sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Dezessete de agosto

Bueno *
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Já faz oito anos. Dezessete de agosto, para muitos, é um dia como outro qualquer, mas pra mim esta data é terrível, pois foi nesse dia, oito anos atrás, que meu adorado filho viajou. Digo viajou porque estamos aqui de passagem e é certeza que um dia vamos nos encontrar no plano superior para matarmos saudades recíprocas.
Na época, amigos diziam que eu e minha esposa, com o tempo, passaríamos a sentir uma saudade gostosa. Oito anos se foram e ainda não sentimos esta tal saudade gostosa, acho até que ela não existe. Pessoas queridas, na intenção de nos dar colo, usavam esse argumento. Mas saudade será sempre saudade. Chico Buarque escreveu uma frase na sua música Angélica que retrata muito bem tudo que escrevi: “Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. Essa música foi feita para a estilista Zuzu Angel, que teve seu filho morto pela ditadura.
Quando vejo na TV notícias sobre acidentes fatais envolvendo jovens, me vem na hora uma vontade louca de voar até o papai e a mamãe que estão vivendo o que vivi e procurar passar-lhes alguma forma de consolo, pois sei o quanto é difícil este momento, só quem viveu pode avaliar.
Muito me ajudou o fato de eu ter certo conhecimento espiritual, por ler muito e até conviver com dois grandes espíritas, Tio João e Sócrates. Alimentava a vontade de visitar Chico Xavier na esperança de receber dele uma mensagem psico­grafada vinda de Lucas, como recebeu a saudosa atriz Nair Belo e também o ribeirão-pretano Renê Strambi, mas também sabia que era necessário ter paciência.
Um ano e seis meses após a partida de meu filho, recebo uma ligação do meu grande amigo, também espírita, Walter Fabris perguntando se ele podia falar comigo pessoalmente, dizendo que sua esposa, a médium Marli Fabris, havia recebido uma mensagem e eles queriam saber se era de meu filho Lucas. Lógico que eles já sabiam ser dele, mas queriam me preparar para este momento já prevendo minha emoção. Quando Walter me entregou as folhas, minhas mãos tremiam muito, meu coração descompassou e fui lendo cada letra, cada palavra, cada frase ali escrita de uma forma muito inteligente.,
Parecia vê-lo dando-me conselhos, como maneirar na cerveja que estava passando dos limites – lógico que o obedeci e até hoje estou maneiro –, disse que todos deveriam tomar conhecimento de religiões esclarecedoras – e isso lhe fez falta lá –, disse que com o tempo iria entender que seu tempo foi aquele em que viveu e que ninguém fica um segundo a mais do seu aqui na terra... Mudei minha vida.
Um ano e três meses depois ele enviou outra mensagem, também pelas mãos de Marli Fabris, em que agradecia a mim e minha esposa por recebê-lo como filho, mesmo sabendo pelo que íamos passar. Entendi o que ele quis dizer, agradeceu-me por ouvir seus conselhos, disse que onde está estuda música e que ela é diferente da nossa, fala de saudade e da chegada de meu netinho Kauã, hoje com quase quatro anos, e outras coisas lindas.
Em janeiro de 2010, passei por uma grave cirurgia para a retirada de dois tumores malignos e um mês depois, já restabelecido, fui ao centro espírita do Tio João, onde frequento faz 18 anos, e vi a médium Claudia Ferraz escrevendo e entregando uma carta para sua irmã, a advogada Sueli Ferraz, que ao ver a assinatura, disse: “Bueno... É uma mensagem do Lucas.” Sob forte emoção li sua escrita sobre minha cirurgia (poucos sabiam dela), disse que eu teria de passar por ela, mas para não me preocupar que o manto de nossa Mãe Santíssima estaria me protegendo, e que eu tenho ainda muita essência para passar ao próximo.
Em março passado, numa terça-feira, Lucas enviou outra mensagem através da médium Neusa Baldin, essa endereçada a mamãe Sonia, linda mensagem. Tio João, um dos maiores espíritas que conheci, viajou faz um mês e em dezembro passado, através dele, Lucas deixou um recado para seu irmão Paulo, meu filho mais velho, que prova o quanto ele está presente sem ser visto.
Sinto Lucas do meu lado em tudo que faço, em tudo que escrevo e canto, e ele pede que eu continue cantando porque a música é também uma forma de oração. Lucas, meu filho, desculpe o papai por lembrar desta data, a data de sua partida, mas ela é muito forte... Desculpe filhão, te amo cada vez mais meu filho, um beijo deste saudoso pai.
 
* Cantor e compositor

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