sábado, 21 de janeiro de 2012

UM PALMEIRENSE NA GAVIÕES DA FIEL

Essa história quem me contou foi um palmeirense, mas amigo em comum meu e, acredite se quiser, do Sócrates.
Hachid é um desses descendentes de turco que tem uma loja na tumultuada rua 25 de março na capital paulista. Tive oportunidade de estar com ele algumas vezes e foi numa dessas que ele me contou uma história que só não é trágica por ser muito cômica!


Pra variar um pouco quem o colocou numa grande roubada foi o Magrão.
Num passado não muito distante, o Sócrates  morava em São Paulo e foi convidado para fazer uma visita na quadra da Gaviões da Fiel. Ele confessou que ficou muito feliz com o convite, o motivo era porque, nem na época que jogava no corinthians, havia pisado na sede da torcida organizada e escola de samba.
Sócrates é um homem provido de tamanha humildade. Muito simples não vê maldade nas coisas.
Digo isso porque foi com a melhor das intenções que ele convidou amigo Hachid para que o acompanhasse até a quadra. Detalhe! Hachid, que é palmeirense fervoroso, disse que não iria, pois sua condição de “inimigo” não tinha absolutamente nada  a ver. Mas Sócrates foi insistente e acabou convencendo o turco, que impôs uma condição.
De acompanhá-lo mas ele, o Sócrates não poderia revelar aos corinthianos a verdade , que vestia a camisa do adversário, um dos maiores do coringão.
A recepção, como sempre foi com honras de Chefe de Estado. Sócrates e o amigo palmeirense foram recebidos como verdadeiros heróis. Mesa com chopp e guloseimas no meio da pista, samba comendo solto com direto a passistas requebrando graciosamente na cara do turcão!   A noite estava glamourosa, até que num dado momento, depois de várias na cabeça, Sócrates, dentro de sua simplicidade que lhe é peculiar, num momento de euforia, soltou no meio na nação corinthiana.” Olha galera o turco é palmeirense”. A reação dos corinthianos foi de susto. Acharam que o Sócrates estava brincando. Até então, nunca um palmeirense havia pisado no templo sagrado do Gaviões da Fiel. A do turco Hachid foi de perplexidade! Ficou apavorado e emendou alguns pontapés no Sócrates por de baixo da mesa.
É claro que a notícia se espalhou pela quadra como rastilho de pólvora. Em uma oportunidade o turco chegou a ser indagado por um corinthiano se realmente era palmeirense. Hachid respondeu que sim, mas, o Sócrates que era muito seu amigo, havia insistido para acompanhá-lo e que não haveria problema.
A noite foi passando e o clima esquentando. A partir daí, corinthianos passavam pelo turco de cara feia, como se tivessem acabado de sair de uma partida entre palmeiras e corinthians com o resultado nem um pouco agradável.
Já era para mais de 2 horas da manhã quando o turco Hachid  disse ao Sócrates que precisava ir embora porque precisava abrir a loja cedo.
Foi nessa hora que um grupo de corinthianos disse que o Sócrates não iria embora. “ Não, o Doutor não vai embora não”, emendou um deles e imediatamente sugeriu que alguns amigos o levariam, mas o doutor ficaria.
O turco, burro aceitou! Entrou no carro com três gaviões. Explicou o caminho “do seu casa” na zona sul de São Paulo. Mas no meio do trajeto, morrendo de medo, percebeu que o motorista estava fazendo o caminho inverso. O clima , é claro começou a ficar pesado! Ele tentou argumentar , mas recebeu um cala boca em alto e bom som. Ficou quietinho , esperando qual seria seu destino! Já imaginava que seria linchado, me confessou o turco quando contava essa história.
O fim da linha foi numa favela, onde os corinthianos pararam o carro e aos berros, o xingando de porco e todos os palavrões imagináveis, o grupo o obrigou a descer do carro dizendo com agressividade. “ Só não vamos te arrebentar porque você é amigo do doutor”. 
A salvação dele foi uma viatura da polícia que passou, por acaso pela favela e o levou para casa.
O hoje o turco  conta a história dando risada, mas não esquece jamais do peso que foi invadir território inimigo, mesmo com o rei do lado. Quanto ao rei, o Sócrates, ficou sabendo dessa história no dia seguinte e rindo muito disse. “ Essa história dá um belo samba!”

Bueno – corinthiano, cantor, compositor e apresentador do programa Canta Bueno pela Thathi Tv Cultura.

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