sábado, 9 de novembro de 2013

Viola na parede

Bueno *
 
Escrevi esta crônica faz sete anos, mas como surgiram fatos novos, decidi reescrevê-la.
Nossa viola caipira tem um som apaixonante e dizem ela ter nascido em Portugal... Será verdade? Não sei, só sei que ela tem o som mais abrasileirado dos instrumentos que conheço e é abraçado a ela que um violeiro se põe a sonhar. Com suas mãos mágicas, produz sons que invadem o silêncio para ouvir seu lamento.
A viola tem várias afinações: em ré, em mi, cebolão, rio acima, rio abaixo. Segundo JC da Viola, tem mais de trinta afinações... mas que instrumento apaixonante !!!!!
Num fim de tarde, eu estava numa loja de instrumentos na estação rodoviária e um senhor, morador de Terra Roxa e muito simples, havia acabado de comprar uma viola novinha. Como o lojista não aceitou sua velha viola no negócio, ele decidiu vendê-la. Era linda, perguntei quanto queria pelo instrumento e ele disse: “Entrego por R$ 50”. Eu tava duro, daí liguei para o Sócrates, que estava no Bar Brenos com o amigo Pedro Sergio, e ambos dividiram a compra da viola. Eles a deixaram comigo e nela ate aprendi alguns ponteados.
Certa noite, Sócrates recebeu a visita de dois amigos violeiros de Cássia dos Coqueiros, amigos do tempo em que ele e o doutor Said Miguel, hoje médico conceituado em Batatais, faziam residência de medicina naquela cidade. Os amigos eram Oscar e Ferlin, cantavam modas de viola e contavam histórias que Magrão adorava. No calor da cantoria, o Doutor da bola deu a eles a viola, mas ela estava em minha casa e combinamos de voltarmos a Cássia para levar o tal instrumento.
Continuei ponteando a viola por aqui, o tempo passou e a levei numa cantoria na casa do amigo Wander Ligabó. Não sei como a esqueci lá, e ele, de repente, mudou-se para São Paulo. A prometida viola foi no rolo da mudança e só em Sampa é que ele foi perceber. Olhem só esta história.
O craque Raí fez aniversário e Wander foi convidado, na festa estava também o mineiro Gabriel Guedes, amigo de Rai e Sócrates e filho do cantor e compositor Beto Guedes. Gabriel é um jovem carismático e multi-instrumentista, toca tudo e deu show de piano e violão encantando a todos.
No dia seguinte, Wander resolveu fazer uma cantoria em sua casa e convidou o jovem músico, que de cara aceitou, até porque ficaria em São Paulo por uns dias. Já na festa, Gabriel voltou a tocar piano até que Wander disse: “Gabriel, eu tenho um instrumento que duvido que você toque, é uma viola.” O músico disse: “Então traga a bichinha, vamos ver.” E Wander buscou a nossa viola.
Gabriel afinou as cordas e arrasou tocando até música clássica. Ficou apaixonado pela viola e perguntou a Sócrates quem era o dono... Magrão, rápido no gatilho, respondeu: “A partir deste momento é sua!!!” Gabriel nem acreditava que ganhara de seu ídolo aquele instrumento, disse que ela teria lugar de rainha em sua casa. A cantoria continuou e nossa viola voou para Belo Horizonte, cidade onde reside o músico.
O tempo voou como um raio e Gabriel criou um projeto em sua cidade para resgatar o nome “Clube da Esquina”, criado por Lô Borges, seu irmão Marcio Borges, Beto Guedes e Milton Nascimento. Gabriel comprou a famosa esquina e ali ergueu um charmoso bar cujo nome é Clube da Esquina, ali a cultura da cidade aflora, virou ponto turístico, tudo ao redor esbanja música. Numa das paredes há vários instrumentos dependurados, e entre eles reina a nossa famosa viola, presenteada por Sócrates. Fico muito feliz por ter noticias da velha companheira e um louco desejo de conhecer o Bar Clube da Esquina...
 
* Cantor e compositor

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