sábado, 5 de outubro de 2013

Garçom e músico são parceiros...

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
Se tem um assunto que gosto de lembrar e escrever, é sobre garçons e músicos. Vi tantas situações envolvendo esta parceria que vou te contar. Acompanho o talentoso músico João Chaim postando pequenas histórias no Facebook, todas carregadinhas de um humor que muito me divertem. Hoje tem até um bar em que a classe dos garçons se reúne após a noite trabalhada, rola um forró da hora para eles balançarem o esqueleto e muitos saem de lá com o sol a pino.
Lembrei-me de uma passagem vivida por mim, Gersinho, que era meu percussionista, e o garçom China, na choperia Degraus, que hoje não mais existe, mas 20 anos atrás ela reinava ali na avenida Treze de Maio. Nós comentávamos que aquela região parecia o Rio de Janeiro, muito samba, bicheiros, gente bonita enfeitava o pedaço, só faltava a praia do outro lado.
Ela abrigava 22 bares, todos com música ao vivo, era uma loucura. Nessa época a fiscalização não era tão rígida e permitia que os veículos estacionassem no canteiro central. Dá pra imaginar como ficava aquela parte da cidade?
Zé Carlos, dono do Degraus, empresário superantenado, sacando que poderia movimentar de forma alegre as tardes de domingo, contratou-me para cantar só samba, e como samba era do meu metiê, lá fui eu esquentar as domingueiras do Degraus. A novidade atraiu muitos músicos que me acompanhavam sem compromisso, apenas pelo prazer de dar uma canja.
O palco ficava no fundo do salão e dali tínhamos uma visão privilegiada de todo o bar, da rua e do canteiro central. Num lindo domingo de sol, vi quando encostou, bem na esquina, uma reluzente Mercedes preta. Dela saíram dois homens com duas mulatas daquelas que não estão no mapa, como dizia o saudoso Sargentelli, especialista em ziriguidum.
Os caras entraram, sentaram de costas pra parede e de frente pra rua, de maneira que viam todo o movimento. Os dois homens estavam na faixa dos 30, elegantemente trajados, correntes de ouro nos pulsos e pescoços, anéis enormes nos dedos, era impossível passarem despercebidos... As gatas, bem mais novas, também esbanjavam charme.
Eu estava cantando uma seleção de sambas do João Nogueira e percebi que nossos novos visitantes gostaram, até batucaram na mesa. China, o garçom, atendeu-lhes. De cara mandaram para todos os músicos uma rodada de chope, e nós, claro, adoramos.
No intervalo, fui até a mesa deles que, na maior simpatia, disseram ser do Rio de Janeiro, eram portelenses de carteirinha, tocavam na bateria da escola e adoraram o bar. Até pediram mais João Nogueira e Paulinho da Viola. Quando voltava para o palco, China, todo feliz, disse que os caras tinham lhe dado uma caixinha antecipada, maior que seu salário do mês. Fizeram amizade com duas mesas vizinhas e disseram ao China que pagariam a conta delas, meu!!!
Os caras caíram na graça de todos ao redor. Depois de tomarem alguns chopes, subiram no palco comigo, tocaram tam­bo­rim e pandeiro, dando mais molho ao nosso samba. Depois nos juntamos na mesa deles, fizemos fotos e foi aquela festa.
Encerrei minha participação, despedi-me deles e fui pra casa. À noite, estava confortavelmente em minha poltrona vendo o Fantástico quando anunciaram que a poíicia carioca estava à procura de dois perigosos traficantes do Morro do Juramento, e ao mostrar as fotos deles quase caí duro...Eram os caras que estavam no bar à tarde, meu!!! Que susto!!!
O fato passou a ser o comentário da semana ali no Degraus, cruzo sempre com o China e lembramos este fato com muitas risadas...
* Cantor e compositor


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