domingo, 18 de setembro de 2011

Deu BO no samba


* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

Sábado, tipo três da tarde, e eu pensando em que fazer, quando toca meu telefone. É Tião do Violão, e ele vai logo falando: “Buenão, vamos cantar uns sambas lá no boteco da tia?” “Onde fica?”, perguntei, e ele: “Pô, Buenão, é ali no Jardim Macedo, o André seu amigo da secretaria mora lá perto e disse que é muito aconchegante, bem frequentado e tem o que gostamos”. “Pode parar”, eu disse ao Tião, “porque já estou com água na boca”...
Resultado: coloquei no porta-malas meu kit de sambista: violão, cavaquinho, pandeiro, chocalho e tamborim, fiz um chamego em minha primeira dama para conseguir a liberação do alvará e já estava saindo quando ela disse: “Pera aí!!! Eu te levo e te busco. Vai que, de repente, você esquece da promessa que fez ao Magrão, de ser solidário e dar um breque no ‘birinaite’, e tem uma recaída? Quando acabar, você me liga que te busco. E veja se não demora porque a noite temos que ir a um aniversário”. “Tá bom”, eu disse a ela. Quando saio com Tião do Violão tenho até medo porque sempre acontece alguma coisa sem que a gente espere...
Pois bem, bar localizado, Tião já estava lá todo alegrão com violão nos braços. Começamos a colocar nosso papo em dia e ele não sabia que eu estava na abtinência, mas mesmo assim não deixei a peteca cair, passei a mão no meu cavaquinho e o acompanhei em muitos sambas das antigas e inesquecíveis rodas de samba.
Tião já havia desfilado parte de seu repertório quando resolveu dar um tempo, encostou seu pinho na parede, contou algumas piadas e do nada soltou essa: “Buenão, estava outro dia em casa e danei a pensar em alguns cantores que fizeram sucesso com apenas uma música. Fiz até uma lista...” Tirou do bolso uma folha com anotações e começou: “Lembra do João Só???” Falei: “Aquele que cantava Menina da Ladeira?” “Ele mesmo”, respondeu Tião. João Só é o exemplo de cantor de uma música só. “Cara, você tem razão”, respondi e, igual a ele, temos às pencas. Então, citei o Evaldo Braga, que cantava Sorria meu bem, sorria. Aí, ele disse: “Temos a Vanusa, que foi mulher do Antonio Marcos, que fez sucesso só com uma música também: Vem, vem pra bem perto dos meus braços”. Mas, aí eu falei: “Você está enganado, Tião, a Vanusa tem mais sucessos”. Ele duvidou, e eu o lembrei das Manhãs de setembro e Sonhos de um palhaço, que é uma inspiração simplesmente linda feita pelo Antonio Marcos.
“Buenão, e aquele cara que cantava Farofa-fá, também foi só ela e sumiu!” Rebusquei na memória e me lembrei, seu nome era Mauro Celso, já morreu também, como Antonio Marcos e João Só. Em sua lista estavam meus primos Jane e Herondy e nessa ele tinha razão, o sucesso deles foi Não se vá, confesso que não me lembro de outro.
Outros nomes ele ainda não havia falado, mas pude dar uma olhada e eram Tom Zé, João Gilberto, Jair Rodrigues, Noite Ilustrada, Márcia que cantava Ronda e é esposa do Silvio Luiz, tinha o Teixeirinha com seu Churrasquinho de mãe e mais um monte.
Voltamos ao samba, que rolava legal, e estava quase na hora de ligar pra dona patroa me buscar para o tal aniversário. No entanto, quando olho na calçada, vejo chegando ao bar meu amigo André, de braços com duas passistas da Embaixadores, ambas de beleza rara, daquelas que, como dizia Sargentelli, “mulatas que não estão no mapa”. Daí, pensei: “A coisa não vai prestar, vai dá BO.” Mas, como não sou de fugir da raia, fui ficando mais animado ainda e passei a cantar sambas provocando as passistas a sambar como somente elas são capazes, cheias de ginga, cheias de inocentes malícias, e eu só sei que o que estava bom, ficou maravilhoso.
Com todo aquele “cenário”, acabei esquecendo o tal aniversário, como também de ligar para a patroa e caí no samba. As passistas mostravam toda exuberância e charme, só no sapatinho e eu ali cheio de amor pra dar, encostei meu cava­quinho e até arrisquei uns passos no samba, quando alguém me deu um toque: “Buenão!!!” Falei: “O quê?” “Dê uma olhada na porta do bar”. A galera parou o samba, eu dei uma geral e dei de cara com minha primeira-dama, de braços cruzados, chave do carro na mão... Nem precisou dizer nada, enfiei minha viola no saco, juntei meu kit de sambista e fui dançar uma valsa em casa.

* Cantor e compositor

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