sábado, 5 de outubro de 2013

Dominguinhos, de volta pro seu aconchego

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Quase todos os artistas em início de carreira sofrem muito, levam uma vida de muita luta atrás de seus sonhos, daí Deus escolhe alguns, coloca a mão em seus seus ombros e diz: “Agora é a vez de vocês”. Mas não avisa que eles têm um compromisso quando enriquecerem... Só precisam perceber.  Não é o caso da minha crônica de hoje, sobre Domin­guinhos, que ao longo de sua carreira a muitos ajudou e nem passava por sua cabeça que sua herança virasse briga de família.
O quiproquó envolve a filha dele, a cantora Liv Moraes, de Dominguinhos com Guadalupe, também cantora, e Mauro Moraes, filho de outro casamento do velho sanfoneiro. A briga vem de longe, desde sua internação no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Daqui da minha Ribeirão Preto acompanhava tudo até que, em 23 de julho, seu velho e sofrido corpo descansou para sempre, aos 72 anos.
A briga continuou com o filho querendo enterrá-lo no Rio de Janeiro e a filha, em Recife, até que uma emissora de televisão mostrou ao filho uma antiga gravação em que o pai fala de seu desejo de ser enterrado em Garanhuns (PE), sua cidade natal. Eu acreditava que o desejo do artista havia se realizado, até que, na semana passada, li que o corpo de Dominguinhos, que estava sepultado na cidade de Paulista, na grande Recife, ia ser desenterrado e removido para Garanhuns.
Daí fiquei indignado, aperreado, como dizia o velho músico, e acredito que ele, seja lá onde estiver, também está muito magoado. Para fazer o translado do corpo, o caixão teve que ser envolto com uma manta de alumínio porque, dois meses depois, ainda estava em decomposição, podendo haver vazamento. Houve escolta de batedores da Policia Rodoviária Federal em todo o trajeto, acompanhado de fãs e amigos.
Em Garanhuns, Dominguinhos ganhou um mausoléu, assim justificou a filha, o fato de ele ser enterrado provisoriamente em outra cidade: Garanhuns ainda não estava preparada para tão ilustre sepultamento. O prefeito baixou decreto mudando o nome da Praça Guadalajara para Praça Mestre Dominguinhos,. È ali que se concentram todos os grandes eventos da cidade, agora com uma enorme estátua do sanfoneiro.
No canal Brasil, na TV a cabo, vi seguidas vezes o documen­tário Milagres de Santa Luzia e, em todas as vezes, me emocionei, pois muito do que escrevi acima vi na tela. A parte de Dominguinhos é fantástica, principalmente quando ele, menino, tocava na feira de Garanhuns com uma sanfona meia boca. Por acaso, o velho sanfoneiro Luiz Gonzaga viu o garoto arretado no fole e percebeu ali um talento raro. Disse: “Menino... quando eu voltar aqui, vou lhe trazer uma sanfona profissional”.
O menino Dominguinhos quase caiu duro quando, alguns meses depois, Gonzagão cumpriu o prometido e até lhe deu seu endereço no Rio de Janeiro, convidando-o para tocarem juntos. Tempos depois, o menino músico, o pai e mais dois irmãos bateram na casa do artista que muito lhe ajudou.
Dominguinhos só andou de avião uma vez: de São Paulo para Recife, só que no caixão, pois em vida nunca tinha voado, morria de medo, viajava o Brasil de ponta a ponta em sua caminhonete cabine dupla
Músicos do naipe de Dominguinhos pra mim não morrem, se encantam. Dele canto varias composições, como Eu só quero um xodó e, entre outras, De volta pro aconchego, que é a razão desta minha escrita. Dominguinhos está de volta pro seu aconchego. Tomara que os filhos não mais o incomodem...
 
* Cantor e compositor

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