos que estavam esperando na igreja, imaginando a ansiedade da noiva que tanto se preparou para seu dia mais lindo...
E o tempo passando, meu horário de percurso já tinha ido para o espaço, 19h45 chega Marlene, minha comadre e costureira que, com suas mãos mágicas, resolveu o problema em minutos. Uma funcionária do salão disse que esse tal zíper é o grande vilão dos vestidos de noivas, campeão das encrencas. Descobri que aí está a razão dos atrasos das noivas. Minha afilhada desceu as escadas do salão superlinda, ela estava deslumbrante, apesar dos tropeços mantinha seu ar angelical. Com cuidado a acomodamos no banco traseiro e pau na máquina, rumo a Nova Estigmatinos.
Gozado, você já reparou que quando estamos com pressa pegamos todos os faróis vermelhos? Chegamos na igreja aos 45 do segundo tempo, o cerimonial deu-me uma geral, colocando um ramo de pequeninas flores na minha lapela, padrinhos perfilados e já nos descontos adentramos na igreja, segundos antes de expirar o tempo. Os músicos mandaram ver a canção combinada e a noiva, conduzida pelo pai, pisou no tapete vermelho. O noivo, superelegante, com seu porte de príncipe, a recebe do pai, ambos transbordando de felicidade, ele sequer pode imaginar o sufoco dela minutos antes. Depois dessa, saí da igreja disposto a criar uma equipe de "costureiras de plantão".
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