sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sururu no casamento da ‘Barata’

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Tião do Violão, meu amigo e parceiro de tantas, encorajado pelas fotos que tirei quando de minha viagem ao Rio de Janeiro, em abril último, resolveu, com sua primeira-dama a tiracolo, fazer o que fiz. Passei-lhe todas as dicas e lá foi ele cheio de gingado, camisa colorida, bermuda e sapatos brancos e na cabeça um chapéu “panamá”, igual aos que uso. Levei Tião ao aeroporto, não sem antes lhe dizer: “Tu tá parecendo o Buenão, meu compadre...” Ele deu aquela risada manjada e respondeu: “Tô vestido de sambista, afinal Buenão, somos sambistas da gema, parceiro.” Daí eu arrematei: “Tião, fui vestido assim e os cariocas pensavam que eu era turista americano, tu vai ver... está na maior pinta de gringo, amigo!”
E lá foi Tião do Violão aportar na capital do samba. Já na primeira noite foi conhecer a quadra da Mangueira, voltou pra Copacabana, onde estava hospedado, de madrugada, feliz da vida e me ligou. Dei-lhe uma dura: “Pô, Tião, você sabe que hora é agora, cara???” Ele baixou a bola e eu aproveitei: “Quatro da manhã, seu mala.” E ele: “Buenão!!! Tinha que te ligar, compadre, tô chegando agora da Mangueira, meu!!! Foi demais, até dei uma canja no cavaquinho do grupo que fazia a galera sacolejar seus esqueletos.”
“Tá bom, Tião”, disse eu. Não dei linha na pipa, esperando que ele fosse breve no papo, mas o velho sambista estava animado, começou a falar das passistas de corpos esculturais, dos artistas presentes na quadra... Papo vai, papo vem e antes que ele engatasse outra conversa educadamente lhe falei: “Parceiro, amanhã continuamos este lero.” Conheço Tião, o papo não tem fim (rsrsrsr). Todos os dias ele me ligava maravilhado com tudo que via.
Tinha lhe falado sobre um bar que fica pertinho do famoso Copacabana Palace, e na noite do último dia 13 ele estava com sua primeira-dama e mais um casal de amigos aboletados numa mesa, curtindo Miguelzinho do Cavaco e seus músicos cantando samba raiz, quando ouviu uma manifestação vinda do badalado hotel. A muvuca era tanta e ele, curioso como é, chamou o amigo para lhe acompanhar, deixando as damas segurando a mesa. Num pulo estavam lá. Eele achava que era algum artista famosão, mas ao se aproximar, logo de cara uma nota de 20 reais em forma de aviãozinho bateu em seu peito e outras mais sobrevoavam a multidão espremida.
Elas vinham da sacada do hotel, de onde passaram também a atirar “bem casado”, aqueles docinhos de casamento. A galera que protestava ficou ainda mais furiosa, levantando cartazes de “Fora Barata... Voltem para o esgoto” “Eu é que estou pagando a festa”. De repente, de onde vinha a grana e doces, veio também um cinzeiro de vidro que fez um azarado levar seis pontos na cuca. Aí o bicho pegou.
Tião descobriu que tal muvuca era o casamento da herdeira do rei do ônibus do Rio de Janeiro, cujo sobrenome é Barata, e o que estava se gastando com a festa era de humilhar muitos milionários por aí. Tião disse que todos que chegavam eram hostilizados, mesmo hóspedes que nada tinham a ver com a festa eram premiados com a pontaria certeira de quem arremessava ovos. Soube que a noiva, choramingando, lamentava “bem no dia mais feliz da minha vida”
Tião e o amigo se mandaram assim que a policia chegou fazendo aquele esparramão e voltaram ao bar com vintão no bolso. No dia seguinte, aquele auê todo estava nos jornais dizendo que a manifestação havia começado na igreja da área central do Rio e que ao invés de arroz jogaram, na noiva e convidados, baratas de plástico que muitas madames pensavam ser verdadeiras. Ffoi o maior quiproquó, da pra imaginar.
Como diz meu amigo Chico Lorota: “Acontecido”. Meu parceiro voltou do Rio cheio de histórias e puxando nos erres e nos esses como um carioca da gema.

* Cantor e compositor 

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