sexta-feira, 19 de julho de 2013

Tio João ‘viajou’

* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Minha crônica de hoje queria muito tê-la escrito algum tempo atrás, quando Tio João estava com a gente aqui na terra. Muitas vezes o citei em artigos passados, sempre contando alguma passagem que vi em sua companhia. O conheci faz mais ou menos 18 anos, levado que fui pelo meu amigo Sócrates. Lembro-me que cantava no Restaurante Ponto Chic, que ficava ali na avenida Antonio Zerrener esquina com rua Amapá, e Sócrates quase que todo fim de semana picava cartão por lá.
Em nossos bate-papos, ele dizia: “Buenão, você tem que ir co­migo num lugar”. Percebi que ele era espírita e o convite era pa­ra ir no centro que ele frequentava. Eu, de formação católica, sempre tive um pé atrás com o espiritismo, imaginava ser um local onde se usava sangue de animais, velas vermelhas e tu­do mais, tudo isso me amedrontava. Até que, em uma sexta-fei­ra, eu estava cantando, e num intervalo sentei-me à mesa do Ma­grão e ele foi logo falando: “Buenão, não quero nem saber, ama­nhã passo na sua casa uma e meia da tarde, te pego e você vai comigo nem que for na marra.”
Sócrates sempre foi muito pontual. E lá fui eu meio que ressabiado, mal sabendo que naquela tarde ia conhecer Tio João, uma doçura de ser humano. Sócrates logo disse... “Buenão, Tio João veio a este mundo só pra fazer o bem.” Daí eles me levaram para uma sala que tinha uma enorme mesa com toalhas branquinhas, copos e uma jarra com água, nada de velas. Nas paredes imagens de Jesus, Chico Xavier e Alan Kardec. Confesso que nunca senti paz maior, parecia estar em um sonho.
Naquela mesma tarde fui submetido a uma cirurgia espiritual e curado de uma dor próximo ao umbigo, mas o pós-operatório é que foi lindo, sai de lá como se estivesse feito uma cirurgia em hospital tradicional, sentindo o repuxar dos pontos. Ao sair, o Dr. Hermamm, médico alemão que incorporava na mé­dium Ana, me disse que na noite seguinte, domingo, era pra que eu ficasse deitado que a equipe dele iria em minha casa, entre oito e nove da noite, fazer curativo.
Pensei: “Pô! Como irão a minha casa se nem pegaram meu endereço???” Pra minha surpresa, no horário combinado senti mãos invisíveis mexendo na região operada, fiquei em estado de graça com tudo que vivi e a partir deste dia descobri a minha verdade religiosa: tornei-me espírita. Pena ter demorado tanto para descobrir caminhos tão esclarecedores.
Passei a frequentar a rua Santos nº 1.555, sempre acompanhando Sócrates, e a cada dia me surpreendia mais com Tio João. Via naquele homem uma figura rara de ser humano, ele me lembrava Chico Xavier, me lembrava São Francisco dada a sua enorme vontade na prática da caridade.
 Em 1999 ele criou o Lar do Jovem Idoso com os meios que tinha, na época a estrutura era um pouco tímida e hoje acolhe 50 velhinhos que suas famílias ignoram. Alem disso, todas as tardes fornece sopa para moradores ao redor, contando com ajuda de colaboradores, entre eles o Varejão Cenourão.
Tio João aumentou o espaço físico comprando os terrenos vizinhos, também com ajuda de bondosos corações. Sócrates muito ajudou nessa fase, a coisa ganhou corpo e muitas pessoas caridosas começaram a participar.
Tive a graça de receber ali duas mensagens psicografadas do meu filho Lucas Bueno, que muito me confortaram. Vi e vivi com Tio João coisas maravilhosas que só quem estava presente pôde testemunhar. Na quarta-feira, dia 3 de julho, dez da manhã, deu-me uma enorme vontade de vê-lo e fui até o asilo. Disseram que ele não estava bem e fui até sua casa, que é vizinha. O velho amigo estava acamado dizendo que foi pegar uma prancha pesada e sua coluna saiu do lugar. Liguei para um amigo massagista que só tinha horário as três da tarde, e quando fui pegá-lo, já estava na Santa Casa, de onde saiu na sexta-feira para sua última morada.
Minha ida na quarta-feira à casa dele me diz que fui abençoado, recebendo um aviso dos céus, tipo: “Vá despedir-se do Tio João que ele está partindo...”

* Cantor e compositor 

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