quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Maquiadora de defunto

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Existe cada profissão que vou te contar, mas em todas sempre há alguém para exercê-la. Molhando a palavra no Bar do Bim, quando meu parceiraço Tião do Violão, um cara muito antena­do, perguntou-me sobre Luiz Roberto, meu neto, se ele ia prestar o Enem. Tião queria saber se o garoto já havia escolhido uma profissão. Disse ao amigo sambista que ele queria fazer engenharia, mas parecia estar mudando de ideia, pois, até pouco tempo, dizia adorar essa tal de matemática, base da profissão e matéria que se tivesse puxado pro avô, tava ferrado, mas que na atual fase a matemática andou causando emba­raço em sua cuca e que dois mais dois não estava mais somando quatro (rsrsrsrsr).
“Buenão”, disse ele, “hoje as opções são das mais diversas, ele pode escolher a rodo, estão surgindo centenas de novas profissões, como essa tal de engenharia mecatrônica, que nem sei o que é, mas muito se comenta.” “Olha, Tião”, disse eu, “deixe o barco correr, ele só não pode perder o trem da história, o que ele escolher estarei por perto apoiando.”
Com o cotovelo no balcão ouvindo nosso papo estava Cibim, irmão mais novo do Bim. Cibim é professor técnico na Universidade de São Paulo (USP), reconhecido como o quarto no Brasil na área de patologia. Disposto a entrar no papo, arrastou uma cadeira e aterrissou de copo e garrafa em nossa mesa, e ali danou a falar da sua profissão. Olha só, a gente ali, mandando ver aquele torresmo sequinho, bolinho de bacalhau, daí misturamos tudo com o Cibim falando como abrir um corpo humano para estudos dos futuros médicos.
Lógico que o papo estava tão interessante que eu e Tião aproveitamos para matar curiosidades. De cara, perguntamos a ele quais os procedimentos quando um corpo chega até eles para estudos. Cibim, cheio de autoridade no assunto, disse que eles injetam um liquido conservante que tem o nome técnico de fixador, cuja base é o formol, na artéria femural do cadáver. O conservante percorre o corpo todo, depois o mergulham em um tanque do mesmo liquido, e ali o deixam por no mínimo um ano para depois passar a usá-lo.
Ele disse que tem corpo lá com mais de 30 anos e em perfeito estado. Cibim desfilou todo seu conhecimento sobre detalhes do corpo humano e eu fiquei de cara: onde cortar, como cortar, localização de veias e músculos, poxa, como ele sabe das coisas. Essa tremenda aula mereceu um brinde e mais tira-gosto e Cibim arrematou: “É, Buenão, nossa anatomia é a coisa mais linda, amigo...”
Por falar em defunto, continuei o papo e lembrei-me do Gersinho, que hoje trabalha na Secretaría Municipal de Planejamento. Certa vez, arrumou emprego numa funerária e entre suas funções estava a de arrumar o morto no caixão. Fiquei admirado, pois ele era muito medroso e agora ia mexer com morto!!! Um belo dia, chegou uma velhinha magrinha para ele dar um trato, ela tinha morrido de braços abertos, e como havia passado muito tempo, seus nervos estavam rígidos. Foi uma batalha cruzá-los sobre o peito.
Com muita luta, ele conseguiu amarrar as mãos da senhora, cruzando-as sobre seu corpo naquela famosa posição de morto. Gersinho virou-se para pegar algumas flores afim de enfeitá-la e, não sabe como, as mãos dela escapuliram dando-lhe um tremendo tapa nas costas... ele levou o maior susto de sua vida, saiu na maior correria sem olhar pra trás e nem voltou na funerária pra receber o salário. Gersinho é gente fina, é meu afilhado e grande músico.
Outro dia vi na TV uma matéria sobre profissões que pouca gente sabe que existem, uma delas é a de maquiadora de defunto... A moça se dizia superfeliz, pois faz a alegria das famílias num momento tão difícil. Arrumar homem é simples, disse ela, mas mulher requer mais técnica, ela arruma os cabelos, faz as sobrancelhas, passa base e baton, deixando-as tão bonitas que até parece que estão indo para uma grande festa (rsrsrsr). E olha que o cachê vale a pena, arrematou
Histórias... Temos muitas...
 
* Cantor e compositor

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