Bueno *
Já me fiz esta
pergunta centenas de vezes: netos, por que crescem??? Fui avô pela primeira vez
com 48 anos, não tinha ainda a manha dessa relação neto e avô como tenho hoje,
aos 66. Escrevo esta crônica justamente no dia em que meu neto mais velho, Luiz
Roberto, faz 18 anos. Pra ele já fiz três músicas: “Gente Nova” e “Jovem
Guerreiro”, estas duas em parceria com Sócrates, e a última, “Lamentos do
vovô”, que compus quando ele fez 12 anos e começou a sair com seus amiguinhos
da escola, descobrindo os prazeres de um certo desligamento do cordão
umbilical.
Pouco antes já
estava sentindo sua ausência, isso cada vez mais frequente, daí me lembrava do
seu tempo de pequeno, época em que ficava muito comigo, pois seu pai trabalhava
demais. Minha casa tinha um alpendre grande e dele fazíamos nosso campo de
futebol, ele adorava bancar o goleiro, até lhe ensinei a bater falta de três
dedos. Com garrafas pet cheias d’água, fazíamos nossa barreira e ele quase
sempre as derrubava com chutões.
Em meu sofá,
povoava sua cabecinha aguçando sua fértil curiosidade com histórias por mim
contadas, histórias vividas do meu tempo de guarda rodoviário, e que ele sempre
me pedia para repetir. Quando sem querer omitia algum detalhe, ele logo me
corrigia: “Vovô, você esqueceu-se de tal parte...”
Foi justamente
lembrando dessa fase e do vazio que ele aos poucos deixou que compus a terceira
música, “Lamentos do vovô”, cuja letra escrevo aqui: “Já não brinca mais
comigo, nem corre mais no meu quintal, o tempo não foi meu amigo e te levou, passou
como um vendaval... Ah!! Mas que egoísta eu sou, querer você sempre criança,
tempo de sonho de um passado que vivi, restou apenas lindas lembranças... Das
histórias que teus sonhos povoei, hoje não acredita mais, os heróis que pra
você eu inventei, morreram todos, restam meus ais... Vou estar sempre por
perto, sempre a proteger você, cada degrau que na vida conquistar, olhe do lado
você vai me ver, e quando tiver colhendo os frutos de tudo que você conquistou,
nunca se esqueça que sempre estará aqui, todo orgulhoso este seu vovô.”
O tempo não para,
já dizia Cazuza, e hoje Luiz Roberto faz 18 anos. Como todo adolescente, já
passou daquela fase de que pensa que sabe tudo... agora tem certeza! Isso
provoca algumas divergências entre pai e filho e acho até normal, a vida vai
nos lapidando à sua maneira. Meu filho Paulo Bueno o teve muito cedo, com
apenas 20 anos. Luiz Roberto foi um quase que irmão mais novo dele, Paulo
trabalhava numa empresa multinacional e ela o consumia muito, era muita
pressão, com menos de 30 anos sua cabeça ostentava muitos fios de cabelos
brancos, ganhou também como brinde uma sinusite crônica, pois ele era obrigado
a entrar todos os dias numa câmara fria para conferir produtos, o choque
térmico era inevitável.
Quando Luiz Roberto
estava em idade escolar, prometi lhe dar um Chevette quando completasse 18,
promessa que tudo farei para cumprir. Como todo vovô, só quero seu bem, sonho
vê-lo formado, é um ótimo neto, não bebe e não fuma, mas tem este vício que
assola o mundo, este pequeno aparelho manual que sempre muda de nome: celular,
iPhone e outras modernidades que atrapalham o delicioso bate-papo.
E como o tempo
passa... Meu segundo neto, Kauã, fez quatro anos em novembro, já passou sua
fase de bebê, o vejo agora um molequinho. Ainda troca algumas letras como o
“erre” pelo “ele”. Kauã é meu grande parceiro, só que com uma energia que vou
te contar. Hoje estou com 66 anos, não tenho mais aquele pique e ele não quer
perder um segundo de seu tempo. Outro dia ele ouviu nossa conversa a respeito
do Chevette de seu irmão, daí falou: “Vovô, quando eu ‘clesce’ não ‘quelo’ um
‘sevette’, não. ‘Quelo’ um ‘Camalo Amalelo’... Ah, meu Deus! Por que netos
crescem???
*
Cantor e compositor
Nenhum comentário:
Postar um comentário