sábado, 14 de janeiro de 2012

Tião Carreiro... O Rei dos Violeiros

E de repente, me vi menino observando meu pai sintonizando seu velho radio carcaça de madeira, enquanto o dial (ponteiro) percorria o visor de um lado para outro e ele pacientemente, tentava ouvir seus violeiros preferidos: Tião Carreiro e Pardinho ou Solino e Marroeiro, Tibagi e Miltinho e outros tantos e, quando conseguia, seu semblante mudava. Seus lábios esboçavam um leve sorriso e eu ocupado com minhas coisas do meu mundo de moleque, podia ouvir o ponteado da viola e vozes de verdadeiros violeiros, aquela primeira e segunda voz, que só eles tem a manha e o talento de fazer.
O tempo passou e eu fui picado pelo vírus da Jovem Guarda. Então, não demorei para comprar uma guitarra e sai mundo afora fazendo uma das coisas que mais gosto que é cantar, nunca esquecendo minhas raízes.
Com o fim dos Beatles houve uma comoção total, e conjuntos musicais do mundo inteiro implodiram e com o meu “The Jetsons” não foi diferente.
Corri atrás de outro sonho, que era ser guarda rodoviário, inspirado em Carlos Miranda que era o ator principal do seriado de TV “O Vigilante Rodoviário” até a música do seriado era bonita!  Carlos Miranda ainda continua vivo e é um dos meus ídolos! Tempos depois pude conhecê-lo no comando da Polícia Rodoviária quando fazia meu curso de especialização em trânsito rodoviário.
Essa profissão povoava meus sonhos, aquela farda caqui, aquela bota, a asinha no peito, o quepe da mesma cor da farda... Nem mesmo tinha passado nos exames e já me imaginava usando a bonita farda e todo orgulhoso!  Lembro-me que naquela época, 1971 o candidato a uma vaga na Policia Rodoviária tinha que ter de altura no mínimo 1,72 metros, ter o colegial completo e ser também motorista profissional.
Sempre carreguei comigo o desejo de ajudar, ser prestativo, tudo a ver com essa profissão, isso me complementou, também   proporcionou-me  a oportunidade de sempre estar em contato com artistas que por nossas estradas passavam, e assim conheci muitos.
 Numa bela manhã de domingo, a estrada meio que vazia eu estava próximo a Sertãozinho sob a sombra de um belo Jequitibá o sol já se fazia forte, decidi parar para fiscalizar um Corcel II branco. Naquele tempo o Corcel II era um dos carros mais desejados por muita gente, e ele estava com a traseira um tanto que arreada. Com a cordialidade que sempre primou um Policial Rodoviário, solicitei do motorista a documentação, olhei seu rosto por traz de um bigode enorme, senti que o conhecia mas, não conseguia lembrar-me de onde e ele muito educado e com um tremendo vozeirão disse-me: “Pois não seu guarda, só que está no porta malas”. Ele desceu do carro, fiquei intrigado observando aquele homem se dirigindo para a traseira do carro e pensei: “quem será esse cara?...”
Porta malas aberto, entre malas e pacotes vi dois ou três estojos de violão e viola, levei um tranco, fixei os olhos no rosto do condutor e matei quem era, estava diante do ídolo do meu pai, o rei dos violeiros, era mesmo Tião Carreiro.
“Tião Carreiro!!! Tava vendo que te conhecia”, eu disse. Mas que prazer ter você aqui em nossa região, ele meio sem graça, com minha tietagem, vestindo timidez procurava em uma pasta os documentos, falei que nem precisava mostrá-los, e completei: “Você é o seu documento Tião, você é o Brasil em pessoa”. Me confessei seu fã e ídolo de meu velho pai.
Tião Carreiro criado nos moldes antigos gentilmente disse, “Seu guarda, faço questão de mostrar meus documentos”. Eu olhei e estava tudo em ordem e, ao olhar a carta vi sua foto, mas no lugar do condutor estava escrito o nome de José Dias Neves.
Constrangido lhe pedi uma explicação e ele disse que José Dias Neves era seu nome de registro e que o violeiro e compositor Teddy Vieira o apadrinhou com o nome artístico de Tião Carreiro.
Ali mesmo na beira da estrada batemos longo papo, pena eu não poder contar para meu pai essa história, pois ele há muito tempo já tinha partido, mas sei que lá de cima abençoou aquele momento e lá se foi Tião Carreiro para mais um show por este Brasil afora.

Bueno cantor e compositor

Nenhum comentário:

Postar um comentário