quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Piolim... a magia de um palhaço

Ainda criança, sentia exercer sobre mim uma enorme atração com tudo que se referia à arte. Naquela época, nossa grande diversão era o circo, o palco do povo. A maior atração, para nós, pequeninos, era o palhaço. Em Ribeirão Preto tivemos nosso Circo do Biriba, cujo palhaço dava nome ao circo - era o dono. Como esquecer Carequinha e suas canções infantis, educativas como O bom menino e festivas como Parabéns?

Quero falar hoje do rei dos palhaços, Piolim, nascido aqui em Ribeirão Preto no dia 27 de março de 1897 e que durante mais de trinta anos, ao lado dos filhos, manteve de pé a lona de seu circo no Largo do Paissandu em São Paulo.

Piolim nasceu no circo, era filho do dono, e com apenas oito anos fazia contorcionismo, movimentos que só uma criança nessa idade consegue fazer. Era invejado e tinha inveja dos meninos que frequentavam escolas normalmente - ele não podia, sua vida era de cidade em cidade, onde seu pai armava a lona.

Ele nasceu Abelardo e ganhou o apelido de Piolim quando, no picadeiro, num show, a corda do violino de um artista espanhol quebrou. Piolim, magrinho, correu em sua barraca trazendo rapidamente uma corda do seu violino. Nesse momento, o espanhol disse: "Parece um Piolim (barbante muito fino, em espanhol)". Nascia ali o palhaço Piolim.

Piolim sonhava em ser engenheiro para construir estradas e viadutos, mas Deus lhe reservou a nobre missão de espalhar alegria, divertir plateias, povoar sonhos nas cabeças das crianças. Piolim teve três filhos e dezesseis netos, deixou a Terra em 1973, aos 76 anos. Missão cumprida, rei da alegria!!!

Meu netinho Kauã (gavião, na língua indígena) estava para nascer e eu acompanhava a alegria do meu filho Paulo, minha nora Karla, meu neto Luiz Roberto e minha esposa Sonia preparando seu quarto, cada dia uma nova peça se juntava as demais, tudo para receber nosso rebento.

Estou tendo aula de pintura com Miranda, um dos maiores artistas plásticos do mundo. Já faz um ano e meio, tenho pintado grandes quadros. Disse a ele sobre minha intenção de pintar um palhacinho para colorir a parede do quarto de Kauã, e Miranda me sugeriu pintar o Piolim com seu chapéu coco, jaquetão enorme, sapato 84 com aquele bicão vermelho e sua inseparável bengala em formato de um anzol submarino.

Passei a mão num painel 50x70, nos meus pincéis e tintas mil e dias depois lá estava ele: Piolim na parede, no meio de brinquedos coloridos, véus protetores, edredom e tudo mais.

Kauã nasceu, uma coisa passou a chamou a atenção de Karla. Ao banhar e trocar o pequenino Kauã, ela observava o olhar atento do garoto no quadro do Piolim. Karla o virava e ele insistia em olhar para o rei da alegria. Pude conferir varias vezes esta cena e me perguntava: "Que fascínio Piolim exerce sobre Kauã, que mensagem angelical eles trocam?". Não sei.

Meu filho Paulo contou-me que, numa madrugada, Kauã chorava compulsivamente. Sem saber o que fazer, deu-lhe colo, andou com o garoto pela casa, mas nada o acalmava. Ao entrar no quarto, os olhos de Kauã fixaram no quadro de Piolim e, sem explicação, seu choro cessou. Paulo agradeceu, já tinha esgotado todo seu repertório de papai novo.

Kauã está hoje com oito meses, a cada dia tem uma nova descoberta que os pais correm para dividir conosco. O pequeno emite sons, está louco pra falar, andar, já bate palminha ensaiando para seu primeiro aninho. Dias atrás, meu filho disse: "Pai, entre com Kauã no quarto segurando-o na frente do corpo e se aproxime do Piolim." Lá fui eu. Ao ver o quadro, o nenê balançava os braços, debatia as perninhas demonstrando alegria contagiante. Queria abraçar Piolim, sua mãozinha acariciava a figura do velho palhaço como se quisesse entrar no quadro, parecia ser o encontro de grandes amigos. Como explicar??? Não sei, mas Deus e a espiritualidade sabem. Só tenho que agradecer à magia de um palhaço que mesmo em outra dimensão continua fazendo festa no pequenino coração de uma criança. Obrigado. Piolim.

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