Bueno *
Faz alguns anos, eu
estava em Camboriu (SC) e, depois de uma linda tarde, num delicioso bar à beira
mar, ouvi pela primeira vez, com Renato Russo e banda, sua música “Pais e
filhos”. Desliguei-me do papo dos amigos e me concentrei na letra, até viajei
em tudo que ele cantava, senti até pena em alguma parte do que ele escreveu, me
coloquei menino em seu lugar, principalmente quando diz “quero colo, vou fugir
de casa. Posso dormir com vocês, estou com medo, tive um pesadelo, só vou
voltar depois das três...”
Diz também que
já morou em tantas casas que nem se lembra mais. “Eu moro com minha mãe,
mas meu pai vem me visitar” Esta parte da letra é uma pancada no peito, é muito
triste... Foi um dos maiores sucessos de Renato Russo, grande poeta e
compositor, e essa música se identificava com muitos jovens de qualuer época.
Eu vejo hoje a
situação de alguns amigos e suas histórias, suas relações com seus filhos, daí
resolvi escrever esta crônica, começando com a canção de Renato Russo. Um
destes amigos descobriu que seu filho, ainda adolescente, estava envolvido com
drogas, na época maconha. É a porta de entrada para outros entorpecentes mais
letais, e não adianta ninguém querer me convencer do contrário.
Quando via o filho
deste amigo usando camisetas do Bob Marley com desenhos de folhas de maconha,
até comentei com ele sobre o perigo. Disse que maconha é coisa fraca e que ele
logo deixaria o vício. Temos organismos diferentes e não deu outra, se para ele
maconha era droga fraca, seu filho também achava e partiu pra cocaína, depois
crack e hoje, com mais de 30 anos, este jovem a quem me refiro já passou por
dezenas de internações. Tudo isso depois de desestruturar a família, até o
carro do pai roubou pra pagar dividas de seus vícios. Continuo vendo a luta de
seus pais e torço para que ele se encontre.
Outro dia, lendo
uma postagem no Facebook do meu afilhado Júlio Cesar, que é músico do Sambô
(sucesso nacional), ele comentou que foi gravar com um amigo de São Paulo uma
música sobre pai e ficou super-emocionado, daí contou que seu pai, Paulo
Sérgio, faleceu quando ele tinha meses de idade. Júlio escreveu palavras tão
carinhosas sobre seu querido pai, que em vida não pode acompanhá-lo, até
parecia que o fato não acontecera de tão presente que seu pai ainda é em sua
vida.
Júlio Cesar foi
criado pela avó, pois a mamãe Conceição tinha que dar duro no batente. Conheci
Júlio Cesar ainda menino, fiquei sabendo que ele era de Serrana, cidade vizinha
de Ribeirão Preto, e que desde pequenino não escondia sua paixão pela música. Teve
aulas de violão com o saudoso Zé da Conceição e de cavaquinho com Carlinhos
Machado. Eu acompanhei de perto sua carreira, grandes artistas o queriam como
músico, propostas mil para acompanhá-los, mas Deus sempre age e lhe preparou um
futuro lindo, alguém o guiava, com certeza era seu velho pai, e o momento certo
aconteceu com o Sambô. Como amo este menino, o tenho como filho, e pra mim será
sempre um menino.
Quero agora falar
de um amigo muito querido que teve vários casamentos, vários filhos, e entre eles
um se envolveu com drogas e o mundo do crime, está sempre preso. Quando sai da
cadeia, seu pai, que é bem relacionado na cidade, lhe consegue emprego, mas ele
sempre pisa na bola, não tem jeito. Este meu amigo, dia desses, em lágrimas me
confidenciou: “Buenão, veja como são as coisas, meu filho agora está preso
perto de Bauru, mas de todos os filhos que tenho, ele é o único que me telefona
e sempre me pede perdão, pede a minha benção, é o único que me fala ‘pai, eu te
amo’.” Emocionado, o abracei carinhosamente... E quantas histórias como estas
tenho pra contar, quantas...
*
Cantor e compositor
Nenhum comentário:
Postar um comentário