segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Dr. Siqueira, o delegado corintiano

Bueno *
Se tem um delegado de Polícia Civil pra quem eu tiro meu chapéu, este é o doutor Sérgio Siqueira. Com ele bandido não tinha moleza, não, amigo, era tratado como bandido mesmo. Dr. Siqueira é meu querido amigo de longa data, época em que ainda era subtenente da Polícia Militar e eu policial rodoviário. Ele estava prestando concurso para delegado e quando passou, falei para meus companheiros: “Perdemos um senhor policial e a Polícia Civil saí ganhando de goleada, pois terá em suas fileiras um delegado com uma bagagem que poucos têm”.
Naquele tempo, Siqueira já era temido pelos bandidos da cidade e pelos motoqueiros que arriscavam a vida `nas tardes dos domingos em “rachas” na avenida Presidente Castelo Branco. Quando ele chegava no pedaço com sua equipe era uma esparramada geral, uma correria até bonita de se ver, mas alguns “manés” sempre caíam na rede e pagavam pelos outros que fugiam.
Eu adoro usar chapéu e o responsável por incorporá-lo na minha indumentária é justamente o Dr. Siqueira, isso porque, certo dia, apresentei meu programa de TV “Canta Ribeirão” com um chapéu “panamá”, era uma homenagem ao sambista carioca João Nogueira. Ele assistiu e quando a gente se cruzou num domingo, no Clube de Regatas, ele me disse: “Buenão, você ficou muito bem de chapéu na TV, use sempre e assim você vai consolidar uma marca toda sua”. Ele tinha razão, hoje tenho muitos chapéus e até agradeço ao querido amigo.
Nos campeonatos de futebol lá no Regatas, Dr. Siqueira é um zagueiro de respeito, daqueles que chegam junto e não dão mole pra atacante nenhum. Mas bamba mesmo ele é numa mesa de bilhar, é sempre campeão, quando há torneio é comum vê-lo caminhando pelo clube com um estojo em que guarda a sete chaves seu taco mágico.
Cantei por 16 anos no restaurante Ponto Chic e Dr. Siqueira e esposa sempre me prestigiavam, eu até sabia de suas preferências musicais e as cantava com prazer. É grande fã de Benito di Paula e, empolgado, às vezes até subia no palco, passava a mão num tamborim e não deixava a peteca cair, o samba de seu ídolo ficava redondinho.
Ali, numa noite batendo papo em sua mesa, ele revelou me ser corintiano. Só dava entrevista para uma emissoras de TV se o distintivo do Corinthians aparecesse ao fundo, mas por um descuido seu, um de seus filhos bateu asas para os lados do Mo­rumbi.
Meu irmão Rubão e seus filhos Daniel e Vitor são são-pau­linos de carteirinha, e quis o destino que sua filha Camila e Francelso, filho do Dr. Siqueira, juntassem as alianças. Foram morar pertinho de meu mano. Quando ela engravidou e descobriram que seria menino, Rubão recebeu a visita de Siqueira, que feliz da vida fora lhe propor um acordo. Disse ele: “Rubão, vamos fazer o seguinte, vocês escolhem o nome, façam o que quiser, mas o time eu e Francelso escolhemos, fechado????” Rubão topou e também muito feliz bateu o martelo.
O garoto nasceu e no quarto dele havia tudo que lembrava o Corinthians: berço, cuequinha, blusinha, bandeira na parede... Na porta estava escrito: “Aqui mora um corintiano”. O menino foi crescendo, convivia nas duas casas, duas torcidas inimigas, meus sobrinhos tentando fazer a cabecinha do garoto para ele virar casaca... Por azar, o São Paulo entrou naquela fase de ganhar tudo, alguns coleguinhas de classe mudando de time e o pequeno falou para seu pai que viraria são-paulino. Francelso, muito nervoso, foi até a casa de meu irmão Rubão e sobrinhos lembrá-los do acordo.
Tudo acertado, o garoto hoje está com a cabeça feita e a nação corintiana pode contar pra sempre com mais um no seu bando de loucos. Dr Siqueira, um baita abraço, sinto orgulho de ser seu amigo.
* Cantor e compositor

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