terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Depoimento de quem “jogou” com Sócrates

Por ALBERTO PECEGUEIRO

Juca,

Frequentemente me gabo de não entender nada de revistas, ou televisão ou midia em geral. A única coisa que entendo muito é futebol, jogando até hoje uma pelada semanal salpicada de jogadores de divisões de acesso, daqui ou de fora, ou  e praia em atividade.
Sempre tive sentimentos misturados em relação à veneração que o Sócrates recebia. Lógico que o tinha em boa conta, mas não o alçava à condição de gênio.Até o dia em que você me ajudou a participar de um jogo da Fundação Gol de Letra, no Maracanã.
Estava no time do Raí e jogaria a segunda metade da partida. No time adversário, no primeiro tempo, estavam Zico, Junior e cia. No “nosso” estava o Doutor Sócrates. Fiquei meio perplexo olhando para ele. Mais alto que imaginei, magro como tinha certeza, mas com uma barriga saliente que parecia as das falsas grávidas da TV, como se tivesse sido aposta a um corpo esguio.
Com cinco ou dez minutos de jogo, uma bola é lançada para o Zico na entrada da área, que limpa um marcador e abre o placar para “eles”. Achava que os times estavam mal distribuídos com visível vantagem para o adversário. E aí, ele começou a jogar. Com menor número de passadas que todos os outros cobria uma distância maior que todos. Acelerava o jogo sem precisar correr. Seus tempo e espaço dentro de campo eram diferentes da maioria dos mortais.
Recebeu uma bola na intermediária, tocou para o lateral, se apresentou à frente e, com a devolução, ajeitou e bateu de fora da área, empatando o jogo com um lindo gol. Para comemorar, passou junto de onde estávamos, na lateral, tossindo sem parar. Gritei para os colegas “alguém aí consegue um cigarro pra ele, por favor!”.
E fiquei ali meio boquiaberto diante daquela contradição sobre dois caniços até o final do primeiro tempo, que terminou com aquele placar sem que a vantagem aparente do outro time conseguisse se materializar.
No balanço que você fizer da sua convivência com o Doutor, pode incluir mais essa: me provou que eu não entendia tanto de futebol quanto achava ao não escalá-lo no time dos gênios. Coisa que, obviamente, passei a fazer desde aquela fantástica noite.

*Alberto Pecegueiro é diretor-geral dos canais Globosat e ex-diretor de revistas da Editora Abril.

Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/

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