sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Bombeiros são anjos

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

O Corpo de Bombeiros, esta corporação que é um braço da Policia Militar, detém da população a mais profunda admiração e credibilidade. Um bom exemplo do que digo está nas lojas de brinquedos: um dos artigos mais vendidos são os caminhões de bombeiros. Meu neto de quatro anos, Kauã, tem vários e quando vem em meu apartamento, onde minha sala é enorme, por alguns momentos viro um bombeiro subordinado a ele, que ainda por cima dá uma de comandante, e se não lhe obedeço levo a maior dura.
Na minha última composição, “Meu pequenino”, cito na letra esta brincadeira caseira com ele. Por várias vezes, quando lhe pergunto o que sonha ser, a primeira palavra que ouço é “bombeilo”, ele ainda não pronuncia a letra “erre”...
Meu sogro era um bombeiro muito respeitado aqui em Ribeirão Preto, chamava-se Paulo de Moraes Melo. Aposentou-se como subtenente, também tocava muito bem um violão e cantava. Dgo sempre pra minha esposa que se ele ainda estivesse por aqui, seríamos dois parceiros de primeira.
Meu amigo bombeiro cabo Cabral contou-me que um vizinho seu vivia dizendo, em tom de chacota, que bombeiro não fazia nada, isso porque sempre que ele passava ali na avenida Francisco Junqueira via um monte sentado, batendo papo ou fazendo exercícios. O mala não se tocava, sempre provocador, até que um dia, após nova brincadeira, Cabral perdeu seu humor habitual e lhe deu uma resposta definitiva.
Disse ele: “Cara, reze pra sua casa não pegar fogo, porque somos nós que vamos lá apagar. Reze pra um filho seu não se afogar, porque somos nós que vamos lá salvar. Reze pra você não bater seu carro, porque somos nós que vamos lá tirá-lo das ferragens...” O cara ficou desconcertado, nunca mais brincou com Cabral dessa forma deselegante.
Tenho grandes amigos bombeiros: Vagninho, Rocha, Valtinho, Junqueira, Moura, Bira, Bhrama, coronel Meneguci e outros grandes profissionais. Na minha estada de oito dias em Mongaguá, a praia estava lotadaça, até porque era final de ano e o sol estava muito forte, tão forte que o bombeiro Vagninho – estávamos juntos na mesma colônia – pedia a São Pedro lá no céu para lhe alugar uma nuvem como sombra.
Todas as manhãs, após minha caminhada na praia, ia conversar com nossos bombeiros salvavidas, e eles gentilmente me passavam informações a respeito da maré e onde estavam os bancos de areia que enganam muita gente... e eu passava minha conversa para quem estava ao meu redor.
Dia 31 de dezembro, nove e meia da manhã, eu voltava de minha caminhada quando vi uma viatura dos bombeiros com sirene aberta passar pela avenida rumo ao local onde estávamos, e de longe podia ver a maior muvuca. Nossos heróicos anjos da praia estavam tirando um terceiro afogado, já haviam retirado dois mortos do mar e estavam tentando ressuscitar o outro, já que ele havia bebido muita água e na massagem cardíaca saía muito sangue por sua boca.
Vagninho, embora aposentado, continua honrando sua amada profissão e tentava ajudar seus parceiros, até que o afogado foi levado para o hospital. Depois, Vagninho disse-me com sua enorme experiência: “Buenão, esse sangue veio dos pulmões, o cara ingeriu muita água salgada, seus órgão internos ficaram comprometidos...” Ele estava certo, o cara também morreu.
Nem a notícia de três mortes tirava a euforia dos banhistas, para a preocupação dos nossos heróicos salvavidas, que apitavam e sinalizavam para os babacas recuarem... poucos obedeciam. Na conversa que tive com o bombeiro ele não escondia seu descontentamento pelo fato de os afogamentos terem sido em sua área. De repente, alguém gritou lá no fundão e nosso anjo da guarda, com seu parceiro, saltou no bote vermelho, motor a mil e saíram voando por sobre as ondas, mar adentro... Tudo para salvar mais um afogado...

* Cantor e compositor 

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