Bueno *
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Reginaldo Rossi nos deixou. Rolando Boldrin costuma dizer: “viajou antes do combinado”. Reginaldo partiu, mas deixou uma obra que poucos artistas brasileiros carregam na bagagem. Ele é meu contemporâneo, surgiu no Nordeste e com a febre da beatlemania formou um conjunto musical, assim como nós aqui da região Sudeste – nessa onda eu também embarquei.
Reginaldo conseguiu romper a barreira que musicalmente separa sua região da nossa com a composição “O pão”, invadindo a área da Jovem Guarda comandada por Roberto Carlos, Erasmo e Vanderlea e que era a coqueluche do momento na área musical. Sua música até virou gíria por aqui, tanto que quando as garotas queriam se referir a algum rapaz boa pinta, logo diziam: “Ele é um pão”.
Já conhecido nacionalmente, engatou outros sucessos como “Mon amour, meu bem, ma famme” e “A raposa e as uvas”. Reginaldo, que diziam ser brega, falava outras línguas, estudou arquitetura e optou por cantar e compor musicas do gênero romântico jovem. E se deu bem. Na música “Mon amour, meu bem, ma famme” ele descreve o veneno e a beleza de uma mulher de corpo pequeno por ele desejada, e até diz “sou metade sem você”.
Na dançante “A raposa e as uvas”, ele nos remete a uma época deliciosa da minha mocidade, quando, aos domingos de tardezinha, organizávamos brincadeiras dançantes na casa de amigos e não precisávamos de muita coisa, não, bastava apenas uma vitrola ou toca-discos e alguns “LPs” que o evento estava garantido, todos colaboravam com alguns trocados e logo surgia um tal de ponche e também cuba libre, que nada mais era do que misturar coca-cola com rum. Ninguém ficava de fogo, apenas dava um ingênuo colorido em quem provava.
O que vivíamos por aqui o grande Reginaldo Rossi escreveu nessa letra, num tempo em que quem tinha uma lambreta era considerado o rei da cocada preta. Também diz que, no fim da festa, ia levar a garota em sua lambreta e no seu portão seu beijo roubar, mas de olho esperto pois o pai da donzela poderia aparecer.
Seu maior sucesso foi “Garçom”. Digo maior porque esta música teve muitas regravações e quando ela estourou, logo a decorei. Num sábado, estávamos eu, Sócrates, seus irmãos, filhos e amigos no Pirajá Bar, em São Paulo, tocando violão e cantando na parte externa. Era um lugar muito chique, daí Sócrates disse: “Buenão, cante “Garçom”. Eu retruquei dizendo que esta música naquele bar não ia pegar bem, ele insistiu então soltei o gogó. Foi um silêncio só no bar, e quando entrei na segunda parte, em que a letra diz “saiba que meu grande amor hoje vai se casar...” Pra nossa surpresa, o bar inteiro cantou junto, e quando acabamos foi uma loucura. Naquela noite cantamos “Garçom” umas dez vezes, e a equipe de garçons ficou nos paparicando a noite toda.
Há alguns anos, Sócrates ficou sabendo que Reginaldo Rossi faria um show na Festa do Peão de Barretos e resolveu prestigiá-lo, chegando na cidade no período da tarde junto com Mazinho e amigos. Como sempre, sua presença virou uma grande festa que continuou à noite no camarote. Quando Reginaldo estava cantando, disseram a ele que Sócrates estava presente, o velho cantor ficou louco e passou a convidá-lo para cantar com ele. Magrão topou a parada, pulou alguns cercados e os dois ídolos se abraçaram com carinho.
Reginaldo perguntou qual música dele o Doutor sabia e a resposta foi “A raposa e as uvas”. Mal acabou de falar e a banda atacou na introdução. Ambos começaram a cantar, só que, naquela altura do campeonato, o Doutor pouco se lembrava da letra... No final, o aplauso foi geral. Mazinho diz que foi uma bela noite.
* Cantor e compositor
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