sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Henrique Bartsch, meu ídolo

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
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A vida prega surpresas que vou te contar... Como poderia imaginar que, no espaço de dois dias, ela tiraria do meu convívio dois grandes amigos? Na madrugada do dia 2 de dezembro de 2011, uma quinta-feira, levou meu amigo Henrique Bartsch. Agumas horas antes ele havia assistido, no RibeirãoShopping, a um show com nosso contemporâneo Jerry Adriani. Dois dias depois foi a vez de Sócrates, meu maior amigo. Henrique era um músico exemplar e muito me ensinou sobre o “ofício”e também sobre o que a vida lhe passou.
Conheci Henrique lá pelos idos de 1962, eu estudava violão clássico quando fui contagiado pelo vírus “Beatles”. Ao ouvir pela primeira vez uma canção deles, decidi que era aquilo que queria, deixei meus estudos de Bach e Chopin e passei a procurar quem que, como eu, estava contaminado pelo mesmo vírus.
Foi quando alguém me disse que na Vila Tibério tinha um cara louco pelos Beatles. Saí à procura e de repente estava diante de um jovem que sabia tudo desta banda que mudou o mundo. Ficamos amigos de cara vi, que Henrique era dono de um talento raro, passou-me perfeitas harmonias, tal qual ouvíamos nos discos, notas e posições que vieram a enriquecer meus conhecimentos musicais.
E nossa vida seguiu, em minha trajetória musical passei por dois conjuntos (hoje bandas), Os Tropicais e The Jetsons. Henrique e seu eterno parceiro Johnny Oliveira criaram o Grupo 17, e tempos depois o nome mudou para Grupo Nós, que até hoje está na área, tendo á frente os filhos dos fundadores, Caetano Bartsch e Rafael Oliveira.
Em 1969, meu conjunto se dissolveu, estávamos sem rumo com o fim dos Beatles e resolvi correr atrás de um antigo sonho, que era ser guarda rodoviário. Exerci a profissão até me aposentar, mas nunca deixei de cantar e compor. Quando ainda era policial, numa noite roubaram a “Veraneio” do Grupo Nós. Na hora Johnny me ligou e alertei meus amigos patrulheiros, que viram quando ela passou em frente à base de Sertãozinho, e após perseguição e tiroteio ela foi recuperada, mas com uma pequena avaria: uma bala furou o tanque e os malandros caíram no canavial.
Meu filho Lucas Bueno era meu pianista, arranjador e produtor. Nós começamos um projeto de, a cada três meses, cantar um grande nome da música popular brasileira (MPB). Eu tinha uma vontade louca de convidar Henrique para tocar comigo, mas tinha certo receio, ele era um músico de altíssimo nível e eu ficava naquela expectativa de ele recusar ou seu cachê não ser o que eu poderia pagar.
Segue o jogo até que armei um show em que cantaria Roberto Carlos, daí me enchi de coragem e fiz o convite. Para minha surpresa, ele disse: “Tô dentro, faz tempo que espero seu convite e nem quero cachê, só quero estar no palco em minha cidade e tocar com você”. Até cedeu o estúdio de sua banda para nossos ensaios, quase caí duro... Que amigo!!! Naquela época, a banda dele tocava pouco por aqui, pois o sucesso deles em Minas Gerais era enorme, principalmente na grande Belo Horizonte. Saíam daqui na quarta e só voltavam na segunda, isso era toda semana.
Fomos pro show e nele Henrique tocou guitarra, violão doze cordas e teclado. Como sempre, arrasou... Henrique estava sempre ao meu lado e os músicos o adoravam, era um misto de respeito, prazer e admiração, até que num fatídico acidente meu adorado filho Lucas veio a falecer. Estávamos a poucos dias de nosso grande show.. “40 anos de Jovem Guarda”. Pensava em cancelá-lo quando, em minha casa, recebo a visita deste ser humano admirável chamado Henrique Bartsch, que levantou-me do chão dizendo para não pararmos com nosso projeto, que com certeza era também o desejo de Lucas. Disse mais: quando sua mãe faleceu, o Grupo Nós tinha compromisso numa cidade próxima a Ribeirão Preto, a banda foi na frente, ele ficou para acompanhar o enterro da mãe e à noite estava junto com seus músicos tocando. Emocionado, falou que ela na certa estava orgulhosa dele, porque era da música que ele sustentava sua família, era o seu ganha pão. Isso bastou pra mim, fizemos talvez nosso mais lindo show.
Henrique Bartsch, pra você meu eterno carinho, amigo.

* Cantor e compositor

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