quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cartola... Porque que as rosas não falam???


Hoje acordei com inveja do entregador de flores, pois é ele quem testemunha o surpreso e maravilhoso sorriso de quem as recebe. Quem mandou, só fica imaginando como foi a reação da pessoa. Poxa, o entregador de flores vive seu dia-a-dia tendo este privilégio, e ele é o primeiro a ver o rosto da presenteada.
Quem recebe esse tipo de reação tem mais é que viver em estado de graça, imagine o dia todo recebendo sorrisos?!?! Há pouco tempo foi aniversário de minha primeira-dama, e eu fui encomendar um buquê da mais linda das flores a rosa, na floricultura Flor do Campo, do meu amigo Osvaldo, que ficava na rua Lafaiete e hoje mudou para a região da nova Fiusa.
Dei um tempo e fiquei levando um papo com Osvaldo, até porque poderia chegar em casa antes do entregador. O jovem mensageiro logo estava de volta e de imediato disse que minha esposa ficou superfeliz, daí lhe falei: “Rapaz, você vai levar presentes e recebe de volta outro tão valioso quanto as flores”.
E ele, meio que lisonjeado, respondeu que muitas pessoas chegam às lágrimas ao receberem as flores, mas já teve vários casos de recusa, e ele as trouxe de volta. Até brincou que, nessas situações, o pau deve ter quebrado feio e as flores não foram o bastante para consertar algum tremendo estrago, uma bola fora dada... Mas, de qualquer maneira, meu amigo, seja um amante à moda antiga, mande flores, mande rosas.
Comecei meu texto de hoje falando de rosas, pois queria falar deste compositor e imortal poeta, fundador da escola de samba Estação Primeira de Mangueira: Cartola.
Cartola, que tinha o dom também de cultivar rosas com maestria – e mais ainda: ele falava com elas! Isso mesmo! Cartola, sempre que as regava, conversava com as suas roseiras. Dona Zica, sua esposa, não escondia certa pontinha de ciúmes de suas rivais e, por diversas vezes, o surpreendeu namorando suas roseiras. Chegou a ouvir ele dizer: “Como você cresceu, você está cada dia mais formosa”. E como resposta, elas esbanjavam charme para seu galanteador, cobrindo seu jardim de beleza.
Muitas vezes me perguntei como é que uma pessoa tão simples poderia ser tão sutil ao escrever canções maravilhosas, ganhando respeito de grandes compositores, como Paulinho da Viola, Osvaldo Montenegro e outras bambas do samba. Cartola, pedreiro no morro da Mangueira, é autor da obra-prima As rosas não falam.
Certa vez, Cartola deu uma sumida do circuito musical, pois o dinheiro estava curto e a musica só beneficiava alguns privilegiados – e isso acontece até hoje. Então, o gênio Cartola passou a ser vigia noturno, também lavava carros na avenida Copacabana, até que foi reconhecido por Sérgio Porto, compositor e apresentador de TV que, indignado, disse: “O autor de As rosas não falam não poderia estar naquela situação.” Juntou alguns amigos e montou para ele uma casa de shows chamada “Zicartola”, no Rio de Janeiro, que durou alguns anos, fazendo Cartola ser reconhecido nacionalmente e ainda, melhorando suas finanças.
Cartola, certa vez, resolveu fazer uma cirurgia plástica, pois não estava contente com o seu nariz. Tinha que retornar ao doutor outras vezes para alguns retoques, mas, displicente, não o fez, ficando com o nariz brilhante destoando na cor da pele do restante do seu rosto. Ganhou o apelido de Cartola, pois o chapéu que usava como pedreiro tinha o mesmo formato.
Certa noite, assistindo TV, Dona Zica estava sendo entrevistada, e como gosto de causos, não poderia de forma alguma perder esse papo com a ultima companheira de Cartola. Passavam imagens dele tocando violão e cantando, mas tinha uma em que ele estava sentado no quintal, e atrás dele varias roseiras carregadinhas. Eu já havia perguntado a Carlinhos Vergueiro e a Paulinho da Viola se eles sabiam como Cartola compôs As rosas não falam, mas os dois desconheciam o processo.
Então, o repórter fez a mesma pergunta para dona Zica. Fiquei ligado na resposta e ela disse que, uma vez, colheu lindas rosas do jardim e as colocou num pequeno vaso do altar de Nossa Senhora Aparecida, em sua sala. ELas estavam maravilhosas, e daí perguntou ao velho sambista: “Cartola, o que é que você tem nas mãos que suas rosas florescem tão bonitas”? E ele disse: “Não sei, Zica, eu sempre pergunto, mas elas não falam!!!”. Pois é, mestre Cartola, você tem razão, as rosas não falam, “simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti”...

* Cantor e compositor

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