sábado, 17 de março de 2012

Cantar a letra errada

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

O que eu já vi de gente cantando letra de música errada não está no gibi. Às vezes, até gravação sai com esta falha, talvez por um descuido do produtor ou por falta de conhecimento do mesmo.
Vou dar aqui um exemplo de uma música linda do Belchior, Como nossos pais, imortalizada na interpretação e voz da nossa pimentinha Elis Regina. Aliás, Elis sempre prestigiou novos compositores. Graças à sua mão amiga, eles tiveram suas músicas gravadas e tornaram-se conhecidos nacionalmente.
Ela gravou músicas de Fagner, Belchior, Milton Nascimento – todos em inicio de carreira e eles não escondem sua gratidão, sempre que são entrevistados referem-se a ela com muito carinho.
Pois bem, mas voltando a música – Como nossos pais –, sempre que ouço alguém cantá-la fico só “de butuca”, esperando chegar na parte em que a letra diz: “mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem...” Muitos trocam o “ama o passado” por: “mal passado”, e aí fica: “mas é você que é mal passado e que não vê que o novo sempre vem...”
Ora, mal passado é um delicioso e suculento bife, e olha que o tal bife muda o sentido na sequência da letra, mas quem a canta errada vai mais pelo som parecido do que pela mudança de sentido. Não faz muito tempo, vi no programa do Raul Gil uma moça cantar essa música e ela fritou o tal bife. E eu, ali. remoendo por dentro com esse gravíssimo erro.
Ooutra música que cantam a letra errada é Menina Veneno, de Ritchie e Bernardo Vilhena, em que a letra diz: “meia-noite no meu quarto, ela vai surgir, ouço passos na estrada, vejo a porta abrir...” Agora é que o bicho pega – Bernardo Vilhena, autor da letra, escreveu: “um abajur cor de carmim...”
Mas aí vêm quase todos os intérpretes e duplas e cantam: “um abajur cor de ‘carne’...” Imaginem só: “cor de carne?!?!” – daí fico pensando como se sente o autor da letra Bernardo Vilhena, ao ouvir sua letra “estrupada” dessa maneira.
Pô, pensem bem: o letrista fica ali debruçado sobre uma mesa, caneta e papel, riscos e rabiscos, queimando as pestanas, tentando criar algo que enriqueça nossa tão pobre música brasileira e me vem um cantor que não se preocupa nem um pouco com o que vai cantar e troca a linda frase cor de carmim por cor de carne!!!
Aí, digo eu: “parem o mundo que eu quero descer”, escreveu o compositor e cantor Silvio Brito. O pior é que, modificando a letra, tiram todo o romantismo da intenção do compositor, que descreve um momento de espera por sua amada na magia de um quarto.
Outra canção que mudam a letra com frequência é Whisky a go go – de Maichel Sullivan e Paulo Massadas. O que eu já ouvi de gente “operando” essa letra é brincadeira. O correto é: “foi numa festa gelo e cuba libre, e na vitrola whisky a go go...” A galera troca cuba libre por cuba livre, como o som é bem próximo, leva o cantor ao erro e como este fato acontece no começo da música percebe-se a mancada fácil, fácil.
A música Noite do Prazer, de Cláudio Zoli, é aquele tipo de que sempre será cantada, tudo porque tanto a melodia, que é linda como a letra, saem do lugar comum, não é aquele tipo enjoativo nem pegajoso como essa do Michel Teló, que depois de três meses ninguém mais suporta ouvir.
Bem, essa canção de Cláudio, quando entra no refrão “na madrugada vitrola rolando um blues, tocando B.B. King sem parar...”, muita gente quando canta troca “tocando B. B. King” – um dos bambas do blues mundial por – por “tocando de biquíni sem parar” – mais uma vez, o som, ao pronunciar a letra, é parecido, provocando o cantante ao erro.
Quando ouvi Roberto Carlos cantar “é preciso saber viver” – que é de sua autoria –, na parte da letra que diz: “se o bem e o mal existem, é preciso compreender”, o Rei cantou: “se o bem e o bem existem...” Falei na hora: “o Roberto errou sua própria música”. Mas, passado algum tempo, li em uma entrevista que ele resolveu tirar a palavra “mal” da letra. Coisas de artista, coisas do Rei. Já acatei. Tá contado.

* Cantor e compositor

Um comentário:

  1. http://asletrasdasopa.blogspot.com.br/2008/03/verdadeira-histria-do-abajur-cor-de.html

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