sábado, 14 de setembro de 2013

Ela não quer ser avó

Bueno *
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com
 
Um amigo músico, de São Paulo, me ligou dizendo que seria avô pela primeira vez. Dei-lhe os parabéns avisando que ele entraria numa fase maravilhosa de sua vida, pela qual já passei duas vezes. Ele, meio que chateado, disse: “Buenão, em casa o bicho tá pegando porque minha mulher não quer ser avó”.
“O quê?! Ela não que ser avó?! Por que, amigo”, perguntei. “É, Buenão, ela entrou em crise, só chora, não quer sair de casa, tá se achando velha, dizendo que ser avó é coisa pra gente de idade mais avançada, de cabelos brancos e coisa e tal...”
“Que que é isso, amigão, diga a ela que os tempos mudaram com a velocidade da internet, tenho amigos e parentes que foram avós com 35, 40 e ela está entre os 40 e os 50. Te garanto que ela vai curtir muito mais os netos agora do que com certa idade, quando estiver sem pique.”
“Olha”, disse eu, “vou escrever algumas experiências que tive e tenho pra você mostrar a ela, quem sabe posso ajudar. “ E assim o fiz...
“Ser avô é ser pai com açúcar...” Esta frase está rodando na internet e ela me cabe perfeitamente, é a minha medida, pois sou um açucarado avô de dois netos, Luiz Roberto e Kauã, um com 17 e outro com três anos, e minha vida é adoçá-los de carinho, amor, de incentivo, aguçando neles a criatividade.
Como não conheci meus avós masculinos, cresci sem que meus lábios pronunciassem a palavra que não me canso de ouvir dos meus netos... “vovô”. Soa como música nos meus ouvidos, conheci apenas minhas duas avós, Maria e Francisca, convivi e as amava, mas não tive o prazer de ouvir do meu avô as histórias que hoje conto e que povoam a cabecinha de Kauã.
Como compositor, para Luiz Roberto fiz três músicas e para Kauã já fiz duas. Este é um grude comigo, adora fazer tudo que faço, sua vida é cantar e se imaginar num palco tocando algum instrumento. Veja essa: ele tinha dois anos e pouco e uma noite chegou em minha casa com os pais, meu violão estava fora do estojo e meu cavaquinho num canto, também sem sua capa. Pois ele o colocou na capa e eu só vendo aquela mãozinha e aqueles dedinhos tão frágeis tentando fechar o zíper. Com minha ajuda conseguiu.
Depois pegou meu violão e enfiou no estojo também, dei-lhe suporte, fechou as presilhas, eu vendo tudo e me deliciando. Daí ele pôs um de meus chapéus e, segurando o cavaquinho, fazendo-me pegar o violão, arrastou-me pela mão rumo à porta de saída, dizendo: “Vovô, vamos pro show”. preciso dizer que me derreti todo. Seu jeito ali era como o de um artista saindo para sua apresentação.
Tem dias que Kauã chega em minha casa super elétrico, aí, amigo, haja energia para acompanhá-lo. O  que ele mais gosta de fazer é montar um pequeno palco que, na sua cabecinha, imagino ganhar proporções gigantescas. Arma meu microfone, tira outro violão que tenho do suporte e coloca meu cavaquinho ali – ele diz ser seu violãozinho – e ali mesmo solta a voz. E é sempre a mesma canção, que canta repetidas vezes.
Outras vezes coloca meus violões lado a lado, no tapete da sala, perto de meu cavaquinho, e daí diz, apontando para os instrumentos: “Papai, mamãe e Kauã”. Outras vezes me faz construir uma cabana com cadeiras e lençóis e ali invado seus sonhos e sou criança com ele, daí brincamos muito. Quando ele se despede dizendo “tchau vovô”, é justamente naquele momento em que estou quase que jogando a toalha de cansaço. Após sua saída, a casa fica um silêncio só, fica um vazio, uma espécie de alívio, mas meu coração querendo mais e fica cheinho de desejo contando os dias em que ele virá novamente pra brincar de vovô comigo.
E assim vou vivendo minha deliciosa vida de avô, aproveito o máximo todos os momentos pois sei que é um presente de Deus, a vida voa e logo ele estará em outro estágio e não vai mais querer saber do avô, como já aconteceu com o mais velho, e que o coração deste vovô fica na torcida para seu sucesso profissional.
Mostre a ela, amigo, tomara que possa lhe ajudar.
 
* Cantor e compositor

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