quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sargento Roderval

Sargento Roderval


Taubaté, bela cidade do Vale do Paraíba. Lá existe um quartel especializado na formação de policiais militares. Lembro-me como se fosse hoje quando passei por lá. E olha que já faz 34 anos.
Saímos daqui ás 10 horas da noite de trem. Éramos 200 jovens atrás  eu sonho. Ser policial. Chegamos em São Paulo às 6 horas da manhã. Vários ônibus terminaram o percurso até Taubaté, nosso destino onde passaríamos os próximos 6 meses.
Lá nos juntamos em mais de 300 recrutas de todas as partes do Brasil. Era hora do almoço, lá a hora do rancho e tudo na polícia funciona como um relógio. Hierarquia , respeito obediência e disciplina admirável
Fomos colocados em forma em frente nossas malas. Sobre a minha, estava meu inseparável violão.
Foi quando um sargento viu e logo perguntou num tom intimista. ” De quem é esse violão”. E eu, no meio da tropa, num misto de medo e timidez respondi que era meu. Logo ele retrucou! “ Você está pensando que está numa colônia de férias, seu recruta, você vai ralar aqui”. O ambiente foi tomado por uma silêncio de velório. Mas era o violão e as cantorias noturnas que ajudavam a matar a saudade , amenizar a distância da famílias e namoradas.
Começaram as instruções e eu observava a disputa entre os sargentos para mostrar qual era o melhor pelotão.
E era nas palestras que davam pára as tropas sempre falavam num tal de sargento Roderval, tido como o bam bam bam do quartel, mas que na época estava fazendo um curso na capital. Nos passavam a imagem que  ele era um ditador. Qualquer coisa que os recrutas aprontassem, lá vinha a ameaça! “Vocês vão ver quando o sargento Roderval chegar!”
Dois meses se passaram  e nós já estávamos com o preparo físico de dar inveja a atleta olímpico! Dizíamos que estávamos “ na ponta do casco. Foi quando começou a circular a notícia de que o sargento Roderval estava retornando.
Numa bela manhã, batalhão em forma fomos apresentados a fera!
A aparência dele nada lembrava o terror cantado em verso e prosa. Se tratava de um senhor  franzino de estatura baixa beirando os 50 anos, calvo e o pouco dos cabelos que lhe restavam, estavam brancos. Imaginem aquele bando de recrutas, já ambientados ao quartel, cheios de manha... entre nós o comentário era que o velhinho não nos aguentaria  não!
De repente o sargento Roderval assume o comando e decide mostrar porque é tão temido!
Começou com um ralo, uma bronca de mais de quarenta minutos que nos deixou no bagaço. Quando acabou disse com sua voz imponente e postada: “ Amanhã, às 7 horas, todos em forma com o uniforme de educação física.”
No dia seguinte estranhamos a presença de um caminhão no pátio, e com o sargento no comando, lá fomos nós correndo por ruas e estradas que cercam Taubaté.
Tínhamos a certeza  de que ele não aguentaria por muito tempo. Grande engano, o sargento corria na ponta dos pés com uma elegância invejável. Sobe rampa, desce morro e lá ia ele, impecável!
Cerca de quarenta minutos se passaram e então fomos descobrir o porquê do caminhão!
Servia para ir recolhendo os recrutas que iam pifando no meio do caminho!
Depois de mais ou menos duas horas, retornamos ao quartel. Entre mortos e vivos sobraram poucos! O sargento Roderval interasso! Desnecessário dizer que quem não completou o percurso recebeu castigo! Até que merecido.
O tempo passou e passamos a admirar o Sargento Roderval, que se tornou o paizão de todos. Ele era assim. Com a mesma mão que castigava, também nos afagava.
Ao se aproximar o final do curso, toda aquela rigidez ficou flexível. Passamos a ser tratados como profissionais que passaram por uma grande aprovação, aguardando seu destino.
No meu caso fui atrás do meu sonho. Queria ser policial rodoviário, onde fiquei até me aposentar em 1996.
Devo à Polícia Militar minha formação, meu rumo norte. Tive dois filhos, o Paulo e Lucas que se espelharam em mim. Os fiz cumpridores de horários e honestos. Minha esposa Sônia que segurou toda a onda se aposentou comigo!
Aos sargentos responsáveis pela formação de policiais, minha admiração Aos meus eternos comandantes, Capitão Nascimento, hoje coronel, ao tenente Jair, também coronel, minha gratidão por longa convivência. À família do sargento Roderval, dedico este texto com carinho e respeito. Tenho orgulho de ter sido seu aprendiz! Ao quartel de  Taubaté, onde nunca mais voltei, minha saudade de tempos tão imprescindíveis na minha vida!

Bueno – cantor, compositor

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