Bueno *
Dia desses acordei,
fiz minhas orações e de repente veio em minha mente a imagem do meu querido
amigo Eurípedes Apolinário, radialista, apresentador de TV e responsável pelo
sucesso de inúmeras duplas sertanejas. Mas, como diz outro querido amigo,
Rolando Boldrin, Compadre Apolinário viajou antes do combinado, em 2 de maio
passado fez dois anos que ele nos deixou. Sempre digo que Deus tem sido muito
bom pra mim colocando em meu caminho pessoas maravilhosas e de coração puro, e Apolinário
foi um deles.
Eu era guarda
rodoviário, ele sempre parava comigo nas estradas e a gente batia aquele papo,
sempre sobre música que é uma das minhas paixões. Num domingo, lembro-me bem,
ele e sua caravana de artistas sertanejos regionais voltavam de um show na
cidade de Pitangueiras e pararam na base da Polícia Rodoviária de Sertãozinho
para uma água. Por acaso lá estava eu trabalhando.
Neste dia conheci
os Irmãos Moreno, que durante a semana eram pedreiros, mas aos sábados e
domingos aquelas mãos calejadas pelo árduo trabalho de amassar reboque
carinhosamente abraçavam suas violas, e com perfeitas duas vozes, cantavam por
aí o melhor de Tião Carreiro & Pardinho. Junto deles também estava André
Bueno, um menino ainda de apenas nove anos de idade e que já tocava violão e
acordeom e também cantava. Hoje um vitorioso empresário com seu maravilhoso
estúdio, André fala de Apolinário com carinho e saudades também.
Apolinário tinha um
programa na Rádio 79 que chamava “Afinando a Viola”. A audiência era tamanha
que, naquela época, qualquer dupla, se quisesse alcançar sucesso, tinha que
passar pelas mãos deste protetor e promotor de artistas. Com ele não tinha esse
negócio do famigreado “jabá”, não, que é o responsável pelo sumiço de músicas
de qualidade, tanto na área sertaneja quanto na MPB.
Nos dias de hoje,
dois sujeitos lá de Goiás se juntam, gravam um CD, vestem uma roupa de grife,
alguém banca, lotam um caminhão de dinheiro e despejam nas rádios, que tocam
suas músicas dia e noite, fazendo assim a maior lavagem cerebral que já ouvi.
Daí nossos jovens entram na onda e acontece de mais um lixo musical sufocar
mais ainda a boa música.
Ao lado de um
grande homem sempre está uma grande mulher e ele tinha esta mulher, Lina
Dornela, que estava com ele pro que der e vier. Tiveram um filho, Thiago, hoje
médico psiquiatra formado pela Universidade de Sâo Paulo (USP). Lembro-me bem
do dia em que Thiago passou no vestibular, a alegria do radialista era tanta
que contagiou a todos da Radio 79 e da TV Thathi, onde eu também tinha um programa,
o“Canta Ribeirão”.
Apolinário também
apresentava um programa na TV Record de Franca e convidou-me pra cantar. Lá
fui eu cantar “Pingo D’água”, gravação de Tonico & Tinoco. Nesta noite chegou
também pra cantar uma jovem e desconhecida dupla de Brotas, era a primeira
apresentação deles na TV, começava ali a carreira de João Paulo & Daniel.
Mais uma vez, tinha que ser pelas mãos de Compadre Apolinário, que já havia
alavancado as carreiras de Chitãozinho & Chororó – até hoje, em seus shows,
fazem agradecimento ao velho apresentador –e de Leandro & Leonardo.
Fui visitá-lo numa
tarde na Rádio 79 e o apanhei dando enorme risada. Estava com um LP de
Milionário & José Rico nas mãos e ao me ver, disse: “Buenão, veja só a rima
que o Zé Rico me arrumou... Quando acordei não te vi, que ‘desespeiro’, minhas
lágrimas molharam a fronha do meu travesseiro”. Aí Zé Rico escorregou no
português. Ri um bocado com ele, este “desespeiro” era a razão de seu riso. Foi
sua criação também a Orquestra de Viola Caipira Mistura Boa, aqui em Ribeirão
Preto, com o violeiro Augusto na batuta. É como disse o poeta: “O nome a obra
imortaliza”. Meu querido amigo Eurípedes Apolinário, você deixou marcas...
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Cantor e compositor
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