sexta-feira, 2 de março de 2012

Meu amigo Almir Sater

Era dia 18 do mês de maio de um ano que não me recordo! Faz, acredito uns 10 anos. Meu aniversário de casamento. Quando me casei era moda se casar em maio. Hoje isso acontece em qualquer mês. Mas vamos lá. Já havia programado um jantar com a minha primeira dama Sonia, quando meu parceiro Sócrates me ligou. – Buenão, hoje o Almir Sater vai se apresentar no theatro Pedro II. Tenho quatro ingressos, vamos lá? Argumentei com ele que já havia armado uma comemoração com a esposa e ele disse. – Pô meu vamos ao show, depois jantamos juntos. No fim, topei!
O show foi bem simples, nenhum luxo, a cara do Almir. Apresentou-se com sua viola pantaneira como gosta de chamá-la, acompanhado de um maestro gaúcho na rabeca. Cantou parte da sua obra, mas quando cantou a linda guarânea “Trem do Pantanal”, embora não seja o autor, foi aplaudido longamente.
Durante o espetáculo, apresentou outro gaúcho. Renato Borguetti, o Borguetinho e para a surpresa de todos, anunciou um violonista então com 16 anos. Era um menino ainda que começava a se destacar no sul do país. Estraçalhou com seu violão sete cordas tocando, Aquarela do Brasil de Ary Barroso e várias canções de Tom Jobim.
Esse menino era o hoje reconhecido internacionalmente Yamandú Costa. Fiquei estasiado... Que noite!
Terminado o show Sócrates falou:Vamos ao Pinguim um, onde hoje é o Empório, que o jantar é por minha conta em comemoração ao seu aniversário de casamento. 
 Já havíamos acabado o jantar, pedimos para fechar a conta quando, de repente entra no salão  o Almir. Estava vestido com sua longa capa pantaneira e seu inseparável chapéu preto. Encostou no balcão e pediu um chopp. Quando seus olhos percorreram a área, deu um sonoro grito – DOUTOR!!!!! Com os braços levantados, veio ao encontro do magrão. Foi um abraço comprido e caloroso. Era o encontro de dois ídolos que nunca antes haviam estado juntos. A felicidade de ambos era visível.
Imediatamente puxei uma cadeira e o grande violeiro na maior simplicidade ajeitou-se com a gente.
Na conversa, Almir Sater não acreditava que nós havíamos assistido seu show. O papo foi longe. Falamos do talento do garoto violonista. Da emoção  geral da bela noite.
 Resumo da ópera! A conta foi reaberta... chopp vai, chopp vem, histórias mil!!!
 Serviram para reforçar meu repertório. Aqui vão algumas!
Almir contou que de sua casa no pantanal, só sai quando o dinheiro esta acabando.
Aí arma shows pelo país todo, enche a guaiaca de dinheiro e volta!
Disse também que lá no Pantanal não há moeda corrente. Existe uma troca, por exemplo: Um porco por um saco de arroz, um frango por um litro de óleo... e assim todos vivem em perfeita harmonia, a vida segue serena ... E ninguém passa fome por falta do vil metal!
Outra história foi sobre sua casa. Disse que era iluminada por mais de trinta baterias de caminhão. Sua condução era um Jipe. Andava com ele até acabar a gasolina.  Quando isso acontecia, largava onde estivesse. Depois algum amigo dava uma força para buscá-lo.
Entre uma história e outra, reparei que o artista estava inquieto, meio sem graça.
Perguntei-lhe se queria algo, ele muito tímido disse estar louco para fumar um cigarro de palha, mas o bar era muito chique!
Falamos para ficar à vontade. Ele tirou do bolso um pedaço de fumo que disse ser cuiabano, além de uma palha e um velho canivete todo encebado.  Preparou um enorme cigarro. Dividiu com o Sócrates.
 O tempo passou e sequer percebemos que o Pinguim já havia fechado as portas. E nós lá dentro. Olhei para trás e vi que os garçons também não tinham ido embora. Estavam sentados pouco atrás ouvindo as histórias, dias depois Paulinho garçom me confessou que não perderia aquele papo por nada
E as histórias continuaram rolando. Noutra contou que durante a Copa de 1982 em que Sócrates foi o capitão da seleção, Almir revelou que no Pantanal não pegava televisão, todos ouviam as partidas pelo radio de pilha, Almir pedia para o pai gravar em fita o jogo onde morava, Cuiabá, após o fim da partida, ele pilotava seu avião e buscava. A população pantaneira ficava esperando para  assistir o que já tinham ouvido.
E ouve outras histórias...Nem percebemos que já passava das 4 horas da manhã! Fomos embora, eu e minha esposa com a certeza de que ganhamos um senhor presente de aniversário de casamento. Ví nascer um grande talento da música popular brasileira, o Yamandú Costa e a amizade de Almir Sater que cultivo até hoje!

Bueno cantor e compositor

buenocantor@terra.com.br

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