domingo, 11 de março de 2012

No rancho fundo...


Você já ouviu falar de Lamartine Babo??? Não??? Não se preocupe, na certa já cantarolou alguma música que ele compôs, mesmo você sendo jovem. Lamartine Babo, apelidado Lalá, nasceu em 1904 e viajou para o andar de cima em 1963, aos 59 anos.
Lamartine Babo é autor de pérolas inesquecíveis da MPB. Costumo dizer que música bonita não envelhece e o titulo deste meu texto de hoje é de uma de suas centenas de composições: No rancho fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Eu já a conhecia e lembrei que a última gravação foi de Chitãozinho & Xororó.
Lamartine ficou também conhecido internacionalmente como Rei do Carnaval, pela facilidade com que ele compunha marchinhas de carnaval, como O teu cabelo não nega. Quem é que não cantou esta marchinha nos bailes de carnaval? E olha que não faz tanto tempo assim os clubes deixaram de promover essas folias saudáveis. Recentemente, tive noticia de que essa música estava sendo considerada racista por causa da letra. Outra dele é Linda morena, cantada e recantada em muitos carnavais.
Lamartine era tijucano de carteirinha, defendia com unhas e dentes seu bairro, a Tijuca, no futebol era louco pelo América do Rio de Janeiro e na última vez que seu time foi campeão, em 1960, desfilou pelas ruas do Rio fantasiado de Diabo, símbolo de seu clube, tempo em que o radio AM imperava. Seu espírito inventivo, junto com sua técnica musical e sua versatilidade criavam melodias maravilhosas.
O compositor era dono de rara inteligência. Contam que certa vez foi ao correio passar um telegrama e, enquanto aguardava sua vez, o jovem telégrafo, usando um lápis, bateu em código Morse para seu colega do lado: "Magro, feio e de voz fina". Lamartine captou a mensagem, tirou o lápis da mão do rapaz e usando o mesmo código respondeu: "Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista". O cara ficou com a maior cara de paisagem que já se viu.
Lamartine também era tio de Sargentelli, aquele bon vivant que vivia entre "as mulatas que não estavam no mapa", e com um time de primeira linha do samba viajava pelo mundo mostrando esse valioso produto nacional.
Sei muitas historias de Lamartine, mas tem uma que até hoje me intriga. É o fato dele ter recebido a incumbência de compor os hinos de todos os clubes cariocas. E não é que ele resolveu encarar... Ouvi Sergio Cabral pai, que é a memória viva da música popular brasileira, dizer numa entrevista que trancaram Lamartine em uma casa e que ele só saiu quando acabou de compor os hinos. Num só, dia compôs os hinos do Flamengo, Fluminense, Vasco, Bangu e América... Os outros ele foi fazendo com o passar do tempo.
Eu, como compositor, sei a dificuldade encontrada para se compor uma melodia, a letra a gente vai modificando até o produto final, agora ele fez letra e música dos principais clubes do Rio num só dia, sendo americano roxo. Até dizem que no hino do América ele caprichou mais, tenho cá minhas dúvidas, pois adoro o hino do Mengo, principalmente na parte em que a letra diz: "Seja na terra, seja no mar... Vencer, vencer, vencer... uma vez Flamengo, Flamengo até morrer".
Na MPB, adoro a valsa Eu sonhei que tu estavas tão linda, em que ele retrata um baile à moda antiga, onde violinos enchiam o ar de emoção com os pares rodando ao som da mágica musica.
Em matéria de música recebemos de Lamartine uma herança de valor inestimável, entre tantas adoro cantar Serra da Boa Esperança, que dela contam uma história incrível.
Há pessoas tão pobres, mas tão pobres que a única coisa que possuem é... dinheiro. Desse vil metal Lamartine Babo era totalmente desprendido, nosso querido Lalá foi embora quase que como chegou.
* Cantor e compositor

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