quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O porquê ele é o Rei



Da minha geração, acho que poucos não têm uma das canções do Roberto Carlos que adotam como a música da sua vida, que lhe trás recordações infinitas.
No meu caso que vivo música 24 horas, tenho inúmeras! Uma delas, por exemplo: “Detalhes”.  Quando a ouvi pela primeira vez, fiquei arrepiado, as notas musicais daquele solo de flauta na introdução, a orquestra, a letra em si, todo aquele conjunto... Tudo perfeito, maravilhoso! Faz parte do meu repertório de serenatas.
Tem outra canção do rei Roberto, “O divã” que poucos sabem por que ela foi feita. Quando a ouço, sempre me transporto para a cidade onde Roberto Carlos nasceu Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo. Na letra ele retrata com extrema sutileza, o acidente que sofreu na infância, quando perdeu parte de uma das suas pernas, atropelado por um trem. Retratar uma tragédia pessoal numa das mais lindas canções não é para qualquer um. Só para grandes homens da arte!
Sem contar esse trauma, foram várias as passagens difíceis na vida do Rei Roberto Carlos que não fizeram que ele se desviasse da conduta que sempre adotou. Das mulheres que amou, e que perdeu.
Atravessou vários regimes políticos, governos diversos. Mas nunca quis se envolver, tampouco usufruiu de sua fama e talento para chegar a qualquer outro lugar. Sem desviar-se de sua missão. Fazer música, cantar!
 Uma das histórias mais lindas, exemplo de companheirismo, amizade e humildade envolvendo Roberto Carlos eu vou contar aqui.
Esta foi durante o regime militar, quando Caetano Veloso teve de se exilar na fria e úmida em Londres. Em suas cartas reclamava de saudade do Brasil, das praias... de sua Bahia. Um belo dia recebe a visita de Roberto Carlos. A missão do rei era lhe mostrar uma canção que havia composto para o amigo Caetano tão sozinho e triste naquela cidade Européia. “De baixo dos caracóis dos seus cabelos”. Imaginem um bahiano acostumado na terra do sol, receber uma canção com essa letra. ”... um dia areia branca seus pés irão tocar e vai molhar seus cabelos a água azul do mar. Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar e ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar...” desnecessário dizer que foi choradeira geral!
A vida do rei sempre foi assim. Simples e sempre preocupado com os outros.
Esta quem me contou foi o delegado aposentado Dr. Edgard Meireles de que, em certa ocasião, quando Roberto Carlos esteve em Ribeirão para fazer um show,estava hospedado no hotel Black Stream que fica próximo à cadeia a qual ele dirigia atualmente o 1º Distrito Policial na Rua Duque de Caxias, Dr. Meireles foi até o hotel com um amigo pedir ao rei se ele poderia cantar uma meia hora para os presos. Ficaram surpresos com o carinho com que foram recebidos pelo cantor, que nem pensou para responder, apenas emendou! “Que horas eu devo estar lá!” Resumo!  Contou-me o delegado que o rei chegou com seu violão debaixo do braço. As celas foram abertas, os presos fizeram roda no pátio e foi uma tarde inesquecível! Roberto Carlos cantou mais de duas horas, o que se via eram olhos cheios de lágrima. É o tipo de coisa que hoje seria impossível de acontecer.
Roberto Carlos é um ser realmente dotado de uma luz inexplicável!
 Nesta outra história relatada pelo meu amigo Washington Barbosa, aconteceu em São Carlos. Dá conta de uma menina muito doente, em estado terminal e fã de Roberto Carlos. Seu pai trabalhava no Banco do Brasil e a família, não medindo esforços para realizar os desejos da filha, despretensiosamente, escreveu uma carta ao rei, contando a vontade que a menina tinha de conhecê-lo.
Certa noite, naquela casa em São Carlos, toca a campainha, e para a surpresa dos familiares era o Rei Roberto Carlos, estava sozinho, veio do Rio de Janeiro de jatinho só para conhecer e dar um alento à pequena fã, Roberto Carlos passou a noite toda ao lado dela. Cantou e ela também cantava suas músicas prediletas, a acariciou e a beijou inúmeras vezes. Antes de o sol nascer o rei se despediu. Foram momentos de extrema felicidade, talvez a última daquela menina, desenganada, mas realizada por ter conhecido seu ídolo, seu anjo da guarda. Não tenho dúvida de que esse encontro teve a mão de Deus. Três dias depois ela morreu!
Roberto Carlos é assim. No seu último show na Cava do Bosque, por determinação do cantor, a primeira fila era ocupada por deficientes físicos. Uma equipe sempre é disponibilizada só para dar atenção aos cadeirantes.
É por essas e outras que o chamam de Rei.

Bueno – cantor, compositor
buenocantor@terra.com.br

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