sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Programa Viola, Minha Viola





Sempre que se aproximam datas significativas, como a de domingo próximo, Dia dos Pais, fico pensando em uma maneira de manter sempre acesa a lembrança da presença de meu pai, que foi embora tão cedo e nem conheceu Lucas, meu filho mais novo, mas ele está sempre em minhas orações, muitas vezes chego até a sentir seus afagos. Roi, era assim que era conhecido meu querido pai e não descobri porque ele tinha esse apelido, já que se chamava Rosemiro Bueno, não vejo aí nada que justifique o meu querido “Roi”, mas, enfim... Quem pode com os apelidos, ainda mais quando se tornam fortes e mais carinhosos com o tempo...
Raimundo Vieira de Oliveira, assim se chamava o pai de Sócrates, todos tinham por ele o maior respeito e o chamavam de Seu Vieira, e o Magrão quando se referia a ele dizia “Vieirão”.
Rosemiro Bueno, maquinista da Mogiana, guiando aquela enorme serpente de ferro, carregava o Brasil sobre os trilhos. A vida lhe deu de presente uma esposa com o nome da mais linda das flores: Rosa, minha adorada e maravilhosa mãe, dedi­ca­da, guerreira e juntos foram abençoados com seis filhos.
Raimundo Vieira de Oliveira, fiscal de renda, era temido por todos que queriam fazer uso da Lei de Gerson. Com a dona Guiomar, sua esposa fantástica, juntos também tiveram seis filhos.
Cantei por dezesseis anos no restaurante Ponto Chic, e, em  certa noite, aparece por lá o camisa oito do Botafogo, do Corinthians e da Seleção Brasileira: sim, era o Sócrates!!! Eu nem acreditava, a honra dele estar ali, onde eu cantava, era muito grande. Fui agradecer sua presença, embora sentisse um misto de receio e timidez ao me aproximar, até que me enchi de coragem e lá fui eu... Magrão foi de uma simplicidade sem limite, deixou-me à vontade, até me pediu para cantar Espelho, gravada por João Nogueira, e ele sequer sabia que essa era a música que eu mais gostava de cantar.
Espelho, cuja melodia é de João Nogueira e letra do Paulo César Pinheiro, foi composta em homenagem ao pai de João, que foi embora muito cedo também, quando ele tinha apenas nove anos. Certa noite, vendo TV, o entrevistado era Paulo César Pinheiro. Foi quando o repórter lhe perguntou como ele fez a letra deEspelho, e o poeta, emocionado disse: “O João me pediu para fazer a letra para seu pai, mas a escrevi como se fosse para o meu”. E chorou um bocado ao lembrar do pai... Confesso que não tinha entendido essa do poeta.
Sócrates e eu nos tornamos amigos. Uma noite, em um bar, quando assistíamos a um show de Cássio Sales (cover do Tim Maia), percebi que Magrão escrevia poesias em guardanapos. Avisou que estava inspirado, foi quando lhe pedi para colocar letras em músicas minhas e ele encarou. Entre sambas, toadas, baiões e baladas, fizemos mais de 50 até hoje...
Querendo homenagear meu pai, compus uma toada e fui pedir ao Doutor para letrar. Ele me perguntou se eu já tinha algum tema, e respondi: “Meu Pai!” Descrevi para ele um retrato na parede da casa de minha irmã Ruth, com meu pai na janela de uma Maria Fumaça.
O tempo passava e ele não achava uma linha para começar a escrever a letra. Certa noite eu cantava no Ponto Chic, Magrão chegou e percebi que ele estava muito feliz. Até disse: “Buenão, hoje eu vou fazer a letra do seu pai”. Saímos do restaurante por volta de uma e meia da madrugada, fomos para minha casa. Eu cantarolava a melodia e ele escrevia frase por frase, isso dezenas de vezes, ia e voltava, rabiscava, rasgava folhas, só sei que o dia amanheceu, com o sol de verão nos dizendo bom dia, que naquela manhã brilhava como nunca. Já passava das seis e, depois de muitas cervejas, debaixo da mesa uma montanha de folhas amassadas, foi quando ele passou a régua na letra e finalizou: “Tá pronta, cante agora inteirinha”. E eu cantei, ficou linda, choramos muito, emocionado ele ainda falou: “Aí está ‘O retrato do velho’, e seu pai está aqui com a gente”. Fiquei arrepiado e chorei mais ainda.
Maurício e Marcelo e Sócrates a gravaram. Convidados por Inezita Barroso, foram participar do programa Viola Minha, Viola, na TV Cultura. Quando acabaram de cantar, Sócrates, em lágrimas, disse ter feito a letra para seu pai e que a estava cantando pela primeira vez depois que seu Vieira partiu. Naquele momento consegui entender, então, os poetas Paulo César Pinheiro e Sócrates Brasileiro Vieira de Souza Oliveira.
Para os Buenos, os Vieiras, os Pinheiros, os Nogueiras... e para todos os papais do mundo, o meu mais sincero desejo de viverem “um feliz Dia dos Pais”!!!

* Cantor e compositor

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