sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Compadre Apolinário, saudades do amigo

Bueno *
Dia desses acordei, fiz minhas orações e de repente veio em minha mente a imagem do meu querido amigo Eurípedes Apolinário, radialista, apresentador de TV e responsável pelo sucesso de inúmeras duplas sertanejas. Mas, como diz outro querido amigo, Rolando Boldrin, Compadre Apolinário viajou antes do combinado, em 2 de maio passado fez dois anos que ele nos deixou. Sempre digo que Deus tem sido muito bom pra mim colocando em meu caminho pessoas maravilhosas e de coração puro, e Apolinário foi um deles.
Eu era guarda rodoviário, ele sempre parava comigo nas es­tradas e a gente batia aquele papo, sempre sobre música que é uma das minhas paixões. Num domingo, lembro-me bem, ele e sua caravana de artistas sertanejos regionais voltavam de um show na cidade de Pitangueiras e pararam na base da Polí­cia Rodoviária de Sertãozinho para uma água. Por acaso lá estava eu trabalhando.
Neste dia conheci os Irmãos Moreno, que durante a semana eram pedreiros, mas aos sábados e domingos aquelas mãos calejadas pelo árduo trabalho de amassar reboque carinhosamente abraçavam suas violas, e com perfeitas duas vozes, cantavam por aí o melhor de Tião Carreiro & Pardinho. Junto deles também estava André Bueno, um menino ainda de apenas nove anos de idade e que já tocava violão e acordeom e também cantava. Hoje um vitorioso empresário com seu maravilhoso estúdio, André fala de Apolinário com carinho e saudades também.
Apolinário tinha um programa na Rádio 79 que chamava “Afinando a Viola”. A audiência era tamanha que, naquela época, qualquer dupla, se quisesse alcançar sucesso, tinha que passar pelas mãos deste protetor e promotor de artistas. Com ele não tinha esse negócio do famigreado “jabá”, não, que é o responsável pelo sumiço de músicas de qualidade, tanto na área sertaneja quanto na MPB.
Nos dias de hoje, dois sujeitos lá de Goiás se juntam, gravam um CD, vestem uma roupa de grife, alguém banca, lotam um caminhão de dinheiro e despejam nas rádios, que tocam suas músicas dia e noite, fazendo assim a maior lavagem cerebral que já ouvi. Daí nossos jovens entram na onda e acontece de mais um lixo musical sufocar mais ainda a boa música.
Ao lado de um grande homem sempre está uma grande mulher e ele tinha esta mulher, Lina Dornela, que estava com ele pro que der e vier. Tiveram um filho, Thiago, hoje médico psiquiatra formado pela Universidade de Sâo Paulo (USP). Lembro-me bem do dia em que Thiago passou no vestibular, a alegria do radialista era tanta que contagiou a todos da Radio 79 e da TV Thathi, onde eu também tinha um programa, o“Canta Ribeirão”.
Apolinário também apresentava um programa na TV Re­cord de Franca e convidou-me pra cantar. Lá fui eu cantar “Pin­go D’água”, gravação de Tonico & Tinoco. Nesta noite che­gou também pra cantar uma jovem e desconhecida dupla de Brotas, era a primeira apresentação deles na TV, começava ali a carreira de João Paulo & Daniel. Mais uma vez, tinha que ser pelas mãos de Compadre Apolinário, que já havia alavancado as carreiras de Chitãozinho & Chororó – até hoje, em seus shows, fazem agradecimento ao velho apresentador –e de Leandro & Leonardo.
Fui visitá-lo numa tarde na Rádio 79 e o apanhei dando enorme risada. Estava com um LP de Milionário & José Rico nas mãos e ao me ver, disse: “Buenão, veja só a rima que o Zé Rico me arrumou... Quando acordei não te vi, que ‘desespeiro’, minhas lágrimas molharam a fronha do meu travesseiro”. Aí Zé Rico escorregou no português. Ri um bocado com ele, este “desespeiro” era a razão de seu riso. Foi sua criação também a Orquestra de Viola Caipira Mistura Boa, aqui em Ribeirão Preto, com o violeiro Augusto na batuta. É como disse o poeta: “O nome a obra imortaliza”. Meu querido amigo Eurípedes Apolinário, você deixou marcas...

* Cantor e compositor

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