sábado, 28 de abril de 2012

Euclides: o piloto que voava...



* Bueno
buenocantor@terra.com.br
www.buenocantor.blogspot.com

A vida vai colocando em nosso caminho pessoas que, com a convivência, passamos a ter um carinho tamanho que chegamos a sentir falta se ficarmos algum tempo sem nos encontrarmos. É o que acontece com esse casal megaquerido, Mozart e Vera Figueiredo.
Convidados por eles, eu e minha “primeira-dama” Sonia fomos a um regabofe com cantoria por eles organizado. Era pra levar meu inseparável violão, pois tinham convidado também alguns amigos, todos com mais de 50, e até recomendaram: “Buenão, queremos que você cante Ereção.” É uma paródia que canto, composta em cima da música Conceição, imortalizada na voz de Cauby Peixoto. A parodia começa assim: “Ereção, eu me lembro muito bem...”
Olha, amigos, onde a gente canta essa música o sucesso é absoluto! Pois bem, numa destas animadas cantorias, conheci dois pilotos de avião, Walter e Euclides.
Walter tinha acabado de se aposentar como piloto de Boieng da TAM e hoje trabalha em Belo Horizonte para um grande empresário. Euclides já tinha parado há mais tempo, até porque, na época tinha mais de 70.
Bem, mas vamos ao Euclides. Dia destes, no Recanto Del Lama, estávamos reunidos esperando por uma deliciosa baca­lhoada, carinhosamente preparada pelas mãos de Vera, Sofia e Silvana, quando Luizinho, filho de Vera e Mozart, me disse: “Buenão, as histórias do Euclides dá várias crônicas”. Arrastei minha cadeira para perto dele e o velho piloto, hoje com 87 anos, começou contar suas aventuras aéreas. Disse ele ser um dos 13 filhos de fazendeiro e que desde criança não se adaptara ao trabalho na roça,  sua vida era desenhar e fazer pequenos aviões, seu mundo era esse e ponto.
O pai dele vivia tirando de sua cabeça essas ideias mirabolantes, mas Euclides esperou completar 18 anos e, então, disse ao pai que iria, literalmente, “voar” atrás de seu sonho. E foi.
Com parte do dinheiro que seu velho lhe deu, fez curso de aviador e passou a ser mais um piloto no ar! O primeiro avião que pilotou tinha asa e corpo de tecido. Tecido, como assim?? Perguntei admirado e curioso! Ele disse: “Ora, Buenão o 14-Bis também era de tecido, só que meu avião era de um tecido super-reforçado e tratado especialmente para não encharcar com a chuva”.
Euclides pilotou todo tipo de avião e não morreu, e também nunca passou por uma situação perigosa, segundo ele, embora seu pai vivesse lhe pregando medo...
Contou histórias da Amazônia, de garimpos, de transportar artistas, disse também que no Museu da Aviação, em Bebedouro, está pendurado um avião vermelho que foi seu “companheiro do ar” por muito tempo.
Entre tantas aventuras suas, escolhi para encerrar essa história um voo que ele fez de Araçatuba para Catanduva. O piloto falou que resolveu fazer um voo “espanta macaco”, sobre as copas das árvores. Euclides falou que, ao pousar em Catanduva, estava engarranchado no trem de pouso um emara­nhado de mais de trezentos metros de fios de telefone, que sem perceber levou no peito... Isso, claro, deixou sem telefone todas as cidades entre Catanduva e Araçatuba, além de deixar polícia e prefeitos loucos, querendo saber quem cometeu tamanha “arte”. Não foi difícil descobrir o autor. Hoje, o próprio conta e dá boas risadas.
Ao velho piloto, esse apaixonante ser, Euclídes, aqui vai todo meu carinho e o meu desejo e privilégio de ouvir mais histórias. Basta apenas uma mesa, duas cadeiras, coração e ouvidos bem abertos para um bom papo!!

* Cantor e compositor

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