quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O goleiro Felipe e o fã Luiz Roberto

* Bueno
buenocantor@terra.com.br 

Na segunda quinzena de janeiro/2008, estava com a família em Bertioga, na Colônia do Sesc  que tem uma sala de leitura show de bola , quando dei uma geral nos jornais e li que o jogo Corinthians e Sertãozinho, marcado para dia 30, poderia ser realizado em Ribeirão Preto, no estádio do Botafogo. Comentei com meu neto Luiz Roberto, de 11 anos, que é corintiano como poucos, que logo passou a alimentar certos sonhos, como conversar com seu ídolo, o goleiro Felipe, ganhar autógrafo, tirar fotos... Até aí achava a tarefa fácil, até que ele me falou: “Vô, será que da pra entrar em campo com os jogadores segurando a mão de Felipe?”Disse a ele que essa parada era meio difícil, mas que iria tentar.
Os dias foram passando e o jogo foi confirmado para o Estádio Santa Cruz. Na cabecinha desse pequeno torcedor Luiz Roberto não existia nada além desse jogo. Tratei logo de comprar nossos ingressos pra não cair na mão de cambistas e fiquei na espera. Na terça feira, véspera do jogo, a TV anunciou que a delegação corintiana estava hospedada em um hotel na Vila Tibério. Ele logo convocou seu pai, e lá foram os dois de máquina fotográfica, caneta , camisas e tudo mais que um sedento torcedor precisa para conseguir seus objetivos. Em frente  ao hotel estava o lindo ônibus do Timão, que foi um dos alvos das máquinas fotográficas. Dezenas de torcedores cercavam o local cantando canções do time e, no saguão, os jogadores circulavam descontraídos. O pequeno fã do goleiro Felipe tremeu de emoção ao ver seu ídolo. Faltou-lhe a coragem da  aproximação, voltou para casa, me ligou superfeliz, já me cobrando sua entrada no campo com seu ídolo. Nessa noite ele mal conseguiu dormir, uma alegria incontida invadia seu coração.
No dia seguinte, 30 de janeiro, quarta-feira, jogo marcado para 21h45, percebi logo de manhã que era hora do superavô entrar em ação. Fui ao Santa Cruz, me disseram que havia mais de duzentos pedidos iguais ao meu, que o campo estava na mão do pessoal de Sertãozinho. Como lá não tenho trânsito, me dirigi ao hotel, onde fui recebido por Antônio Carlos, que até pouco tempo era zagueiro do Santos e hoje é gerente de futebol do Timão. Contei-lhe o sonho de meu neto e ele, muito gentilmente, disse para aguardar a chegada no estádio que o jovem torcedor entraria com seu goleiro favorito. Dei a noticia a Luiz Roberto, que ficava me ligando sem parar, sem esconder sua ansiedade .
Antônio Carlos cumpriu a palavra e lá estávamos nós na mureta do fosso com outros garotos, papais e avôs esperando por um funcionário da Federação Paulista de Futebol (FPF), encarregado dessa parte. Ele aproximou-se, conferiu se as crianças estavam uniformizadas e disse: “Nada de caneta, máquina fotográfica e nem papel.” E conduziu a meninada para a boca do túnel. Felipe, como capitão, foi o primeiro a entrar e Luiz Roberto gritou: “Me dê a mão, Felipe!!!” O goleirão segurou a pequena mão do jovem torcedor e os dois entraram em campo sob aplausos calorosos da torcida. Eu observava a cena com meus olhos de avô, superemocionado em ver que ajudei meu neto a realizar um sonho. No grande círculo saudaram a Fiel e Felipe levantou a mão do pequeno fã, que percebeu uma cena de fé. Naquela mão estava o terço que seu ídolo sempre beija e coloca ao pé da trave, pedindo proteção. Luiz Roberto foi saindo de campo, ouvindo a torcida cantar numa só voz um de seus hinos, a canção maravilhosa que a todos arrepia e emociona:“Corinthians, Corinthians minha vida, Corinthians minha história, Corinthians meu amor...”
Para o goleiraço Felipe talvez tenha sido só mais uma entrada em campo, mais uma mão de criança que segurou, mais um olhar de admiração de um fã. Talvez ele não tenha a dimensão do que se passou no pequeno coração daquele menino, mas para esse garoto, para esse jovem corintiano Luiz Roberto foram momentos que vão lhe acompanhar pelo resto da vida. Eu, vovô coruja, vou seguindo minha vida esperando a próxima missão que meu neto irá me pedir.

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