sábado, 20 de agosto de 2011

A boemia esta doente!!!


* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
Semana passada fui surpreendido por duas notícias que me deixaram um tanto que aborrecido. A primeira era de que Caburé, boêmio de carteirinha, havia amputado alguns dedos do pé. Logo ele, que canta como um rouxinol e toca um violão com talento raro. É do tempo em que se usava dedeira no polegar direito, de onde, ao tocar os bordões, o som das cordas sai com uma nitidez impressionante.
Carlão é contemporâneo de Caburé e os dois sempre foram grandes amigos. É queridíssimo no ramo gastronômico, trabalhou em tudo que é canto da cidade, e onde montava um bar, atrás ia uma legião de amigos. Todos sabiam que, onde Carlão estivesse, comia-se bem. E dá-lhe caldo de mocotó, joelho de porco, feijoada, peixe grelhado... Pôxa, só de escrever me dá água na boca...
Carlão e Toninho abriram um bar na rua Amadeu Amaral com Floriano Peixoto, e até ganharam ano passado o primeiro lugar no famoso concurso Comida di Buteco – neste ano foram premiados com o segundo lugar. Carlão, tal qual Caburé, também foi pego de surpresa pelo mesmo mal, essa tal de diabetes. Êita, mas que doencinha traiçoeira, silenciosa... É mais uma dessas "doenças modernas" que nos impede de saborear uma pá de coisas que gostamos como: pão, bolo, bolacha à noite (pois vira açúcar)...
Pôxa, pizza vira açúcar, até a cerveja contém açúcar. Tô frito, amigo! Pois bem, deu um monte de coisas no querido Carlão: fez safena, precisou amputar uma perna, estava internado, nem visita podia receber.
Lembrei-me de quando o presidente João Batista Figueiredo esteve aqui em Ribeirão Preto, foi lhe oferecido um jantar e ele perguntou se tinha algum cantor de seresta na cidade. Então, lembraram de Caburé, que na época era policial militar. Naquele dia ele estava trabalhando. Resultado: mandaram tirar Caburé da escala e ele chegou no Black Stream com a maior pinta de artista de renome. Caburé deixou o presidente encantado. Figueiredo gostou tanto dele que por vários fins de semana mandava um jatinho da Presidência buscar nosso cantor para cantar na Granja do Torto, em Brasília.
Caburé teve vários bares na cidade, mas, sempre falia porque não cobrava dos boêmios e músicos, enfim, não sabia administrar, não nasceu para isso. O último bar que possuiu colocou o nome de A volta do boêmio, ficava na Américo Brasiliense com a Marcondes Salgado, em frente à lotérica e bar Jóquei.
Caburé me contou que, certa vez, cantando em uma mesa de bar, tomando cerveja sem compromisso, viu ao lado um senhor que tudo ouvia e adorava, foi quando arriscou e pediu a Caburé para cantar algumas músicas. E o nosso cantor, é claro, mandou ver, fazendo o cara chorar de emoção, pois era época natalina e antes de ir embora o ouvinte colocou no bolso da camisa de Caburé um cheque dobrado e disse: "Você com sua voz maravilhosa e suas canções me fizeram voltar a uma etapa muito feliz da minha vida, este é um presente para que você tenha um feliz Natal com sua família".
Caburé foi até o banheiro louco para ver o valor do cheque e levou o maior susto, amigo, pois, o valor dava pra comprar um carro zero na época. Ele saiu correndo e o cidadão já estava de saída. Caburé disse achar que o valor estava errado, era muito alto e o cidadão disse: "Não é não, é esse o valor, você me fez feliz, merece muito mais"
Na segunda-feira seguinte, Caburé foi fardado descontar o cheque, mas como o valor era muito alto, foi a maior correria entre os gerentes do banco. Por fim, ele saiu com aquele monte de dinheiro, em vários sacos de papel de pão, jogou tudo dentro de seu fusquinha e saiu pela cidade de bar em bar – o vento até jogava algumas notas pela janelinha. Aí bateu a tal de preocupação: "Que fazer com essa grana??? Nunca vi tanto dinheiro!!!" Anoiteceu e ele tomou uma decisão: Foi até a estação rodoviária e distribuiu uma dinheirama entre os mendigos que dormiam sob a marquise. Ato seguinte: foi para uma chácara de prostituição e ali perguntava para as mulheres: "Como você entrou nessa vida???" Elas contavam suas histórias e ele ia distribuindo o dinheiro, acabando com o resto ali mesmo. Saiu de lá como sempre viveu. Aí está um pouco das histórias desses dois grandes boêmios e meu desejo de que eles dêem a volta por cima.
* Cantor e compositor

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