sábado, 3 de dezembro de 2011

Matéria do Jornal A Cidade 03/12/2012

Amigos falam sobre Henrique Bartsch, que morreu nesta sexta

Um dos fundadores do Grupo Nós, músico também escreveu a biografia da amiga Rita Lee

Régis Martins
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Foto: 13.jun.2007 - Joyce Cury / A CidadeHenrique Bartsch deixa seu nome na história da músicaHenrique Bartsch deixa seu nome na história da música
"Engenheiro de formação, músico de profissão e agora escritor. Tenho filhos e já plantei árvores". Era assim que Henrique Bartsch se apresentava no perfil do seu blog: ‘Bart Mora Ao Lado’. 
O título era uma referência ao livro "Rita Lee Mora ao Lado", que ele escreveu sobre a vida da cantora que tanto amava e que se tornou uma improvável confidente. Ele a tratava como Ritz e ela o chamava de Bart. 
Nesta sexta-feira (2), quando o coração do amigo deixou de bater, Rita enviou dois posts em seu Twitter. Um deles dizia: ‘Tô aqui inconformada com a morte de Henrique Bartsch, meu amigo tão amigo’. Em seguida, escreveu: ‘Bart... saudade saudosa’, no qual postou uma foto da capa da biografia escrita em 2007.
O músico ribeirão-pretano morreu na madrugada desta sexta, de parada cardíaca, aos 60 anos. Justo o artista que não fumava, não bebia e ainda era adepto das técnicas milenares da meditação. 
Por capricho do destino, Henrique morreu um ano depois da ida de seu parceiro de banda, Johnny Oliveira. Os dois fundaram o Grupo Nós há 33 anos, mas já tocavam juntos desde o final dos anos 1960, quando criaram o Grupo 17.
"O Henrique sempre foi o paizão da turma, ele e o Johnny. O que eu sei hoje, como músico e ser humano, aprendi muito com ele", diz o músico Fernando Pachioni, conhecido como Perereca, que foi integrante do Grupo Nós nos anos 1990.
Turbo Sounds
Para Fernando, Ribeirão Preto perdeu um profissional que, além de bom músico, era um grande sujeito. 
"Nesses seis anos de convivência com o Henrique, eu acho muito pouco diante de uma vida inteira, mas bastaram poucos dias para que eu me apaixonasse por ele, como pessoa, músico, irmão, amigo e pai", ressalta.
A cantora ribeirão-pretana Esmeria Bulgari, que hoje vive em São Paulo, destaca a influência que Bartsch teve sobre a nova geração de músicos locais. 
"O Henrique, como líder do grupo Nós, sempre foi uma referência pra todos nós que mirávamos fazer música. Inovador, sempre à frente de tudo, me lembro das primeiras ‘turbo sounds’ das quais ouvi falar na minha vida", diz referindo-se às caixas de som que o Grupo Nós utilizava.
Esmeria, que chegou a cantar na banda que Henrique idolatrava, os Mutantes, elogia também a faceta literária do amigo. 
"O lado escritor foi uma surpresa pra mim. Adorava os textos dele do Facebook e a delicadeza de suas críticas. Saudades de toda história que ele criou pra música de Ribeirão", afirma.
Integridade
O professor e músico Nando Araújo também ressalta a influência de Henrique e do Grupo Nós para os músicos da cidade. 
"Eu sempre o admirei, seu profissionalismo, seu caráter e a força desse homem em viver por meio de uma atividade desvalorizada pela sociedade, a atividade musical", diz.
Para Nando, Henrique e Johnny foram uma referência para Ribeirão. "Ser músico e com a integridade com que o Henrique exerceu a sua profissão de vida já o coloca em um lugar especial, um lugar para poucos, onde também está o seu parceiro Johnny Oliveira e o meu outro amigo Mário Feres", afirma. 
A cantora Bia Mestriner lembra que há um mês encontrou Bartsch num evento literário. "Batendo um bom papo, falávamos sobre os dinossauros do som. Ou seja, nós mesmos, aos olhos da nova safra de público, a atual. Gargalhamos muito", comenta.
Bia afirma que, embora contestador e indignado com as várias injustiças do mercado musical, Henrique era educado, articulado e "tinha uma voz linda, timbre aveludado, pra impor sua opinião". 
"Henrique era isso: dono de uma banda na estrada há mais de 30 anos, sagaz, resistente, conservador e batalhador e, por outro lado, contemporâneo, escritor dos bons, conhecedor de música, do rock and roll e Rita Lee. Uma mescla na medida exata do homem artista que sabe o que vê", conta.

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