Meu primeiro violão é uma obra de Leopoldo Lima
Há pouco tempo no Templo da Cidadania, conversando com o Fernando
Kaxassa começou a relembrar nosso saudoso e querido artista plástico Leopoldo
Lima. Recordo-me que o Kaxassa disse: “Buenão, hoje uma obra feita pelo
Leopoldo vale cerca de quarenta e cinco mil reais.” Eu, surpreso! Lembrei que
tinha em casa uma obra dele, que pode ser considerada uma das maiores da
história de Ribeirão Preto.
Bem, na verdade, tenho um violão que ganhei no Natal de 1961 do
vice-cônsul de Portugal, Sr. Hermínio Maia Picado. Eu era um simples office
- boy em sua loja, a Casa Trindade e que em 1970, já surrado, pois
era meu parceiro de boemia recheadas de serestas que transcorriam noites e
madrugadas adentro.
Resolvi tirar suas cordas, lixá-lo e, dentro da minha
inocência, fui pedir ao nosso artista que pirografasse qualquer coisa em seu
bojo.
Quando comentei com amigos, minha intenção, disseram que eu
estava louco, pois Leopoldo Lima era internacional. Na certa se
recusaria. Mas, eu estava mesmo disposto, e com meu violão a tiracolo, me
mandei para a casa do Leopoldo, na época na Rua André Rebouças no velho
Ipiranga.
Ele me recebeu bem e quando fiz o pedido, pensou um pouco e disse:
“Só faço o trabalho se você me prometer que não vai vendê-lo”. Lógico que
prometi. E entrando na casa, fui tendo uma surpresa atrás da outra: as
paredes forradas com jornais, portas estratégicas e uma escada que nos levava
ao seu atelier, no cume da casa. As crianças brincavam por todos os cômodos e
eu ali, maravilhado, vendo Leopoldo desenhando no meu violão. Enquanto ele
trabalhava, voltei alguns anos no tempo, quando ele tinha uma pequena porta no
primeiro quarteirão da General, onde fazia trabalhos de pirografia.
Na época, escreveu um livro que só tinha um parágrafo. Era
lendário. Diziam que ele se inspirava em noites de tempestades, subindo no
telhado para produzir seus quadros. Seus dois últimos filhos não tinham nomes,
pois ele queria que quando estivessem em idade escolar pudessem escolhê-los. O
motivo era porque sua filha Cláudia não gostava de seu nome. Ela queria se
chamar Érika como sua prima. Já os meninos foram crescendo com apelidos.
Um era “Psiu” e o outro o “Oi”. Interessante né!!!!
E assim o tempo passou... Leopoldo acabou a obra, assinou e
datou. Eu já estava guardando meu violão, quando ele disse: “Deixe-me escrever
uma frase” e o fez: “Pensamos
melhor que os animais. No entanto, agimos pior que eles” Meu caro amigo,
diga-se de passagem, Policial
Rodoviário Passarelli, dono de uma das maiores vozes do país adora essa frase.
E o tempo foi passando. Leopoldo mudou-se para Rua Capitão
Salomão, em frente ao número 1.595.
Ele possuía verdadeira aversão por carros. Por isso, plantou
uma mangueira bem na entrada da garagem para impedir que sua esposa
estacionasse seu novo carro. Ela está lá firme e forte até hoje!! Resistiu ao
tempo e a essa história fabulosa!
Nessa casa fui duas ou três vezes. Lembro bem quando ele estava
trabalhando no quadro da Santa Ceia. Ficou lindo! Ele passava horas e horas, de
cócoras, na calçada pensava muito. Leopoldo expunha os quadros na praça XV, sob
a sombra de uma árvore, e em varais, na General com a Tibiriçá. Chorava muito
quando sua esposa, sem sua autorização vendia uma das suas obras para a
sobrevivência da família considerava seus quadros como seus filhos, não ligava
para o vil metal.
Um dia fui ao velório da Saudade, pois um amigo havia falecido. O
velório tinha várias salas e, naquele dia, estavam lotadas. Entrei na primeira,
não era a do meu amigo, mas me parecia alguém familiar, estava saindo quando
perguntei quem era alguém me respondeu: “é o Leopoldo Lima”, levei um tranco, olhei
seu rosto bem magro, barba serrada, fiz uma oração, saí dali com a impressão de
que ele tinha me levado até sua sala tipo: “Buenão venha me ver, to indo
embora”.
Fiquei sabendo recentemente que Leopoldo Lima Filho freqüentava o
Templo da Cidadania, pedi ao Kaxassa que me apresentasse. Nos conhecemos,
conversamos muito e ele me contou várias histórias do pai, que vou guardar com
o maior carinho. Perguntei sobre seus irmãos que não tinham nome, ele riu
muito e disse que quando chegou à idade escolar, os irmãos tinham que escolher
um nome. No caminho para o cartório, o mais novo perguntou ao mais velho:
- Qual nome você
escolheu?
- Não sei ainda. Lá eu
vejo. E você, já escolheu o seu?
- Já. Vou me chamar
Marcelo.
No cartório, o oficial perguntou ao mais velho o nome para o registro
e ele respondeu
- “Quero me chamar Marcelo”, roubando o nome escolhido pelo irmão
que sem alternativa, foi obrigado a se chamar Fernando.
A família Leopoldo Lima, o meu carinho. E na minha sala permanece
uma obra do grande artista. Meu primeiro violão que não vendo!!!!
vergonha o único artista plastico digno de mérito de ribeirão preto caiu no esquecimento !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirvergonha o único artista plastico digno de mérito de ribeirão preto caiu no esquecimento !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirEra meu primo. Inteligência rara. Nosso país não dá valor aos seus artistas. Lamentável!
ResponderExcluir